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Entrevista Exclusiva com Vladimir Brichta

Vladimir Brichta - A Coleção InvisívelSexta-feira estreia o filme A Coleção Invisível, primeiro longa-metragem de Bernard Attal, baseado no conto de Stefan Zweig. No filme, o protagonista Beto é um promoter em Salvador que, após uma tragédia pessoal, vai ao interior da Bahia em busca de gravuras antigas de Cícero Dias que podem ser a salvação financeira de sua família. Lá, no entanto, ele encontra uma realidade que não podia imaginar e que vai, aos poucos, lhe ensinando mais sobre a vida.

O ator Vladimir Brichta, que dá vida ao personagem, veio a Salvador, para divulgação do filme e pudemos ter uma conversa com ele antes da pré-estreia no UCI Paralela. Vejam como foi.

Entrevista

CinePipocaCult: Queria começar perguntando um pouco sobre seu personagem, como foi a preparação, o convite?
Vladimir Brichta: O Beto é um personagem urbano, assim como eu. Crescido em Salvador. Ao contrário de mim, não conhece o interior da Bahia. Então, ele tem um olhar virgem, desinformado, ignorante mesmo sobre a Bahia e a realidade do cacau que ele acaba tendo contato. Ao contrário de mim, que cresci entre Salvador e Itacaré, conheço a região cacaueira. Acompanhei a vassoura de bruxa que é citada no filme. O grande vilão da história é a vassoura de bruxa. E o Beto tem a minha idade, quando eu fiz o filme (risos). Eu tento aproximar ao máximo, faz parte do processo do ator se apropriar do personagem e para isso a gente vai achando as semelhanças. Um cara de classe média, urbano, que tinha a minha idade e que ainda estendia de alguma forma uma imaturidade, uma irresponsabilidade na conduta da vida com a qual eu não me identifico. Eu acho que o filme trata disso, de um processo de amadurecimento lento e delicado do Beto. A trajetória de um cara que começa a enxergar para além do umbigo, mas sem uma transformação violentíssima. É como se ele estivesse míope e colocasse os óculos. Então, agora, ele vai se lançar ao mundo e vê-lo de uma forma diferente.

Vladimir Brichta - A Coleção InvisívelCPC: Você disse que conhecia bem o sul da Bahia, e Itajuípe, você conhecia?
V.B.: Itajuípe eu não conhecia. Conhecia Ilhéus, Itabuna, Itacaré que eu cresci lá. Frequentei fazendas da cacau, mas Itajuípe propriamente não. E é bacana falar disso, porque Itajuípe é um personagem também. Ele vai para a cidade. Desde o estranhamento: “Itajuípe? O que é isso?” “É uma cidade no sul da Bahia”. E é uma locação muito presente. Aquela geografia, aquele universo. As pessoas de Itajuípe, muita gente faz parte do elenco, inclusive o Wesley, que é o guia mirim que tenta ajudar de alguma forma meu personagem e fez muito bem o filme. Então, a cidade foi muito presente em tudo isso. A ponto de a gente estar no set com duzentas pessoas em volta, em silêncio, porque tem que gravar e ao final todo mundo aplaude. E todo mundo vira cúmplice, uma participação muito forte. Não é à toa que semana passada o filme foi projetado lá e tinha mais de duas mil pessoas assistindo.

Vladimir Brichta - A Coleção InvisívelCPC: Você tem uma carreira no teatro ligada ao drama, mas você ficou mais conhecido no Brasil por papéis cômicos. Como é voltar a fazer um personagem dramático como o Beto?
V.B.: O convite do Bernard foi um presente mesmo. Uma oportunidade de experimentar o drama no cinema. De voltar ao drama. A minha carreira começou aqui em Salvador fazendo teatro e fazendo dramas. Eu era um jovem ator dramático em Salvador. Fiz Ecos, Calígula, os dois com direção de Fernando Guerreiro. Premiado, inclusive. Fiz A Cara de Eros, que tinha vários trechos que já havia sido montado pela companhia de teatro da UFBA. Então, era um jovem ator dramático e as pessoas que me acompanharam nesse início de carreira me cobravam quando eu comecei a fazer muito humor. Só que quando eu comecei a fazer TV em 2001, eu entrei no núcleo cômico. Aí, fiz cinco novelas onde eu fazia parte do núcleo cômico. Depois fiz três programas de humor, sendo que esse último, estou no terceiro ano, que é Entre Tapas e Beijos. E todos os filmes que fiz antes desse são comédias. Ou seja, os dois meios que tem uma projeção muito maior que o teatro, eu fiz comédias. Mas, eu estava sentido falta de fazer o gênero, até porque eu sempre achei que fosse me tornar um ator dramático. Eu gostava, achava que fazia bem, era premiado e reconhecido por isso. Só que de repente a comédia foi ficando e eu levava jeito também. Até porque eu cresci vendo gênios da comédia, A Bofetada, Frank Menezes, Rita Assemani, Los Catedrásticos. Então, eu também tinha comédia em mim, com minhas referências. Mas, eu sentia falta do drama. Tanto que antes desse filme eu fiz uma peça chamada Hamelin, que era um drama. Aí, o Bernard viu a peça e me convidou para o papel. Eu li o roteiro, me emocionei e disse, eu preciso fazer esse filme.

