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Élida Silpe
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Norberto Novais Oliveira
Renato Novais Oliveira
Ela Volta na Quinta
Ela Volta na Quinta
Um casal de mais de trinta e cinco anos de convivência está em crise. Seus filhos estão preocupados com uma possível separação, mas também possuem preocupações próprias como emprego, comprar casa ou morar de aluguel e ter filhos. Busca de sonhos e realidades financeiras os cercam. Mas, sempre há tempo para contemplar a vida.
Dito assim, Ela Volta na Quinta nos parece um filme de ficção como outro qualquer, mas há particularidades na obra, a começar pelos atores. Toda a família é real, ainda que a trama não seja. O diretor utiliza seu pai, sua mãe, seu irmão e a si mesmo como atores em um palco que mistura ficção e realidade em um timming bem documental. Em determinada cena, por exemplo, passamos um bom tempo vendo os dois irmãos em frente ao computador assistindo e se divertindo com vídeos virais a exemplo do "grito da ovelha", que na verdade é uma cabra...
Mesmo sendo a própria família, não-atores, os personagens são bem interpretados. Há verdade em cena e naturalidade nas conversas, poucos são os momentos que soam artificiais como uma determinada personagem revelada quase no final do filme, que dita suas frases de maneira extremamente forçada. Uma pena pois é um momento chave da trama. Tem outra também que socorre um dos personagens já no final que também tem ações bem armadas, mas aí, é quase um detalhe.
O que Ela Volta na Quinta nos mostra é uma rotina familiar em seus diversos aspectos. Um retrato de uma classe média baixa, com seus problemas de dinheiro, locomoção e busca por realizações profissionais e emocionais. Há crítica social, mas há também uma exposição honesta de um mundo próprio. Quando a mãe vira para André e diz que a família ira apoiar suas escolhas, contando o exemplo do avô traz uma carga emocional e um recado incrível para a trajetória do próprio cineasta. "Acredite em seus sonhos".
Esta é a tônica principal da obra, temos a sensação de estar entrando na intimidade de uma família, vendo coisas que só acontecem entre as quatro paredes. Sendo testemunhas oculares de algo extremamente pessoal. Não importa se tudo é ficcionalizado ou há algo de real. O que importa é a sensação que nos é passada. A cena em que o marido, seu Norberto, chama a mulher, dona Maria, para dançar uma música de Roberto Carlos que diz "olha, você tem todas as coisas que um dia eu sonhei para mim" tem muito mais do que uma cena bonitinha entre um casal.
Para construir uma linguagem mais contemplativa, quase de não interferência na cena, o diretor faz escolhas próximas do documentário. Temos câmeras fixas, sem movimentos e com planos longos que nos dão a sensação de estar ali, na casa, assistindo ou participando da rotina. As cenas no quarto do casal principal ainda possuem um elemento a mais que é a luz. A principal discussão da relação é realizada com a luz apagada e a tela totalmente preta. Ficamos apenas ouvindo suas vozes, já deitados prontos para dormir.
Ela Volta na Quinta é um filme bastante pessoal, que condiz com o estilo criado por André Novais em seus curta-metragens. Um retrato do cotidiano, sem muitas alegorias e investimento. É o simples, o pessoal, o verdadeiro, ainda que uma verdade em prol da ficção.
Filme visto no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Ela Volta na Quinta (2014 / Brasil)
Direção: André Novais
Roteiro: André Novais
Com: Maria José Novais Oliveira, Norberto Novais Oliveira, André Novais Oliveira, Renato Novais Oliveira, Élida Silpe, Carla Patrícia
Duração: 118 min.
Dito assim, Ela Volta na Quinta nos parece um filme de ficção como outro qualquer, mas há particularidades na obra, a começar pelos atores. Toda a família é real, ainda que a trama não seja. O diretor utiliza seu pai, sua mãe, seu irmão e a si mesmo como atores em um palco que mistura ficção e realidade em um timming bem documental. Em determinada cena, por exemplo, passamos um bom tempo vendo os dois irmãos em frente ao computador assistindo e se divertindo com vídeos virais a exemplo do "grito da ovelha", que na verdade é uma cabra...
Mesmo sendo a própria família, não-atores, os personagens são bem interpretados. Há verdade em cena e naturalidade nas conversas, poucos são os momentos que soam artificiais como uma determinada personagem revelada quase no final do filme, que dita suas frases de maneira extremamente forçada. Uma pena pois é um momento chave da trama. Tem outra também que socorre um dos personagens já no final que também tem ações bem armadas, mas aí, é quase um detalhe.
O que Ela Volta na Quinta nos mostra é uma rotina familiar em seus diversos aspectos. Um retrato de uma classe média baixa, com seus problemas de dinheiro, locomoção e busca por realizações profissionais e emocionais. Há crítica social, mas há também uma exposição honesta de um mundo próprio. Quando a mãe vira para André e diz que a família ira apoiar suas escolhas, contando o exemplo do avô traz uma carga emocional e um recado incrível para a trajetória do próprio cineasta. "Acredite em seus sonhos".
Esta é a tônica principal da obra, temos a sensação de estar entrando na intimidade de uma família, vendo coisas que só acontecem entre as quatro paredes. Sendo testemunhas oculares de algo extremamente pessoal. Não importa se tudo é ficcionalizado ou há algo de real. O que importa é a sensação que nos é passada. A cena em que o marido, seu Norberto, chama a mulher, dona Maria, para dançar uma música de Roberto Carlos que diz "olha, você tem todas as coisas que um dia eu sonhei para mim" tem muito mais do que uma cena bonitinha entre um casal.
Para construir uma linguagem mais contemplativa, quase de não interferência na cena, o diretor faz escolhas próximas do documentário. Temos câmeras fixas, sem movimentos e com planos longos que nos dão a sensação de estar ali, na casa, assistindo ou participando da rotina. As cenas no quarto do casal principal ainda possuem um elemento a mais que é a luz. A principal discussão da relação é realizada com a luz apagada e a tela totalmente preta. Ficamos apenas ouvindo suas vozes, já deitados prontos para dormir.
Ela Volta na Quinta é um filme bastante pessoal, que condiz com o estilo criado por André Novais em seus curta-metragens. Um retrato do cotidiano, sem muitas alegorias e investimento. É o simples, o pessoal, o verdadeiro, ainda que uma verdade em prol da ficção.
Filme visto no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Ela Volta na Quinta (2014 / Brasil)
Direção: André Novais
Roteiro: André Novais
Com: Maria José Novais Oliveira, Norberto Novais Oliveira, André Novais Oliveira, Renato Novais Oliveira, Élida Silpe, Carla Patrícia
Duração: 118 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Ela Volta na Quinta
2014-10-01T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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