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Heitor Dhalia
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Sophie Charlote
Wagner Moura
Serra Pelada
Serra Pelada
Diretor bastante experimental e autoral, Heitor Dhalia sofreu com sua primeira experiência em Hollywood. O filme 12 Horas era um suspense padrão, onde o produtor tinha os direitos e ele era apenas mais um peão dentro do processo. Era de se esperar que o retorno ao Brasil trouxesse outra obra singular. Porém, Serra Pelada não chega a ser tudo o que se esperava dele, ainda que tenha seus méritos.
A história de Serra Pelada mexe com o imaginário popular. A obra faraônica que movimentou cerca de 100 mil homens em busca de ouro nos anos 80 no país é mesmo fascinante. É até hoje o maior garimpo a céu aberto já visto e muita gente ficou mesmo milionária, ainda que a grande maioria tenha apenas sofrido.
Poucas vezes, no entanto, o cinema explorou o cenário. Os Trapalhões foi um dos que utilizou-o como argumento. E é de se admirar o esforço de produção do filme de Heitor Dhalia em reconstruir o espaço com tantas detalhes. A reconstituição de época também é muito bem cuidada, seja em roupas, assessórios ou mesmo o clima tão particular dos anos 80.
Diante de um fato histórico tão forte com inúmeras possibilidades de recorte, Heitor Dhalia e Vera Egito tiveram o cuidado de construir o particular para contar uma história. E encontrou nos amigos Joaquim e Juliano um argumento interessante. Assim, como muitos, eles foram ao Pará em busca do sonho do ouro, mas cada um tinha sua motivação principal e personalidade que os leva por caminhos diferentes.
Porém, enquanto Juliano, o personagem de Juliano Cazarré, tem uma trajetória muito clara e definida, Joaquim, personagem de Júlio Andrade é confuso e, muitas vezes, incongruente. Apesar deste ser melhor ator que o outro, acaba que se torna solto, quase um mero observador dos acontecimentos. E o fato de sua voz ser a narração que ouvimos por toda a projeção, isso se torna ainda mais marcado.
A narração em voz over é outro problema. O cinema brasileiro poucas vezes soube utilizá-la de uma maneira funcional como os filmes noir, por exemplo. Aqui, Heitor Dhalia tenta construir um estilo, a exemplo de Tropa de Elite, só que com algumas doses didáticas irônicas que lembram Ilha das Flores. Porém, muitas vezes, acaba sendo apenas didática e repetitiva mesmo.
Em contrapartida, a utilização da trilha sonora é extremamente feliz. Compõe o clima da Las Vegas Tupiniquim de uma maneira muito funcional. E também nos dá momentos de ironia e contraponto que ajudam a narrativa. A exemplo da cena na boate ao som de Sozinho. Isso sem falar na reconstituição de época que também é bastante oportuna.
O elenco, em geral, funciona, porém não posso deixar de destacar a participação de Wagner Moura como o personagem Lindo Rico. A sua primeira cena é uma das melhores, senão a melhor, do filme. É possível perceber a ironia pesada a exemplo do filme Cheiro do Ralo e a forma como o ator parece brincar no set. Não podemos esquecer que ele é também produtor do longa-metragem.
No geral, Serra Pelada possui uma história padrão, com mocinhos e vilões, porém, onde o mocinho é mal construído, não criando a empatia necessária. Mas, que ainda assim funciona por causa do elenco, da composição estética e, principalmente, pela reconstituição de uma época tão emblemática do nosso país.
Serra Pelada (Serra Pelada, 2013 / Brasil)
Direção: Heitor Dhalia
Roteiro: Heitor Dhalia, Vera Egito
Com: Juliano Cazarré, Júlio Andrade, Wagner Moura, Sophie Charlotte, Laura Neiva, Matheus Nachtergaele
Duração: 120 min.
A história de Serra Pelada mexe com o imaginário popular. A obra faraônica que movimentou cerca de 100 mil homens em busca de ouro nos anos 80 no país é mesmo fascinante. É até hoje o maior garimpo a céu aberto já visto e muita gente ficou mesmo milionária, ainda que a grande maioria tenha apenas sofrido.
Poucas vezes, no entanto, o cinema explorou o cenário. Os Trapalhões foi um dos que utilizou-o como argumento. E é de se admirar o esforço de produção do filme de Heitor Dhalia em reconstruir o espaço com tantas detalhes. A reconstituição de época também é muito bem cuidada, seja em roupas, assessórios ou mesmo o clima tão particular dos anos 80.
Diante de um fato histórico tão forte com inúmeras possibilidades de recorte, Heitor Dhalia e Vera Egito tiveram o cuidado de construir o particular para contar uma história. E encontrou nos amigos Joaquim e Juliano um argumento interessante. Assim, como muitos, eles foram ao Pará em busca do sonho do ouro, mas cada um tinha sua motivação principal e personalidade que os leva por caminhos diferentes.
Porém, enquanto Juliano, o personagem de Juliano Cazarré, tem uma trajetória muito clara e definida, Joaquim, personagem de Júlio Andrade é confuso e, muitas vezes, incongruente. Apesar deste ser melhor ator que o outro, acaba que se torna solto, quase um mero observador dos acontecimentos. E o fato de sua voz ser a narração que ouvimos por toda a projeção, isso se torna ainda mais marcado.
A narração em voz over é outro problema. O cinema brasileiro poucas vezes soube utilizá-la de uma maneira funcional como os filmes noir, por exemplo. Aqui, Heitor Dhalia tenta construir um estilo, a exemplo de Tropa de Elite, só que com algumas doses didáticas irônicas que lembram Ilha das Flores. Porém, muitas vezes, acaba sendo apenas didática e repetitiva mesmo.
Em contrapartida, a utilização da trilha sonora é extremamente feliz. Compõe o clima da Las Vegas Tupiniquim de uma maneira muito funcional. E também nos dá momentos de ironia e contraponto que ajudam a narrativa. A exemplo da cena na boate ao som de Sozinho. Isso sem falar na reconstituição de época que também é bastante oportuna.
O elenco, em geral, funciona, porém não posso deixar de destacar a participação de Wagner Moura como o personagem Lindo Rico. A sua primeira cena é uma das melhores, senão a melhor, do filme. É possível perceber a ironia pesada a exemplo do filme Cheiro do Ralo e a forma como o ator parece brincar no set. Não podemos esquecer que ele é também produtor do longa-metragem.
No geral, Serra Pelada possui uma história padrão, com mocinhos e vilões, porém, onde o mocinho é mal construído, não criando a empatia necessária. Mas, que ainda assim funciona por causa do elenco, da composição estética e, principalmente, pela reconstituição de uma época tão emblemática do nosso país.
Serra Pelada (Serra Pelada, 2013 / Brasil)
Direção: Heitor Dhalia
Roteiro: Heitor Dhalia, Vera Egito
Com: Juliano Cazarré, Júlio Andrade, Wagner Moura, Sophie Charlotte, Laura Neiva, Matheus Nachtergaele
Duração: 120 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Serra Pelada
2013-10-18T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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