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Bling Ring: A Gangue de Hollywood
Bling Ring: A Gangue de Hollywood
A fama sempre fascinou o ser humano. Mais do que profissionais de sucesso, muita gente quer ser famoso e entrar para o hall dos ditos escolhidos. Pelo glamour, pelas facilidades, para se sentir especial. Normalmente essas pessoas se preocupam com a aparência e com marcas famosas. Foi investigando esse tipo de fascínio que a jornalista Nancy Jo Sales escreveu o artigo “The suspects wore louboutin” (os suspeitos usavam Louboutin), sobre uma gangue de jovens que teria invadido e assaltado casas de celebridades como Paris Hilton, Lindsay Lohan, Megan Fox e Orlando Bloom.
Jovens que não eram pobres ou precisavam roubar, mas que invadiam as mansões em busca da aproximação com os ídolos e com as marcas que desejavam. Era uma aventura, um desafio excêntrico. Uma forma de se sentir mais perto do objetivo de também conseguir a fama almejada. E vendo esse artigo que a diretora Sofia Coppola resolveu fazer o filme Bling Ring, que no Brasil ganhou o subtítulo: A Gangue de Hollywood. E não poderia haver diretora melhor para retratar caso são exótico. Afinal, Coppolinha sempre teve a fama e seus bastidores com um dos objetos mais caros de sua filmografia.
Ela impõe sua marca dentro da história ao construir essa imagem glamourosa da vida desses jovens inconsequentes. A forma de filmar as ações, a utilização da câmera lenta, com a música marcando os passos, a intimidade com que constrói os cenários das casas invadidas e das festas em Beverly Hills. A ambientação da vida fútil daquelas pessoas que vivem de esperar "acontecer" na mídia. Não são necessariamente as pessoas mais populares da escola, mas possuem contatos e constroem suas próprias redes de uma maneira que chama a atenção.
A gangue retratada no filme é composta por cinco jovens. Rebecca, a líder, interpretada por Katie Chang, é a mais fascinada pela fama. Conhece as celebridades e deseja estar perto delas. Seu ídolo maior é exatamente a conturbada Lindsay Lohan, que durante o filme é citada em diversos escândalos e prisões. O único homem da turma é Marc, papel de Israel Broussard, um cara aparentemente comum, um jovem que foi expulso do último colégio por faltar demais, acaba conhecendo Rebecca e se apaixonando por ela. Ele simplesmente se deixa levar por suas loucuras, sempre com medo, mas, ainda assim, também fascinado pela possibilidade de ficar com alguns dos objetos de marca. Nicki Moore, a personagem de Emma Watson, é uma patricinha que quer ser modelo e não tem nada na cabeça, mesmo sendo criada por uma mãe excêntrica que utiliza a filosofia do livro O Segredo. Já sua irmã adotiva, Sam, interpretada por Taissa Farmiga simplesmente é levada por ela, uma chamada "maria vai com as outras". E por fim, Chloe, personagem de Claire Julien, que parece ser a mais velha da turma. Uma mulher com contatos suficientes para repassar as mercadorias e que também tem alguns contatos da fama.
Diante de um quadro real que assombrou os Estados Unidos, principalmente pela facilidade com que esses jovens amadores entravam nas casas, e um artigo investigativo, Sofia Coppola tem o desafio de construir um roteiro que nos conduz nessa história extravagante e ao mesmo tempo criminosa. E é interessante as escolhas que a diretora e roteirista faz. Ela nos apresenta uma espécie de prólogo com a invasão da casa de Orlando Bloom e Miranda Kerr, pois foi lá que eles foram flagrados pela primeira vez em uma câmera de segurança. Temos um depoimento irônico de Nicki Moore (Emma Watson) dizendo que quer chegar a ser presidente dos Estados Unidos e voltamos no tempo para ver como tudo começou. Ou seja, na abertura, Coppola já nos mostra que aquilo tem consequências e que, apesar de Rebecca ser a líder, devemos ficar de olho em Nicki. Dessa maneira, ela parece se sentir à vontade para desenvolver as ações do roubo sem um olhar de condenação ao ato. Nos fazendo viajar na ilusão da fama que os jovens tem, para só no terceiro ato retornar às consequências. E curiosamente, é nessa parte que o filme acaba perdendo um pouco o ritmo, se tornando picotado e parecendo querer dar conta de tudo ainda na narrativa para não ter aquele velho recurso de final de filme baseado em história real, onde um texto dá o destino de cada personagem.
