
É complicado analisar um filme comparando-o com outro. É quase injusto quando este outro ainda está tão fresco em nossa memória. Mas, o fato é que RoboCop aqui tem outros propósitos, discutindo muito mais a questão humana que tecnológica. E ainda levanta temas muito caros e conhecidos do diretor brasileiro, compostos pela tríade polícia, política e imprensa.
Alex Murphy é um policial exemplar que está investigando junto com o seu parceiro Jack Lewis um esquema de corrupção comandado por Antoine Vallon. Quando sofre um atentado e fica entre a vida e a morte, a empresa OmniCorp comandada por Raymond Sellars lhe oferece uma nova oportunidade. Só que agora ele será mais máquina que homem. Um estranho protótipo robótico com uma consciência humana dentro.

Sendo assim, a OmniCorp precisa muito mais do elemento humano que a máquina nesta nova realidade. E por isso, o agente Alex Murphy não tem o corpo roubado, a memória apagada e a consciência completamente manipulada. Ele é ainda o homem, só que agora no corpo de uma máquina. Sua família é quem dá a autorização para a experiência e espera tê-lo de volta em casa. Isto nos dá outras perspectivas de conflito, ainda que no RoboCop original, aos poucos, Alex vá recuperando sua memória.

Padilha se interessa pelo humano, gasta bom tempo de sua narrativa discutindo essa questão ética e valorizando o drama familiar. A cena mais forte do filme, por exemplo, é quando o Dr. Dennett Norton revela a Alex e a nós o que restou de humano nele. Mas, o diretor quer também discutir e nos mostrar todo o viés da sua tríade preferida. A cena inicial no Afeganistão, por exemplo, mostra muito da questão ainda expansionista do governo ianque.
O texto é bastante irônico, e as imagens procuram reforçar a constituição daquele desfile de poderio bélico. Frases como "saia com as mãos para cima, fique em paz", demonstram bem a visão norte-americana de justiça mundial. O jogo cênico com Samuel L. Jackson nos estúdios nos mostrando aquela "maravilha" nos dá uma visão clara do que o filme quer nos mostrar.

RoboCop de Padilha tem substância, nos mostrando uma trama madura e profunda, como poucos remakes conseguem fazer. Basta observar a refilmagem de outro filme de Paul Verhoeven, O Vingador do Futuro, onde tecnologia e cenas de ação foram privilegiadas no lugar da discussão levantada no original. Padilha conseguiu manter um bom nível de discussão ética e política, ainda que as cenas de ação falhem na maioria das vezes, sendo genéricas e pouco empolgantes. Neste ponto, chega ser um pouco decepcionante saber que Daniel Rezende é o responsável pela montagem, já que o profissional já demonstrou ser bem mais criativo. A fotografia de Lula Carvalho também não se destaca, mas é correta.
Não é um filme perfeito, que nos empolgue e faça torcer por outros iguais. Ainda assim, RoboCop é um filme de ação com ficção científica acima da média.
RoboCop (RoboCop, 2014 / EUA)
Direção: José Padilha
Roteiro: Joshua Zetumer
Com: Joel Kinnaman, Gary Oldman, Michael Keaton, Marianne Jean-Baptiste, Samuel L. Jackson, Abbie Cornish, Michael K. Williams
Duração: 108 min.