
Agora ele chega às telas pelas mãos de René Sampaio, fã confesso da música, e não faz feio. Uma adaptação, claro. Muita coisa mudou, principalmente na cronologia. Alguns detalhes foram suprimidos e outros acrescentados. Mudanças, principalmente nas nuanças das personalidades dos personagens. Algumas coisas mais interessantes da adaptação do roteiro é um embasamento maior para o triângulo João, Maria Lúcia e Jeremias.

Até por ter tantas sutilezas cinematográficas no filme, há o estranhamento de uma desnecessária voz over em momentos pontuais. É uma explicação em excesso que não precisaria e incomoda um pouco, principalmente quando ele sai de sua cidadezinha. Assim como, outras explicitações a exemplo da flor de madeira na janela de Maria Lúcia, e logo depois uma cena onde João faz mais uma, como se precisasse marcar que foi ele quem fez a primeira.

Fabrício Boliveira nos apresenta um João de Santo Cristo cheio de nuanças, como deve ser. Mas, um homem que tendemos sempre a entender, aceitar, desculpar de qualquer espécie de deslize. É o homem marginalizado, que nasceu em meio à seca, sofreu com o abuso do poder, tentou vencer na vida e sempre viu a violência e a corrupção o atravessando. Um brasileiro como qualquer um de nós. Ísis Valverde consegue uma excelente química com o companheiro de cena, acreditamos naquele casal, naquele amor, naquele sofrimento. E Felipe Abib fecha o triângulo de maneira instigante, principalmente, na parte final, quando podemos ver um Jeremias um pouco mais humano.

Faroeste Caboclo tem alguns problemas, uma certa perda de ritmo, é verdade, mas tem a força de uma história incrível. E uma história que vemos viva em tela, com momentos sublimes como uma conversa no lago, uma tensão no mato ou um duelo na Ceilândia, lote 14. Ainda que muito diferente da música, está lá com uma força incrível. Não por acaso, tudo começa e termina com ela. Como um sonho realizado, conhecemos, enfim, João de Santo Cristo, suas histórias e aqueles que conviveram com ele. E só por isso, já merece nossos aplausos.
Faroeste Caboclo (Idem, 2013 / Brasil)
Direção: René Sampaio
Roteiro: Victor Atherino, Marcos Bernstein e José de Carvalho
Com: Fabrício Boliveira, Isis Valverde, Antonio Calloni, Felipe Abib, Marcos Paulo, César Troncoso, Flávio Bauraqui e Caco Monteiro.
Duração: 100 min.