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Sem Pena
Sem Pena
Em determinado momento do filme, vemos um grupo de mendigos reunidos próximo a carros estacionados no meio fio. Eles vibram, gritam, brincam, parecem comemorar algo. É uma Ferrari que está saindo do local estacionado, meio claudicante, como se temesse a situação. A câmera sobe e vemos que tudo isso aconteceu em frente à Faculdade de Direto da USP.
Esta talvez seja uma boa síntese do filme Sem Pena, do diretor Eugênio Puppo, que discute a questão criminal no pais. As desigualdades, as injustiças, a deformação do sistema penitenciário, a mistura de desilusões locais. Um filme necessário que nos prende e faz pensar.
A construção estética é ousada e diferente da maioria das linguagens já vistas em documentários. Principalmente, nacionais. Lembra, talvez, um pouco, as experimentações de Wim Wenders. O filme é todo composto por depoimentos. Mas, eles estão apenas na voz over do entrevistado, enquanto a tela é preenchida por imagens aparentemente aleatórias.
São temas, a cada depoimento, que vão fazendo sentido no contexto total e dão uma linguagem nova, moderna, diversa ao filme. Porém, acaba cansando. Em determinado momento, a verborragia estética nos faz pedir descansos visuais. E o filme até traz alguns, como um passeio de uma arma por uma escadaria, ou mesmo a praça já citada. Ou corredores de arquivos intermináveis.
Mas, o refresco não parece suficiente, tanto que em determinado momento há uma quebra. Acompanhamos um depoimento quase surreal de uma senhora acusada de tráfico de drogas. É desconcertante, importante, mas acaba parecendo um outro filme. Talvez,nesse seja um indício de que o formato não tem tanto fôlego quanto o diretor imaginava. Ou talvez, seja apenas uma escolha que não se encaixe tão bem no conjunto construído.
Porque fica parecendo que o filme vai caminhando, caminhando e o final não está tão bem resolvido em tela. O que não desmerece tudo que foi discutido e apresentado ali. O início, por exemplo, é bastante criativo com uma porta de elevador que se abre a cada andar. O som também é trabalhado em esmero, tanto em músicas, quanto em efeitos.
Mas, principalmente, é um filme que joga em nossa frente o caos que se tornou o nosso sistema jurídico. Onde o ser humano parece mais um processo arquivado em um jogo político e de poder que assusta. E que mistura criminosos de todas as espécies, piorando-os em vez de enquadrá-los.
Sem Pena é um documentário diferente em sua proposta estética e que toca em assuntos emergenciais. Daqueles filmes que precisam ser vistos pela sociedade e, principalmente, por estudantes e profissionais de Direito de nosso país.
Filme visto no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Sem Pena (2014 / Brasil)
Direção: Eugênio Puppo
Roteiro: Eugênio Puppo
Duração: 87 min.
Esta talvez seja uma boa síntese do filme Sem Pena, do diretor Eugênio Puppo, que discute a questão criminal no pais. As desigualdades, as injustiças, a deformação do sistema penitenciário, a mistura de desilusões locais. Um filme necessário que nos prende e faz pensar.
A construção estética é ousada e diferente da maioria das linguagens já vistas em documentários. Principalmente, nacionais. Lembra, talvez, um pouco, as experimentações de Wim Wenders. O filme é todo composto por depoimentos. Mas, eles estão apenas na voz over do entrevistado, enquanto a tela é preenchida por imagens aparentemente aleatórias.
São temas, a cada depoimento, que vão fazendo sentido no contexto total e dão uma linguagem nova, moderna, diversa ao filme. Porém, acaba cansando. Em determinado momento, a verborragia estética nos faz pedir descansos visuais. E o filme até traz alguns, como um passeio de uma arma por uma escadaria, ou mesmo a praça já citada. Ou corredores de arquivos intermináveis.
Mas, o refresco não parece suficiente, tanto que em determinado momento há uma quebra. Acompanhamos um depoimento quase surreal de uma senhora acusada de tráfico de drogas. É desconcertante, importante, mas acaba parecendo um outro filme. Talvez,nesse seja um indício de que o formato não tem tanto fôlego quanto o diretor imaginava. Ou talvez, seja apenas uma escolha que não se encaixe tão bem no conjunto construído.
Porque fica parecendo que o filme vai caminhando, caminhando e o final não está tão bem resolvido em tela. O que não desmerece tudo que foi discutido e apresentado ali. O início, por exemplo, é bastante criativo com uma porta de elevador que se abre a cada andar. O som também é trabalhado em esmero, tanto em músicas, quanto em efeitos.
Mas, principalmente, é um filme que joga em nossa frente o caos que se tornou o nosso sistema jurídico. Onde o ser humano parece mais um processo arquivado em um jogo político e de poder que assusta. E que mistura criminosos de todas as espécies, piorando-os em vez de enquadrá-los.
Sem Pena é um documentário diferente em sua proposta estética e que toca em assuntos emergenciais. Daqueles filmes que precisam ser vistos pela sociedade e, principalmente, por estudantes e profissionais de Direito de nosso país.
Filme visto no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Sem Pena (2014 / Brasil)
Direção: Eugênio Puppo
Roteiro: Eugênio Puppo
Duração: 87 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Sem Pena
2014-09-28T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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