
Literalmente "a nova onda", o movimento revolucionou o cinema com novas possibilidades estéticas e uma linguagem própria, que muitas vezes quebrava as regras do cinema clássico. Isso, sem falar, na Teoria do Autor, que até hoje conduz o pensamento de boa parte dos cinéfilos e críticos cinematográficos como direção do bom cinema.
O que marcava o cinema de Truffaut era sua sensibilidade para demonstrar a realidade e visão peculiar sobre a infância e a família. Seus filmes nos aconchegam em emoções mistas de acolhimento e abandono que ele mesmo viveu em sua vida. Sofrendo com o descaso familiar, o cineasta acabou tornando o cinema seu verdadeiro lar. Talvez, por isso, possamos ver uma certa melancolia e ao mesmo tempo inocência poética em suas obras.

O Cine Clube Glauber Rocha, aqui em Salvador, não poderia, então, ser mais especial hoje. A sessão será especial, com a exibição de O Último Metrô em cópia 35 mm restaurada. Quem conduzirá a conversa após a exibição será o cineasta Bernard Attal, francês e diretor do filme A Coleção Invisível. Ou seja, imperdível.
Filme:
O Último Metrô (1980)
Durante a segunda guerra mundial, mais precisamente durante a ocupação da França pelos nazistas, o filme nos mostra uma Paris dividida. Em uma metáfora, também está dividida a bela Marion Steiner, vivida por Catherine Deneuve. Ela assume o teatro, enquanto seu marido, o judeu Lucas Steiner, vivido por Heinz Bennent, tem que se esconder no porão do local. Com a chegada do ator Bernard Granger, vivido por Gérard Depardieu, ela começa a misturar os seus sentimentos. É interessante como aqui, Truffaut fala de arte, de amor, de guerra e de escolhas de uma forma tão sensível e encantadora como sempre.
Outras obras marcantes do cineasta:

Marco fundamental de sua carreira, Os Incompreendidos é, para mim e para muitos, sua obra-prima. Tem muito de sua própria infância ali. Não por acaso o protagonista Antoine Doinel, aparece em outros quatro filmes do diretor, uma jornada interessante de se acompanhar. Os Incompreendidos é encantador em diversos aspectos, no olhar da infância, nos sonhos, no sentido da amizade, de liberdade, e na busca por seu lugar no mundo. Não por acaso aquela cena final na praia, é tão marcante.

Um filme que representa bem o espírito do movimento da Nouvelle Vague e dos jovens no final dos anos 50, rebeldes em busca de liberdade, movimentos culturais, ainda que o filme se passe no início do século XX. Dois amigos, Jules e Jim, vividos por Oskar Werner e Henri Serre respectivamente, não possuem muito compromisso com a vida, ou mesmo com sentimentos, até conhecerem Catherine, interpretada por Jeanne Moreau. A mulher decidida e sem amarras, encanta a ambos, e começa a criar sentimentos controversos. Mas, a mão de Truffaut não deixa essa ser uma história de triângulo amoroso comum. À verdade, o filme transcende isso, em uma construção forte sobre a própria vida, que terá, inclusive, a Primeira Grande Guerra como um dos panos de fundo dividindo os dois amigos (um francês e outro alemão) no campo de batalha.

Bastidores de filmes, metalinguagem, filme dentro de filme, podem haver muitos, mas A Noite Americana é daquelas obras que vão além da simples performance cinematográfica. É didático e envolvente ao mesmo tempo. Instigante e criativo nos problemas de uma filmagem desde os técnicos até os humanos. Aqui, o próprio Truffaut assume o papel do diretor que está a frente de "Je vous présente Pamela", uma inglesa que troca o marido francês pelo sogro. Mas, o que conta mesmo é o que está por trás dessas filmagens e do emocional desses atores. Uma aula e uma homenagem ao cinema.

Gérard Depardieu é Bernard e Fanny Ardant é Mathilde, dois amantes complexos que, ao mesmo tempo em que se amam e se completam, fazem mal um ao outro. Eles se reencontram depois de oito anos, por coincidência do destino, ao se tornarem vizinhos. A princípio, fingem não se conhecer, mas aos poucos tudo vai voltando à tona, independente do atual estado civil de ambos. se tornam vizinhos após oito anos de uma separação complexa. Um dos dramas psicológicos mais intensos de Truffaut, que ele conduz também com grande sensibilidade.