Hoje
Alguns, inclusive a sinopse oficial, podem apontar o filme Hoje como mais um viés sobre a Ditadura Militar no Brasil. De fato, o tema está ali, mas, na verdade, a trama nos fala sobre a culpa e a dificuldade de conviver com ela.
E é difícil explicar qualquer coisa sobre essa culpa sem dar spoilers, por mais que o roteiro seja óbvio desde a primeira cena em que o personagem de César Troncoso aparece. Neste ponto está também o maior problema da obra de Tata Amaral. De uma maneira poética nos faz imergir no inconsciente de Vera, querendo criar um certo mistério sobre o seu passado, que não funciona, por muita coisa ser óbvia.
De qualquer maneira, a forma como vamos acompanhando a personagem em seu novo apartamento é envolvente. Em meio às caixas, aos dois ajudantes e à vizinha bisbilhoteira temos a presença misteriosa de Luiz, codinome Carlos, que também se refere a Vera através do codinome Ana Maria. Aos poucos, através da conversa dos dois, vamos descobrindo seu passado em comum.
É estranho, no entanto, ver um filme que faz questão de parecer tão misterioso, que não quer entregar o argumento de pronto ao espectador, em determinado momento, construir uma cena extremamente didática com a leitura de um Diário Oficial e letras em efeito pela tela. Fica um visual bonito, no entanto, que cresce em emoção pela interpretação de Denise Fraga desesperada tapando os ouvidos.
A interpretação do casal, por sinal, é o grande viés do filme. Presos em um apartamento, cercados de caixas, o texto precisa fluir de ambos. E a química funciona de uma maneira muito harmônica. Na troca de olhares, nos pequenos gestos, nas emoções expressas. Há momentos de puro prazer lírico, como na cena em que, de uma maneira até mesmo clichê, o nome do filme é explicitado.
Porque é interessante que um filme que trate de culpas passadas se chame Hoje e busque o aqui e agora. Diante de tantos questionamentos e pequenas revelações por segundo, estamos ali, naquele apartamento com eles, entendendo o que tudo aquilo significa. E o significado de certa maneira é belo. Nos toca em sensações e descobertas próprias.
Funciona, ainda que com pequenos percalços que nos cansam, exatamente por essa necessidade esconder o que está completamente à mostra. Há pequenos segredos, algumas revelações e versões. A cena em que os dois relembram o que aconteceu em determinada tarde é forte. São quatro versões e algumas revelações que trazem mais um viés de significados para tudo aquilo. E nesse ponto, talvez, haja surpresas.
Ainda assim, Hoje é uma experiência curiosa. Um filme irregular, com ótimas interpretações, inclusive dos ajudantes de mudança, destaque para João Baldasserini, e uma direção que busca sempre a poesia das cenas, mas acaba se perdendo nesses pequenos jogos de esconde.
Hoje (Hoje, 2011 / Brasil)
Direção: Tata Amaral
Roteiro: Jean-Claude Bernardet, Rubens Rewald, Felipe Sholl
Com: Denise Fraga, César Troncoso, João Baldasserini
Duração: 90 min.
E é difícil explicar qualquer coisa sobre essa culpa sem dar spoilers, por mais que o roteiro seja óbvio desde a primeira cena em que o personagem de César Troncoso aparece. Neste ponto está também o maior problema da obra de Tata Amaral. De uma maneira poética nos faz imergir no inconsciente de Vera, querendo criar um certo mistério sobre o seu passado, que não funciona, por muita coisa ser óbvia.
De qualquer maneira, a forma como vamos acompanhando a personagem em seu novo apartamento é envolvente. Em meio às caixas, aos dois ajudantes e à vizinha bisbilhoteira temos a presença misteriosa de Luiz, codinome Carlos, que também se refere a Vera através do codinome Ana Maria. Aos poucos, através da conversa dos dois, vamos descobrindo seu passado em comum.
É estranho, no entanto, ver um filme que faz questão de parecer tão misterioso, que não quer entregar o argumento de pronto ao espectador, em determinado momento, construir uma cena extremamente didática com a leitura de um Diário Oficial e letras em efeito pela tela. Fica um visual bonito, no entanto, que cresce em emoção pela interpretação de Denise Fraga desesperada tapando os ouvidos.
A interpretação do casal, por sinal, é o grande viés do filme. Presos em um apartamento, cercados de caixas, o texto precisa fluir de ambos. E a química funciona de uma maneira muito harmônica. Na troca de olhares, nos pequenos gestos, nas emoções expressas. Há momentos de puro prazer lírico, como na cena em que, de uma maneira até mesmo clichê, o nome do filme é explicitado.
Porque é interessante que um filme que trate de culpas passadas se chame Hoje e busque o aqui e agora. Diante de tantos questionamentos e pequenas revelações por segundo, estamos ali, naquele apartamento com eles, entendendo o que tudo aquilo significa. E o significado de certa maneira é belo. Nos toca em sensações e descobertas próprias.
Funciona, ainda que com pequenos percalços que nos cansam, exatamente por essa necessidade esconder o que está completamente à mostra. Há pequenos segredos, algumas revelações e versões. A cena em que os dois relembram o que aconteceu em determinada tarde é forte. São quatro versões e algumas revelações que trazem mais um viés de significados para tudo aquilo. E nesse ponto, talvez, haja surpresas.
Ainda assim, Hoje é uma experiência curiosa. Um filme irregular, com ótimas interpretações, inclusive dos ajudantes de mudança, destaque para João Baldasserini, e uma direção que busca sempre a poesia das cenas, mas acaba se perdendo nesses pequenos jogos de esconde.
Hoje (Hoje, 2011 / Brasil)
Direção: Tata Amaral
Roteiro: Jean-Claude Bernardet, Rubens Rewald, Felipe Sholl
Com: Denise Fraga, César Troncoso, João Baldasserini
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Hoje
2013-11-12T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
Cesar Troncoso|critica|Denise Fraga|drama|João Baldasserini|Tata Amaral|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
Em cartaz nos cinemas com o filme Retrato de um Certo Oriente , Marcelo Gomes trouxe à abertura do 57º Festival do Cinema Brasileiro uma ...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro , em sua 57ª edição, reafirma sua posição como o mais longevo e tradicional evento dedicado ao c...
-
Casamento Grego (2002), dirigido por Joel Zwick e escrito por Nia Vardalos , é um dos filmes mais emblemáticos quando o assunto é risco e...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Com previsão de lançamento para maio desse ano, Estranhos , primeiro longa do diretor Paulo Alcântara terá pré-estreia (apenas convidados) ...