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RoboCop
RoboCop
Remakes sempre são polêmicos. Ainda mais quando o original é considerado um clássico por legiões de fãs. RoboCop não chega a ser um grande clássico do cinema, mas marcou sua época e Paul Verhoeven nos trouxe um viés diferente para os filmes de ação com ficção científica, fazendo pensar. Mas, o filme de Padilha não afronta sua obra e ainda traz suas próprias características.
É complicado analisar um filme comparando-o com outro. É quase injusto quando este outro ainda está tão fresco em nossa memória. Mas, o fato é que RoboCop aqui tem outros propósitos, discutindo muito mais a questão humana que tecnológica. E ainda levanta temas muito caros e conhecidos do diretor brasileiro, compostos pela tríade polícia, política e imprensa.
Alex Murphy é um policial exemplar que está investigando junto com o seu parceiro Jack Lewis um esquema de corrupção comandado por Antoine Vallon. Quando sofre um atentado e fica entre a vida e a morte, a empresa OmniCorp comandada por Raymond Sellars lhe oferece uma nova oportunidade. Só que agora ele será mais máquina que homem. Um estranho protótipo robótico com uma consciência humana dentro.
Duas mudanças substanciais na trama dessa nova versão, nos trazem outros caminhos para Alex Murphy. Primeiro, a história se passa em um mundo futurista. Os robôs já são uma realidade, porém, não podem agir livremente em solo norte-americano por causa de uma lei proposta por deputado "robofóbico" como define o jornalista interpretado por Samuel L. Jackson. O RoboCop não é, então, uma novidade tão estranha e futurista. É uma tentativa de burlar a lei, atraindo a simpatia dos americanos, que tenta forçar a população a apoiar a iniciativa fazendo a lei ser revogada.
Sendo assim, a OmniCorp precisa muito mais do elemento humano que a máquina nesta nova realidade. E por isso, o agente Alex Murphy não tem o corpo roubado, a memória apagada e a consciência completamente manipulada. Ele é ainda o homem, só que agora no corpo de uma máquina. Sua família é quem dá a autorização para a experiência e espera tê-lo de volta em casa. Isto nos dá outras perspectivas de conflito, ainda que no RoboCop original, aos poucos, Alex vá recuperando sua memória.
O grande embate não é se podemos confiar em máquinas, mas se o ser humano e sua essência podem vencê-la e controlá-la. O fato humano atrapalha a programação do robô, pois hesita, tem escolhas. O médico interpretado por Gary Oldman começa, então, a limitar essas escolhas lhe dando uma falsa sensação de livre-arbítrio. Mas, ainda assim, o embate acontece, tanto que no clímax há uma diferença gritante na forma como ele irá resolver uma programação-base.
Padilha se interessa pelo humano, gasta bom tempo de sua narrativa discutindo essa questão ética e valorizando o drama familiar. A cena mais forte do filme, por exemplo, é quando o Dr. Dennett Norton revela a Alex e a nós o que restou de humano nele. Mas, o diretor quer também discutir e nos mostrar todo o viés da sua tríade preferida. A cena inicial no Afeganistão, por exemplo, mostra muito da questão ainda expansionista do governo ianque.
O texto é bastante irônico, e as imagens procuram reforçar a constituição daquele desfile de poderio bélico. Frases como "saia com as mãos para cima, fique em paz", demonstram bem a visão norte-americana de justiça mundial. O jogo cênico com Samuel L. Jackson nos estúdios nos mostrando aquela "maravilha" nos dá uma visão clara do que o filme quer nos mostrar.
Todo o jogo de interesses dos bastidores, os acordos políticos, os interesses da imprensa, os interesses econômicos da OmniCorp são bastante pontuais. A corrupção dentro do departamento de polícia é outro ponto bastante explorado no filme, que o original de 1987 não chega a cogitar.
RoboCop de Padilha tem substância, nos mostrando uma trama madura e profunda, como poucos remakes conseguem fazer. Basta observar a refilmagem de outro filme de Paul Verhoeven, O Vingador do Futuro, onde tecnologia e cenas de ação foram privilegiadas no lugar da discussão levantada no original. Padilha conseguiu manter um bom nível de discussão ética e política, ainda que as cenas de ação falhem na maioria das vezes, sendo genéricas e pouco empolgantes. Neste ponto, chega ser um pouco decepcionante saber que Daniel Rezende é o responsável pela montagem, já que o profissional já demonstrou ser bem mais criativo. A fotografia de Lula Carvalho também não se destaca, mas é correta.
Não é um filme perfeito, que nos empolgue e faça torcer por outros iguais. Ainda assim, RoboCop é um filme de ação com ficção científica acima da média.
