
Robert Downey Jr. é Hank Palmer, um advogado de sucesso que não se envergonha de preocupar-se mais com o dinheiro que seus clientes lhe pagam que com a lei propriamente dita. Um dia, ele recebe uma ligação em pleno tribunal e é obrigado a retornar a sua cidade natal para o enterro de sua mãe, única da família com quem ele ainda mantinha contato. Encarar seu pai, vivido por Robert Duvall, após vinte anos é ainda mais difícil, e tudo ainda piora quando este é acusado de assassinato e tem que ser defendido pelo filho.

Todos os elementos estão aí. Homem bem sucedido profissionalmente, mas extremamente egoísta, com problemas no casamento e distanciamento da filha. Do outro lado, outro homem extremamente egoísta e senhor da lei, até por sua função de juiz do pequeno município. Orgulha-se de fazer a lei ser cumprida, sendo extremamente justo. Mas, a vida o leva a ser acusado de assassinato no mesmo tribunal que trabalhou por tantos anos.

Ainda assim, o filme constrói-se de maneira envolvente, equilibrando bem o drama familiar com o drama de tribunal. Criamos empatia com os personagens, que, apesar do clichê, demonstram emoções verdadeiras de dor, rejeição e necessidade de serem aceitos e amados. O jogo construído entre pai e filho é cruel, até pelo desprezo demonstrado pela figura paterna por alguém que ele deveria se orgulhar e que pelas imagens do passado, era muito próximo dele.
Robert Duvall constrói muito bem essa emoção dúvida de amor e ódio pelo filho que vai ser explicada de maneira quase inverossímil mais a frente. Já Robert Downey Jr. está bem no papel, principalmente nas cenas mais difíceis de sofrimento. Mas, quando se torna senhor de si, acaba criando ecos de déjà vú com o seu atual mais famoso personagem Tony Stark. O que é ruim para um ator que já se demonstrou tão versátil no passado. Ainda assim, talvez seja seu melhor papel nos últimos tempos.

Isso é demonstrado também com a iluminação, em diversas cenas vemos Hank na penumbra, e a cena em que ele entra no local do velório da mãe, uma luz quase o ofusca, como se ele estivesse vindo para ela, ao se reaproximar da família.
O Juiz está longe de ser um daqueles grandes filmes de tribunal do passado com disputas empolgantes e viradas inesperadas. Mas, cumpre bem o papel de encenação de disputa para revelar o verdadeiro embate por trás daquele cenário, vide o interrogatório final que ganha um caráter pessoal. Ainda que se baseiem em clichês e fórmulas prontas, cumpre o seu papel, construindo um bom drama familiar.
O Juiz (The Judge, 2014 / EUA)
Direção: David Dobkin
Roteiro: Nick Schenk, Bill Dubuque
Com: Robert Downey Jr., Robert Duvall, Vera Farmiga, Vincent D'Onofrio, Jeremy Strong
Duração: 141 min.