De qualquer maneira, a essência do filme Bling Ring: A Gangue de Hollywood está nessa construção estética desse mundo de celebridades e invasões. É impressionante como tudo parece tão fácil, ao ponto de uma chave embaixo do carpete dar acesso a uma mansão onde esconde-se milhões em produtos e jóias. É interessante como a música é um elemento que ajuda na construção estética desse glamour e ilusão. Uma batida forte, envolvente, que guia os passos dos personagens, a distração nas baladas ou mesmo as inconsequências no carro. À medida que nos aproximamos do desfecho e a tensão vai crescendo, a música vai deixando de ser tão festiva. Na parte final, mesmo nas cenas na boate ou em novas invasões, o ritmo frenético vai sendo substituído por marcações mais pesadas, que por vezes, lembram até uma porta se fechando.
Os atores também conseguem nos passar bem esse mundo fútil e de valores invertidos. É inevitável destacar Emma Watson, em uma reconstrução de imagem após anos como a Hermione de Harry Potter. Não é seu primeiro trabalho depois da franquia, nem mesmo o primeiro papel mais adulto. Porém, aqui a aura de "garotinha" está definitivamente enterrada. Principalmente, na virada final da personagem, já que Nicki Moore, como foi anunciado na apresentação do filme, é a personagem que mais se utiliza dessa situação para construir uma carreira, digamos assim.
Bling Ring: A Gangue de Hollywood não é, então, um filme com ares de obra-prima. Mas, Sofia Coppola nos apresentar de maneira bastante competente uma trama que nos dá uma dimensão do fascínio da fama e da maneira distorcida como as pessoas constroem seus próprios valores. Por mais que pareça que a diretora não quer condenar a atitude dos jovens, ao não aprofundar o tema nem mesmo as consequências, ela nos dá subsídios suficientes para observarmos o comportamento de cada um deles, inclusive a mudança de atitude e revelação de verdadeiro caráter quando tudo vem à tona. Não por acaso, ela começa o filme, apresentando as consequências.
Bling Ring: A Gangue de Hollywood (The Bling Ring, 2013 / EUA)
Direção: Sofia Coppola
Roteiro: Sofia Coppola, Nancy Jo Sales
Com: Katie Chang, Israel Broussard, Emma Watson, Claire Julien e Taissa Farmiga
Duração: 90 min.
Jovens que não eram pobres ou precisavam roubar, mas que invadiam as mansões em busca da aproximação com os ídolos e com as marcas que desejavam. Era uma aventura, um desafio excêntrico. Uma forma de se sentir mais perto do objetivo de também conseguir a fama almejada. E vendo esse artigo que a diretora Sofia Coppola resolveu fazer o filme Bling Ring, que no Brasil ganhou o subtítulo: A Gangue de Hollywood. E não poderia haver diretora melhor para retratar caso são exótico. Afinal, Coppolinha sempre teve a fama e seus bastidores com um dos objetos mais caros de sua filmografia.
Ela impõe sua marca dentro da história ao construir essa imagem glamourosa da vida desses jovens inconsequentes. A forma de filmar as ações, a utilização da câmera lenta, com a música marcando os passos, a intimidade com que constrói os cenários das casas invadidas e das festas em Beverly Hills. A ambientação da vida fútil daquelas pessoas que vivem de esperar "acontecer" na mídia. Não são necessariamente as pessoas mais populares da escola, mas possuem contatos e constroem suas próprias redes de uma maneira que chama a atenção.
A gangue retratada no filme é composta por cinco jovens. Rebecca, a líder, interpretada por Katie Chang, é a mais fascinada pela fama. Conhece as celebridades e deseja estar perto delas. Seu ídolo maior é exatamente a conturbada Lindsay Lohan, que durante o filme é citada em diversos escândalos e prisões. O único homem da turma é Marc, papel de Israel Broussard, um cara aparentemente comum, um jovem que foi expulso do último colégio por faltar demais, acaba conhecendo Rebecca e se apaixonando por ela. Ele simplesmente se deixa levar por suas loucuras, sempre com medo, mas, ainda assim, também fascinado pela possibilidade de ficar com alguns dos objetos de marca. Nicki Moore, a personagem de Emma Watson, é uma patricinha que quer ser modelo e não tem nada na cabeça, mesmo sendo criada por uma mãe excêntrica que utiliza a filosofia do livro O Segredo. Já sua irmã adotiva, Sam, interpretada por Taissa Farmiga simplesmente é levada por ela, uma chamada "maria vai com as outras". E por fim, Chloe, personagem de Claire Julien, que parece ser a mais velha da turma. Uma mulher com contatos suficientes para repassar as mercadorias e que também tem alguns contatos da fama.
