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Edmilson Silva
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Giovanna Simões
Maracatu Estrela Brilhante
Marcelo Pedroso
Marivalda Maria dos Santo
Wilma Gomes
Brasil S/A
Brasil S/A
Qual a história do nosso país? E qual o retrato atual da nossa sociedade? Brasil S/A constrói uma alegoria imagética intensa para falar com ironia do mundo em que vivemos hoje. Desde as origens da economia com o plantio da cana de açúcar, passando por símbolos da nossa cultura e problemas mais concretos como o trânsito. Tudo sob o teto de uma grande bandeira vazada onde não vemos o círculo azul e a faixa ordem e progresso.
A sinopse oficial do filme nos diz que "No Brasil dos últimos 500 anos, Edilson esteve cortando cana-de-açúcar. Um dia, as máquinas chegaram e ele deixou o corte para se engajar em sua primeira missão espacial. Um pequeno passo para ele, um salto enorme para o Brasil". O roteiro é menos esquemático que isso, apesar de percebermos uma progressão clara na narrativa.
A questão da máquina substituindo o homem é fundamental, como a figura de Edilson é fundamental enquanto protagonista. É a representação do povo brasileiro e peça chave nessa metáfora do país enquanto empresa. Mas, temos também o pescador, a moça da classe média, as famílias futuristas e diversos outros personagens, elementos que compõem este retrato de país "do futuro".
O filme não possui diálogo e o desenho de som é fundamental para nos ajudar na progressão dramática da obra. As músicas são poderosas e vão nos dando uma dimensão exata da sensação que o diretor quer provocar. A cena do canavial desmatado, por exemplo, onde Edilson simula o corte da cana é primorosa por causa do som. Ouvimos até o tilintar do facão, enquanto observamos o cenário e seus significados. A cena em que uma moça de biquíni faz a sinalização para os tratores os guiando quase como cavalos a serem domados também funciona melhor por causa do som.
Há ainda uma curiosa inserção de uma igreja lotada rezando ao som de "The Sound of Silence". É talvez, a sequência mais documental do filme, fugindo do padrão de reconstrução da realidade futurista. Por mais que já tenha ouvido a versão católica da música de Paul Simon tudo soa estranho, deslocado do contexto geral. Mas, não deixa de ser uma forte representação do nosso povo e da fé em nosso país, talvez.
Apesar da grandiosidade e do tema forte, o filme tem ainda ótimos traços de humor. Um humor irônico, inteligente, que fica mais evidente em sequências como a do trânsito. Uma mulher tenta sair de seu apartamento, mas o engarrafamento já está na porta da garagem. A solução apresentada no filme é uma das críticas mais irônicas ao nosso trânsito, ao individualismo da classe média / alta do país e à própria falta de noção de coletividade.
Se não bastasse tudo isso, Brasil S/A ainda projeta uma espécie de corrida espacial brasileira, jogando com as questões das possibilidades de crescimento e promessas políticas de ser reconhecido como um país desenvolvido. É interessante como tudo vai sendo construído de maneira forte e orgânica. Um filme para ver, rever e refletir sobre diversos aspectos. Desde os técnicos aos ideológicos.
Filme visto no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Direção: Marcelo Pedroso
Roteiro: Marcelo Pedroso
Com: Edmilson Silva, Wilma Gomes, Adeilton Nascimento, Giovanna Simões, Marivalda Maria dos Santo, Maracatu Estrela Brilhante
Duração: 72 min.
A sinopse oficial do filme nos diz que "No Brasil dos últimos 500 anos, Edilson esteve cortando cana-de-açúcar. Um dia, as máquinas chegaram e ele deixou o corte para se engajar em sua primeira missão espacial. Um pequeno passo para ele, um salto enorme para o Brasil". O roteiro é menos esquemático que isso, apesar de percebermos uma progressão clara na narrativa.
A questão da máquina substituindo o homem é fundamental, como a figura de Edilson é fundamental enquanto protagonista. É a representação do povo brasileiro e peça chave nessa metáfora do país enquanto empresa. Mas, temos também o pescador, a moça da classe média, as famílias futuristas e diversos outros personagens, elementos que compõem este retrato de país "do futuro".
O filme não possui diálogo e o desenho de som é fundamental para nos ajudar na progressão dramática da obra. As músicas são poderosas e vão nos dando uma dimensão exata da sensação que o diretor quer provocar. A cena do canavial desmatado, por exemplo, onde Edilson simula o corte da cana é primorosa por causa do som. Ouvimos até o tilintar do facão, enquanto observamos o cenário e seus significados. A cena em que uma moça de biquíni faz a sinalização para os tratores os guiando quase como cavalos a serem domados também funciona melhor por causa do som.
Há ainda uma curiosa inserção de uma igreja lotada rezando ao som de "The Sound of Silence". É talvez, a sequência mais documental do filme, fugindo do padrão de reconstrução da realidade futurista. Por mais que já tenha ouvido a versão católica da música de Paul Simon tudo soa estranho, deslocado do contexto geral. Mas, não deixa de ser uma forte representação do nosso povo e da fé em nosso país, talvez.
Apesar da grandiosidade e do tema forte, o filme tem ainda ótimos traços de humor. Um humor irônico, inteligente, que fica mais evidente em sequências como a do trânsito. Uma mulher tenta sair de seu apartamento, mas o engarrafamento já está na porta da garagem. A solução apresentada no filme é uma das críticas mais irônicas ao nosso trânsito, ao individualismo da classe média / alta do país e à própria falta de noção de coletividade.
Se não bastasse tudo isso, Brasil S/A ainda projeta uma espécie de corrida espacial brasileira, jogando com as questões das possibilidades de crescimento e promessas políticas de ser reconhecido como um país desenvolvido. É interessante como tudo vai sendo construído de maneira forte e orgânica. Um filme para ver, rever e refletir sobre diversos aspectos. Desde os técnicos aos ideológicos.
Filme visto no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Direção: Marcelo Pedroso
Roteiro: Marcelo Pedroso
Com: Edmilson Silva, Wilma Gomes, Adeilton Nascimento, Giovanna Simões, Marivalda Maria dos Santo, Maracatu Estrela Brilhante
Duração: 72 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Brasil S/A
2014-09-30T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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