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Eu, Mamãe e os Meninos
Eu, Mamãe e os Meninos
Vencedor do César de melhor filme, ator e roteiro adaptado, Eu, mamãe e os meninos é uma comédia inteligente, sensível e extremamente divertida. Um retrato da vida do seu autor, Guillaume Gallienne, que durante um período de sua vida foi tratado como uma menina. "A primeira lembrança que eu tenho da minha mãe é de quando eu tinha uns quatro ou cinco anos. Ela chamou os filhos para o jantar, dizendo: 'Meninos e Guillaume, na mesa!".
Baseado em um show teatral escrito pelo próprio Guillaume, os brasileiros podem fazer uma comparação imediata com Minha Mãe é Uma Peça. Até porque assim como Paulo Gustavo, o ator francês interpreta sua mãe no filme. Mas, as comparações acabam por aí, pois o texto de Eu, mamãe e os meninos traz nuanças mais sensíveis. E a estética do longa-metragem também é melhor trabalhada ao assumir a narração do monólogo como guia.
Vemos Guillaume no palco, sentado em uma cama, nos guiando em suas memórias. E tudo fica muito bem construído junto aos flashbacks, em uma montagem harmônica que não nos faz sentir a quebra. Nos sentimos como amigos confidentes do protagonista, acompanhando o seu drama dito de uma maneira tão divertida e inteligente.
Porque a vida de Guillaume poderia se transformar em um dramalhão. Um garoto que se sente uma garota, que é tratado pela mãe como uma garota, que nem mesmo questiona sua sexualidade. É incrível, por exemplo, quando ele diz à mãe estar apaixonado por um rapaz e ela fala no termo homossexual. "Mas, uma garota que gosta de um garota, o que tem de mais heterossexual que isso?"
Tudo é construído de uma maneira muito sensível, inclusive a atuação de Guillaume Gallienne que está ótimo com ele mesmo e melhor ainda como a sua mãe. É impressionante como ele constrói tiques que os tornam próximos e ao mesmo tempo distantes. Vemos nela uma mulher bonita, fina, bem colocada e à vontade em sua posição, enquanto ele tem um ar de imitação eterno, é o rascunho de sua mãe, a quem ama e admira tão profundamente.
A sequência na Espanha, é uma das mais hilárias, inclusive pelas piadas inseridas como o disco de Julio Iglesias, "tão Paris". As aulas de dança flamenca também são destaque. Tudo é motivo para piadas, referências e diversão. Quando a moça lhe explica o porquê dos outros rirem quando ele dança, então, a subversão da expectativa ajuda na riqueza do texto. Entendemos cada vez mais a ele.
Outra piada inteligente está nas diversas sequências com o psiquiatra. Ou melhor, com os psiquiatras. O timming da piada a cada comentário, revelação do protagonista ou interferência do psiquiatra é muito bom. Não precisa explicar muito, está subentendido em um gesto, uma palavra, uma situação. É isso que envolve e encanta.
Não por acaso Eu, mamãe e os meninos venceu adversários como Azul é a Cor Mais Quente, Um Estranho no Lago e O Passado. Isso sem falar no filme de Polanski, Venus In Fur. Há leveza e inteligência em sua construção, ainda que em um viés popular. Um filme que envolve e nos faz pensar, sem perder o bom humor.
Eu, Mamãe e os Meninos (Les garçons et Guillaume, à table!, 2013 / França)
Direção: Guillaume Gallienne
Roteiro: Guillaume Gallienne
Com: Guillaume Gallienne, André Marcon, Françoise Fabian
Duração: 85 min.
Baseado em um show teatral escrito pelo próprio Guillaume, os brasileiros podem fazer uma comparação imediata com Minha Mãe é Uma Peça. Até porque assim como Paulo Gustavo, o ator francês interpreta sua mãe no filme. Mas, as comparações acabam por aí, pois o texto de Eu, mamãe e os meninos traz nuanças mais sensíveis. E a estética do longa-metragem também é melhor trabalhada ao assumir a narração do monólogo como guia.
Vemos Guillaume no palco, sentado em uma cama, nos guiando em suas memórias. E tudo fica muito bem construído junto aos flashbacks, em uma montagem harmônica que não nos faz sentir a quebra. Nos sentimos como amigos confidentes do protagonista, acompanhando o seu drama dito de uma maneira tão divertida e inteligente.
Porque a vida de Guillaume poderia se transformar em um dramalhão. Um garoto que se sente uma garota, que é tratado pela mãe como uma garota, que nem mesmo questiona sua sexualidade. É incrível, por exemplo, quando ele diz à mãe estar apaixonado por um rapaz e ela fala no termo homossexual. "Mas, uma garota que gosta de um garota, o que tem de mais heterossexual que isso?"
Tudo é construído de uma maneira muito sensível, inclusive a atuação de Guillaume Gallienne que está ótimo com ele mesmo e melhor ainda como a sua mãe. É impressionante como ele constrói tiques que os tornam próximos e ao mesmo tempo distantes. Vemos nela uma mulher bonita, fina, bem colocada e à vontade em sua posição, enquanto ele tem um ar de imitação eterno, é o rascunho de sua mãe, a quem ama e admira tão profundamente.
A sequência na Espanha, é uma das mais hilárias, inclusive pelas piadas inseridas como o disco de Julio Iglesias, "tão Paris". As aulas de dança flamenca também são destaque. Tudo é motivo para piadas, referências e diversão. Quando a moça lhe explica o porquê dos outros rirem quando ele dança, então, a subversão da expectativa ajuda na riqueza do texto. Entendemos cada vez mais a ele.
Outra piada inteligente está nas diversas sequências com o psiquiatra. Ou melhor, com os psiquiatras. O timming da piada a cada comentário, revelação do protagonista ou interferência do psiquiatra é muito bom. Não precisa explicar muito, está subentendido em um gesto, uma palavra, uma situação. É isso que envolve e encanta.
Não por acaso Eu, mamãe e os meninos venceu adversários como Azul é a Cor Mais Quente, Um Estranho no Lago e O Passado. Isso sem falar no filme de Polanski, Venus In Fur. Há leveza e inteligência em sua construção, ainda que em um viés popular. Um filme que envolve e nos faz pensar, sem perder o bom humor.
Eu, Mamãe e os Meninos (Les garçons et Guillaume, à table!, 2013 / França)
Direção: Guillaume Gallienne
Roteiro: Guillaume Gallienne
Com: Guillaume Gallienne, André Marcon, Françoise Fabian
Duração: 85 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Eu, Mamãe e os Meninos
2014-04-21T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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