Diante de um quadro real que assombrou os Estados Unidos, principalmente pela facilidade com que esses jovens amadores entravam nas casas, e um artigo investigativo, Sofia Coppola tem o desafio de construir um roteiro que nos conduz nessa história extravagante e ao mesmo tempo criminosa. E é interessante as escolhas que a diretora e roteirista faz. Ela nos apresenta uma espécie de prólogo com a invasão da casa de Orlando Bloom e Miranda Kerr, pois foi lá que eles foram flagrados pela primeira vez em uma câmera de segurança. Temos um depoimento irônico de Nicki Moore (Emma Watson) dizendo que quer chegar a ser presidente dos Estados Unidos e voltamos no tempo para ver como tudo começou. Ou seja, na abertura, Coppola já nos mostra que aquilo tem consequências e que, apesar de Rebecca ser a líder, devemos ficar de olho em Nicki. Dessa maneira, ela parece se sentir à vontade para desenvolver as ações do roubo sem um olhar de condenação ao ato. Nos fazendo viajar na ilusão da fama que os jovens tem, para só no terceiro ato retornar às consequências. E curiosamente, é nessa parte que o filme acaba perdendo um pouco o ritmo, se tornando picotado e parecendo querer dar conta de tudo ainda na narrativa para não ter aquele velho recurso de final de filme baseado em história real, onde um texto dá o destino de cada personagem.
De qualquer maneira, a essência do filme Bling Ring: A Gangue de Hollywood está nessa construção estética desse mundo de celebridades e invasões. É impressionante como tudo parece tão fácil, ao ponto de uma chave embaixo do carpete dar acesso a uma mansão onde esconde-se milhões em produtos e jóias. É interessante como a música é um elemento que ajuda na construção estética desse glamour e ilusão. Uma batida forte, envolvente, que guia os passos dos personagens, a distração nas baladas ou mesmo as inconsequências no carro. À medida que nos aproximamos do desfecho e a tensão vai crescendo, a música vai deixando de ser tão festiva. Na parte final, mesmo nas cenas na boate ou em novas invasões, o ritmo frenético vai sendo substituído por marcações mais pesadas, que por vezes, lembram até uma porta se fechando.
Os atores também conseguem nos passar bem esse mundo fútil e de valores invertidos. É inevitável destacar Emma Watson, em uma reconstrução de imagem após anos como a Hermione de Harry Potter. Não é seu primeiro trabalho depois da franquia, nem mesmo o primeiro papel mais adulto. Porém, aqui a aura de "garotinha" está definitivamente enterrada. Principalmente, na virada final da personagem, já que Nicki Moore, como foi anunciado na apresentação do filme, é a personagem que mais se utiliza dessa situação para construir uma carreira, digamos assim.
Bling Ring: A Gangue de Hollywood não é, então, um filme com ares de obra-prima. Mas, Sofia Coppola nos apresentar de maneira bastante competente uma trama que nos dá uma dimensão do fascínio da fama e da maneira distorcida como as pessoas constroem seus próprios valores. Por mais que pareça que a diretora não quer condenar a atitude dos jovens, ao não aprofundar o tema nem mesmo as consequências, ela nos dá subsídios suficientes para observarmos o comportamento de cada um deles, inclusive a mudança de atitude e revelação de verdadeiro caráter quando tudo vem à tona. Não por acaso, ela começa o filme, apresentando as consequências.
Bling Ring: A Gangue de Hollywood (The Bling Ring, 2013 / EUA)
Direção: Sofia Coppola
Roteiro: Sofia Coppola, Nancy Jo Sales
Com: Katie Chang, Israel Broussard, Emma Watson, Claire Julien e Taissa Farmiga
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Bling Ring: A Gangue de Hollywood
2013-08-01T08:00:00-03:00
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