
Não há uma trama, mas tramas que permeiam a questão do não pertencimento, da rotina, da vida, do mar e da morte. Jeison é um pescador e catador de coco local. Shirley é uma moça da cidade que é obrigada a se mudar para a vila para cuidar de sua avó doente. Juntos eles vivenciam o local em um romance quase apenas físico, escondido, entre uma entrega de coco e pescaria de barco. Até que a morte começa a rondar a vila a partir do achado de uma caveira e depois de um corpo no mar.

Em determinado momento, uma pessoa pergunta ao profissional se é possível viver de vento. Talvez um desabafo da dificuldade de viver de cinema no país. Ainda mais de cinema independente. Mas, essa inserção estranha ao próprio ritmo do filme acaba sendo forçada, sem tanta lógica dentro daquele universo criado, que se reconstrói muito melhor quando o personagem Jeison começa a se sentir obcecado pelo cadáver que descobriu na praia.

Ainda assim, o filme parece carecer de um propósito maior. Uma amarra que o justifique ou mesmo uma construção mais solta de fato. Parece que vemos coisas arrumadas para parecerem naturais em alguns momentos. Temos até uma cena onde a personagem de Dandara se lambuza de Coca-Cola para trazer a tradição antiga do bronzeamento a base do refrigerante, mas que parece armada, principalmente por ela já estar exposta ao sol há algum tempo. Da mesma forma que os personagens não trazem nenhuma profundidade, são raros, estereótipos pouco explorados e, curiosamente, bem interpretados.
De qualquer maneira, Ventos de Agosto é um filme bonito. Sua construção à beira mar através de sua força e suas simbologias nos trazem bons momentos e reflexões, ainda que muitas, clichês.
Filme visto no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Ventos de Agosto (2014 / Brasil)
Direção: Gabriel Mascaro
Roteiro: Rachel Ellis, Gabriel Mascaro
Com: Dandara de Morais, Geová Manoel Dos Santos
Duração: 77 min.