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Tana Schémbori
Tito Jara Román
Víctor Sosa
7 Caixas
7 Caixas
E ainda tem quem diga que do Paraguai só saem coisas falsificadas. Preconceitos à parte com nosso país vizinho, é de se encantar o filme de Juan Carlos Maneglia que finalmente estreia nos cinemas brasileiros.
Na trama, acompanhamos a saga de Victor, um garoto simples que trabalha como carregador em um mercado local e sonha em aparecer na televisão. Ao conhecer um celular que grava vídeos, fica encantado e obcecado pela oportunidade de conseguir dinheiro para comprá-lo. Assim, acaba aceitando uma estranha missão de tomar conta de sete caixas de um mercado, sem saber o seu conteúdo e que vão lhe causar muitas confusões.
Apesar de tratar de pobreza, violência e ser um suspense bem desenvolvido, 7 Caixas tem também, muito bom humor. O filme constrói Victor e sua paixão pela televisão de uma maneira bastante leve e divertida. Suas pausas, quase catatônicas diante da tela, imaginando a si mesmo lá dentro, soam ingênuas, quase infantis, mas demonstram também uma leveza no fascínio que acaba minimizando a tensão de todo o ocorrido.
Porque a trama por trás das caixas revela-se mais complexa e doentia do que aparentava. A cena da revelação do conteúdo das caixas, por exemplo, é muito boa. Intercalando a cena de Victor abrindo uma delas, com a conversa entre Don Dario e Luis. Ao mesmo tempo em que sentimos a tensão do garoto, nos impressionamos com a conversa ironicamente surreal dos dois comparsas. Aliás, toda a construção das cenas desses dois personagens é extremamente farsesca.
E é esse tratamento que acaba tornando o roteiro tão interessante. Sem isso, seria apenas mais uma trama clichê, cheia de personagens estereotipados, como diversos outros filmes. Muita coisa é previsível, inclusive. Outras, pouco explicadas. Há exagero no retrato da gangue de Nelson, por exemplo. E em toda a crueldade exacerbada naquele local.
A câmera de Juan Carlos Maneglia é bastante hábil e dinâmica, não deixando o filme cansar. Há muitas cenas de câmera em movimento que criam um ritmo interessante, como as que mostram Victor empurrando o carrinho pelo mercado, tendo a câmera baixa e desfocada, criando um efeito meio onírico. As cenas de correria também criam um bom efeito de confusão em uma montagem ágil e envolvente.
E mesmo diante de tanta confusão, terror e ameaças, não conseguimos nos irritar com Victor, nem seu sonho infantil. O personagem e o ator Celso Franco que lhe dá vida, possuem o carisma e a empatia suficiente para que embarquemos nessa maluca aventura, não levando a sério tantas questões que deveriam ser sérias, mas deixando uma sensação de compreensão daquela realidade. No fundo, o fascínio de Victor pela televisão nada mais é do que uma vontade intrínseca de ser visto, reconhecido enquanto gente. Mesmo que nem tenha consciência total disso.
7 Caixas é um belo exemplar do cinema latino-americano. Trata de questões sociais, de violência, de natureza humana, mas tudo com uma ironia própria que, por vezes, lembra o humor dos irmãos Coen (e, de certa forma, a trama tem também seus ecos). Uma grata surpresa.
7 Caixas (7 Cajas, 2012 / Paraguai)
Direção: Juan Carlos Maneglia, Tana Schémbori
Roteiro: Juan Carlos Maneglia, Tito Chamorro, Tana Schembori
Com: Celso Franco, Víctor Sosa, Lali González, Alicia Guerra, Tito Jara Román, Beto Ayala
Duração: 100 min.
Na trama, acompanhamos a saga de Victor, um garoto simples que trabalha como carregador em um mercado local e sonha em aparecer na televisão. Ao conhecer um celular que grava vídeos, fica encantado e obcecado pela oportunidade de conseguir dinheiro para comprá-lo. Assim, acaba aceitando uma estranha missão de tomar conta de sete caixas de um mercado, sem saber o seu conteúdo e que vão lhe causar muitas confusões.
Apesar de tratar de pobreza, violência e ser um suspense bem desenvolvido, 7 Caixas tem também, muito bom humor. O filme constrói Victor e sua paixão pela televisão de uma maneira bastante leve e divertida. Suas pausas, quase catatônicas diante da tela, imaginando a si mesmo lá dentro, soam ingênuas, quase infantis, mas demonstram também uma leveza no fascínio que acaba minimizando a tensão de todo o ocorrido.
Porque a trama por trás das caixas revela-se mais complexa e doentia do que aparentava. A cena da revelação do conteúdo das caixas, por exemplo, é muito boa. Intercalando a cena de Victor abrindo uma delas, com a conversa entre Don Dario e Luis. Ao mesmo tempo em que sentimos a tensão do garoto, nos impressionamos com a conversa ironicamente surreal dos dois comparsas. Aliás, toda a construção das cenas desses dois personagens é extremamente farsesca.
E é esse tratamento que acaba tornando o roteiro tão interessante. Sem isso, seria apenas mais uma trama clichê, cheia de personagens estereotipados, como diversos outros filmes. Muita coisa é previsível, inclusive. Outras, pouco explicadas. Há exagero no retrato da gangue de Nelson, por exemplo. E em toda a crueldade exacerbada naquele local.
A câmera de Juan Carlos Maneglia é bastante hábil e dinâmica, não deixando o filme cansar. Há muitas cenas de câmera em movimento que criam um ritmo interessante, como as que mostram Victor empurrando o carrinho pelo mercado, tendo a câmera baixa e desfocada, criando um efeito meio onírico. As cenas de correria também criam um bom efeito de confusão em uma montagem ágil e envolvente.
E mesmo diante de tanta confusão, terror e ameaças, não conseguimos nos irritar com Victor, nem seu sonho infantil. O personagem e o ator Celso Franco que lhe dá vida, possuem o carisma e a empatia suficiente para que embarquemos nessa maluca aventura, não levando a sério tantas questões que deveriam ser sérias, mas deixando uma sensação de compreensão daquela realidade. No fundo, o fascínio de Victor pela televisão nada mais é do que uma vontade intrínseca de ser visto, reconhecido enquanto gente. Mesmo que nem tenha consciência total disso.
7 Caixas é um belo exemplar do cinema latino-americano. Trata de questões sociais, de violência, de natureza humana, mas tudo com uma ironia própria que, por vezes, lembra o humor dos irmãos Coen (e, de certa forma, a trama tem também seus ecos). Uma grata surpresa.
7 Caixas (7 Cajas, 2012 / Paraguai)
Direção: Juan Carlos Maneglia, Tana Schémbori
Roteiro: Juan Carlos Maneglia, Tito Chamorro, Tana Schembori
Com: Celso Franco, Víctor Sosa, Lali González, Alicia Guerra, Tito Jara Román, Beto Ayala
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
7 Caixas
2014-04-26T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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