RoboCop (RoboCop, 2014 / EUA)
Direção: José Padilha
Roteiro: Joshua Zetumer
Com: Joel Kinnaman, Gary Oldman, Michael Keaton, Marianne Jean-Baptiste, Samuel L. Jackson, Abbie Cornish, Michael K. Williams
Duração: 108 min.
É complicado analisar um filme comparando-o com outro. É quase injusto quando este outro ainda está tão fresco em nossa memória. Mas, o fato é que RoboCop aqui tem outros propósitos, discutindo muito mais a questão humana que tecnológica. E ainda levanta temas muito caros e conhecidos do diretor brasileiro, compostos pela tríade polícia, política e imprensa.
Alex Murphy é um policial exemplar que está investigando junto com o seu parceiro Jack Lewis um esquema de corrupção comandado por Antoine Vallon. Quando sofre um atentado e fica entre a vida e a morte, a empresa OmniCorp comandada por Raymond Sellars lhe oferece uma nova oportunidade. Só que agora ele será mais máquina que homem. Um estranho protótipo robótico com uma consciência humana dentro.
Duas mudanças substanciais na trama dessa nova versão, nos trazem outros caminhos para Alex Murphy. Primeiro, a história se passa em um mundo futurista. Os robôs já são uma realidade, porém, não podem agir livremente em solo norte-americano por causa de uma lei proposta por deputado "robofóbico" como define o jornalista interpretado por Samuel L. Jackson. O RoboCop não é, então, uma novidade tão estranha e futurista. É uma tentativa de burlar a lei, atraindo a simpatia dos americanos, que tenta forçar a população a apoiar a iniciativa fazendo a lei ser revogada.
Sendo assim, a OmniCorp precisa muito mais do elemento humano que a máquina nesta nova realidade. E por isso, o agente Alex Murphy não tem o corpo roubado, a memória apagada e a consciência completamente manipulada. Ele é ainda o homem, só que agora no corpo de uma máquina. Sua família é quem dá a autorização para a experiência e espera tê-lo de volta em casa. Isto nos dá outras perspectivas de conflito, ainda que no RoboCop original, aos poucos, Alex vá recuperando sua memória.
O grande embate não é se podemos confiar em máquinas, mas se o ser humano e sua essência podem vencê-la e controlá-la. O fato humano atrapalha a programação do robô, pois hesita, tem escolhas. O médico interpretado por Gary Oldman começa, então, a limitar essas escolhas lhe dando uma falsa sensação de livre-arbítrio. Mas, ainda assim, o embate acontece, tanto que no clímax há uma diferença gritante na forma como ele irá resolver uma programação-base.
Padilha se interessa pelo humano, gasta bom tempo de sua narrativa discutindo essa questão ética e valorizando o drama familiar. A cena mais forte do filme, por exemplo, é quando o Dr. Dennett Norton revela a Alex e a nós o que restou de humano nele. Mas, o diretor quer também discutir e nos mostrar todo o viés da sua tríade preferida. A cena inicial no Afeganistão, por exemplo, mostra muito da questão ainda expansionista do governo ianque.
O texto é bastante irônico, e as imagens procuram reforçar a constituição daquele desfile de poderio bélico. Frases como "saia com as mãos para cima, fique em paz", demonstram bem a visão norte-americana de justiça mundial. O jogo cênico com Samuel L. Jackson nos estúdios nos mostrando aquela "maravilha" nos dá uma visão clara do que o filme quer nos mostrar.
Todo o jogo de interesses dos bastidores, os acordos políticos, os interesses da imprensa, os interesses econômicos da OmniCorp são bastante pontuais. A corrupção dentro do departamento de polícia é outro ponto bastante explorado no filme, que o original de 1987 não chega a cogitar.
RoboCop de Padilha tem substância, nos mostrando uma trama madura e profunda, como poucos remakes conseguem fazer. Basta observar a refilmagem de outro filme de Paul Verhoeven, O Vingador do Futuro, onde tecnologia e cenas de ação foram privilegiadas no lugar da discussão levantada no original. Padilha conseguiu manter um bom nível de discussão ética e política, ainda que as cenas de ação falhem na maioria das vezes, sendo genéricas e pouco empolgantes. Neste ponto, chega ser um pouco decepcionante saber que Daniel Rezende é o responsável pela montagem, já que o profissional já demonstrou ser bem mais criativo. A fotografia de Lula Carvalho também não se destaca, mas é correta.
Não é um filme perfeito, que nos empolgue e faça torcer por outros iguais. Ainda assim, RoboCop é um filme de ação com ficção científica acima da média.
RoboCop (RoboCop, 2014 / EUA)
Direção: José Padilha
Roteiro: Joshua Zetumer
Com: Joel Kinnaman, Gary Oldman, Michael Keaton, Marianne Jean-Baptiste, Samuel L. Jackson, Abbie Cornish, Michael K. Williams
Duração: 108 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
RoboCop
2014-02-20T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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