MPB: A história que o Brasil não conhece
A Música Popular Brasileira acabou. E a responsável por isso é uma Corporação Secreta norte-americana incomodada com o sucesso que nossos artistas vinham fazendo lá fora. Aos poucos, eles foram infiltrando agentes secretos no meio musical brasileiro que foram minando a nossa criatividade e capacidade de criar obras eternas. Neil Jackman escreveu um livro polêmico onde denunciava o esquema em detalhes, o quase desconhecido “Firewood Operation”. Pouca gente deu importância, mas André Moraes resgatou essa história para que a "verdade" viesse à tona.
Claro que o parágrafo acima é uma ironia. Na realidade, MPB: A história que o Brasil não conhece é um mockumentary, um falso documentário que simula a revelação da conspiração através de depoimentos de artistas diversos sempre em tom irônico e sarcástico. Destaque para o crítico cinematográfico e musical João Carlos Sampaio que é o principal comentarista do curta-metragem e nos traz momentos impagáveis como a defesa do artista Toninho Swingue e sua belíssima letra "ê papai, ê papai, ê papai, ê papai, mainha". Ou ainda quando ele nos revela aquilo que não está no livro, a tentativa da Nike de patrocinar Luiz Caldas, e por isso, o artista só canta descalço em protesto e sinal de integridade.
A execução do mockumentary é bastante simples. Apenas depoimentos, com cortes secos e alguma inserções pontuais. Mas, o texto irônico é o grande diferencial. A forma como, através de uma história absurda, a crítica à atual situação da nossa música vai sendo formada é muito bem realizada. As sutilezas nas citações das traduções, da forma como os grupos vão sendo formados e pessoas que não são cantores vão gravando discos é muito boa. Afinal, é uma piada mesmo que um Pelé, por exemplo, já tenha feito música infantil. "ABC, ABC, toda criança tem que ler e escrever". Alguém lembra?
Claro, que como toda crítica sarcástica há o exagero. Ainda que não sejam artistas que me encantem comparar Humberto Gessinger e Oswaldo Montenegro a Cumpadre Washington é mesmo complicado. E as músicas do grupo Balão Mágico não deixam de ser elaboradas e grandes artistas como Djavan já fizeram participações nelas. Mas, é na sutileza das piadas que a coisa ganha significado. Principalmente nos entrevistados. O depoimento de Sérgio Mallandro mesmo, é muito bom. E ainda tem os detalhes, como Jairzinho falando vestido com uma camisa que traz a foto de seu pai, Jair Rodrigues. Ou o sumido Toninho Swingue (do ê papai) com uma camisa de O Destino de Miguel, outra grande brincadeira.
MPB: A história que o Brasil não conhece é daqueles filmes que fazem rir, mas também fazem pensar. Pensar em nossos valores, em nossos caminhos, em nossas escolhas. Não sou crítica musical, e também não acho que o país só produz lixo atualmente. Há letras e letras. Mas, a Música Popular Brasileira, ou seja, aquela que mais tocava nas rádios e mais vendia discos, independente da classificação da indústria, já teve mesmo, muito mais poesia.
Aqui o filme disponibilizado pelo próprio diretor na íntegra (agradeço à dica de Wicttor Picanço). São apenas 17 minutos, divirtam-se. E pensem...
MPB: A história que o Brasil não conhece
Diretor: André Moraes
Roteiro: André Moraes, Luciano Santanna
Argumento: André Moraes e Rafael Greyck
Produção: André Moraes
Claro que o parágrafo acima é uma ironia. Na realidade, MPB: A história que o Brasil não conhece é um mockumentary, um falso documentário que simula a revelação da conspiração através de depoimentos de artistas diversos sempre em tom irônico e sarcástico. Destaque para o crítico cinematográfico e musical João Carlos Sampaio que é o principal comentarista do curta-metragem e nos traz momentos impagáveis como a defesa do artista Toninho Swingue e sua belíssima letra "ê papai, ê papai, ê papai, ê papai, mainha". Ou ainda quando ele nos revela aquilo que não está no livro, a tentativa da Nike de patrocinar Luiz Caldas, e por isso, o artista só canta descalço em protesto e sinal de integridade.
A execução do mockumentary é bastante simples. Apenas depoimentos, com cortes secos e alguma inserções pontuais. Mas, o texto irônico é o grande diferencial. A forma como, através de uma história absurda, a crítica à atual situação da nossa música vai sendo formada é muito bem realizada. As sutilezas nas citações das traduções, da forma como os grupos vão sendo formados e pessoas que não são cantores vão gravando discos é muito boa. Afinal, é uma piada mesmo que um Pelé, por exemplo, já tenha feito música infantil. "ABC, ABC, toda criança tem que ler e escrever". Alguém lembra?
Claro, que como toda crítica sarcástica há o exagero. Ainda que não sejam artistas que me encantem comparar Humberto Gessinger e Oswaldo Montenegro a Cumpadre Washington é mesmo complicado. E as músicas do grupo Balão Mágico não deixam de ser elaboradas e grandes artistas como Djavan já fizeram participações nelas. Mas, é na sutileza das piadas que a coisa ganha significado. Principalmente nos entrevistados. O depoimento de Sérgio Mallandro mesmo, é muito bom. E ainda tem os detalhes, como Jairzinho falando vestido com uma camisa que traz a foto de seu pai, Jair Rodrigues. Ou o sumido Toninho Swingue (do ê papai) com uma camisa de O Destino de Miguel, outra grande brincadeira.
MPB: A história que o Brasil não conhece é daqueles filmes que fazem rir, mas também fazem pensar. Pensar em nossos valores, em nossos caminhos, em nossas escolhas. Não sou crítica musical, e também não acho que o país só produz lixo atualmente. Há letras e letras. Mas, a Música Popular Brasileira, ou seja, aquela que mais tocava nas rádios e mais vendia discos, independente da classificação da indústria, já teve mesmo, muito mais poesia.
Aqui o filme disponibilizado pelo próprio diretor na íntegra (agradeço à dica de Wicttor Picanço). São apenas 17 minutos, divirtam-se. E pensem...
MPB: A história que o Brasil não conhece
Diretor: André Moraes
Roteiro: André Moraes, Luciano Santanna
Argumento: André Moraes e Rafael Greyck
Produção: André Moraes
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
MPB: A história que o Brasil não conhece
2013-05-05T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
André Moraes|cinema brasileiro|curtas|materias|
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