Vladimir Brichta - A Coleção InvisívelCPC: A história te emocionou?
V.B.: Muito. Eu fui com muita vontade. Eu abri mão de outros projetos, outro filme, outras peças. O programa Tapas e Beijos estava começando, eu tive que negociar, uma coisa muito difícil que eu consegui adiar a minha entrada no programa em dois meses. Para isso, o autor teve que antecipar dois meses só da minha história, a produção teve que conseguir cenário, tudo pra mim antes do tempo. As pessoas dali foram muito generosas comigo para viabilizar que eu estivesse no programa. Porque eu disse que gostaria de estar no programa, trabalhar com aquelas pessoas, mas que tinha um filme que não tinha como eu não fazer. Eu tinha certeza daquilo. Porque quando eu li, eu me emocionei muito. E era a oportunidade também de um drama.

CPC: O filme acabou de ganhar em Gramado o Prêmio do público. E o cinema nacional vive agora um momento onde há muita comédia, porque dizem que comédia é que dá público. Só que um bom drama também pode dar público. O que você acha desse cenário?
V.B.: Pois é, o maior sucesso de bilheteria de todos os tempos no Brasil é Tropa de Elite 2, e definitivamente não é comédia. Claro, você dizer que é um drama e por isso, drama desperta mais interesse do público, não é verdade. Mas, o drama também pode comunicar. No cinema, a gente vive esse momento agora das comédias, acho importante que também tenha isso na medida em que a gente possa criar uma indústria. Ou seja, que aquilo possa dar lucro, isso é importante. Mas, ao mesmo tempo eu não tenho tanto interesse, eu fiz comédias no cinema, porque eram pessoas que me interessavam trabalhar como Guel Arraes, Sérgio Machado, Cláudio Torres. E as histórias também me interessavam contar. Mas, eu sou convidado para muitas comédias, por causa do meu programa de televisão. Muitas vezes não dá pra fazer, mas raramente eu olho e digo, eu quero fazer. Porque eu já faço comédia de qualidade na televisão. Eu falo semanalmente para um público de quase cem milhões de pessoas. Posso estar exagerando, podem ser cinquenta milhões de pessoas, mas é um número formidável. Então, eu não tenho a pretensão de fazer sucesso no cinema com comédias. Então, ou aquilo vai me movimentar muito, ou eu vou colocar o cinema em um lugar diferente, abrir o leque. Esse filme é exatamente isso. Como o teatro onde eu consigo ser um pouco mais autoral.

Vladimir Brichta - A Coleção InvisívelCPC: Mas, você acha que temos boas comédias atualmente no cinema?
V.B.: Sim, eu acho que a comédia se vale muito hoje de grandes nomes da comédia como o Leandro Hassum, por exemplo. Que é um grande comediante, muito talentoso e que tem um grande público. As comédias também se valem disso para alavancar as bilheterias. E isso também é importante, faz parte da indústria. Inclusive ele precisa ser muito bem pago por isso. Porque ele é uma grande estrela que arrebata alguns milhões de pessoas. Faz parte da indústria. Os moldes americanos ainda nos inspira muito, não tem jeito. Então, tomando como exemplo, tem indústria, tem o blockbuster, mas existe o cinema independente que precisa ser reconhecido, ser valorizado. E precisa ter festivais, precisa ganha o nicho dele. Pequena Miss Sunshine nunca vai virar O Homem de Ferro, mas precisa ter aquele lugar.

CPC: Este filme foi o último de Walmor Chagas, como foi trabalhar com ele?
V.B.: Walmor é um presente para o filme. Ter ele, o talento dele, a aparição dele, a atuação dele é brilhante. É triste, realmente a morte, toda morte é triste. O filme ganha ares até mais sentimentais. Mas, independente disso, a participação dele é porque se trata de um dos maiores atores brasileiros de todos os tempos. E o aprendizado, o ensinamento dele, além de ver em cena um grande trabalho, o que ele deixou também foi que ele tinha muito prazer de estar em cena. De estar no set, filmando. Era o grande prazer dele. O barato dele não era tomar uísque depois, não era o feriado, ele era motivado por contar história, de estar no set, tinha muito prazer. E uma inquietação muito grande, um homem de oitenta anos de idade com uma inquietação querendo acertar, pode ser melhor, isso não ficou bom. Um homem que não estava ali, vou fazer mais um filme... Não, eu quero contar a história o melhor possível. O este ensinamento para a gente que pode conviver com ele é assim: se eu não estiver inquieto agora, coitado de mim aos oitenta.

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