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Tem um pouco de 127 Horas e de Na Natureza Selvagem em Livre, novo filme de Jean-Marc Vallée, baseado no livro "Livre - A Jornada de Uma Mulher Em Busca do Recomeço". Cheryl Strayed, a protagonista, embarca sozinha em uma jornada por uma difícil trilha no deserto norte-americano. E o filme nos faz embarcar com ela, de maneira intensa, mas também cansativa, até pela duração da trama.
Jean-Marc Vallée constrói um prólogo angustiante e ao mesmo tempo literalmente libertador. É um momento crucial de sua trajetória e a vemos dar seu grito de liberdade, para retornar ao início da jornada. Um artifício que funciona para nos fisgar desde o princípio. Da mesma maneira que os flashbacks funcionam de maneira harmônica, nos explicando aos poucos porque aquela mulher está naquela trilha sozinha, sem nem ao menos ter experiência com aquilo.
É nesse ponto que o filme se aproxima e ao mesmo tempo se afasta de 127 Horas. A estrutura narrativa intercalando a personagem na trilha mesclando com suas lembranças e algumas alucinações é o ponto em comum com a obra de Danny Boyle. Mas, o fato de Cheryl nunca ter estado em uma trilha em sua vida e a utilizar como uma forma de escape de sua vida real a torna mais próxima do filme de Sean Penn, já que em Na Natureza Selvagem a ideia do protagonista era se desligar da vida artificial que vivia.
Porém, até por Cheryl Strayed escrever o livro que serve de base para este filme, já dá para saber que não se deve esperar grandes tragédias. É um filme de jornada interior mesmo, tal qual um "Caminho de Santiago". Uma forma de aprendizado em formato de choque que parece loucura, mas vai construindo sentido a medida que avançamos com ela a cada quilômetro da trilha.
Reese Witherspoon nos apresenta um trabalho extremamente competente desnudando sua personagem aos poucos, em cada gesto. É visível sua transformação em cada fase da viagem e nos diversos momentos da vida que nos é mostrado em flashback. A menina comportada, a mulher perdida, a viciada sem rumo, a garota otimista, a mulher apavorada, a trilheira quase experiente. A forma de olhar, de se portar, até mesmo os detalhes de como montar a barraca ou cozinhar sua comida, tudo é construído de maneira crível. Fora, que ela segura boa parte da projeção sozinha.
Mas, ainda que tenha tudo isso, Livre acaba sendo um filme cansativo por sua extensa duração. 115 minutos pode não parecer tão longo, mas faz a jornada de Cheryl Strayed perder fôlego até pela ausência de tensão em boa parte dela. A imersão na estrada não é completa e fica sempre uma sensação de que nada demais vai acontecer. Mesmo quando são construídas situações de perigo. Nos prende mais o interesse em saber o porquê dela está ali, do que a viagem em si. E como ficamos sabendo isso muito antes do fim, o resto se torna quase desinteressante.
De qualquer maneira, Livre é bem filmado, tem um elenco afinado e nos faz embarcar em uma jornada de auto-descoberta que acaba respingando em nós mesmos, nossas escolhas, nossas vidas. Não que cada um precise encarar uma trilha de 4.200 Km para isso. Mas, é sempre um convite à reflexão.
Livre (Wild, 2014 / EUA)
Direção: Jean-Marc Vallée
Roteiro: Nick Hornby
Com: Reese Witherspoon, Laura Dern, Gaby Hoffmann
Duração: 115 min.
Jean-Marc Vallée constrói um prólogo angustiante e ao mesmo tempo literalmente libertador. É um momento crucial de sua trajetória e a vemos dar seu grito de liberdade, para retornar ao início da jornada. Um artifício que funciona para nos fisgar desde o princípio. Da mesma maneira que os flashbacks funcionam de maneira harmônica, nos explicando aos poucos porque aquela mulher está naquela trilha sozinha, sem nem ao menos ter experiência com aquilo.
É nesse ponto que o filme se aproxima e ao mesmo tempo se afasta de 127 Horas. A estrutura narrativa intercalando a personagem na trilha mesclando com suas lembranças e algumas alucinações é o ponto em comum com a obra de Danny Boyle. Mas, o fato de Cheryl nunca ter estado em uma trilha em sua vida e a utilizar como uma forma de escape de sua vida real a torna mais próxima do filme de Sean Penn, já que em Na Natureza Selvagem a ideia do protagonista era se desligar da vida artificial que vivia.
Porém, até por Cheryl Strayed escrever o livro que serve de base para este filme, já dá para saber que não se deve esperar grandes tragédias. É um filme de jornada interior mesmo, tal qual um "Caminho de Santiago". Uma forma de aprendizado em formato de choque que parece loucura, mas vai construindo sentido a medida que avançamos com ela a cada quilômetro da trilha.
Reese Witherspoon nos apresenta um trabalho extremamente competente desnudando sua personagem aos poucos, em cada gesto. É visível sua transformação em cada fase da viagem e nos diversos momentos da vida que nos é mostrado em flashback. A menina comportada, a mulher perdida, a viciada sem rumo, a garota otimista, a mulher apavorada, a trilheira quase experiente. A forma de olhar, de se portar, até mesmo os detalhes de como montar a barraca ou cozinhar sua comida, tudo é construído de maneira crível. Fora, que ela segura boa parte da projeção sozinha.
Mas, ainda que tenha tudo isso, Livre acaba sendo um filme cansativo por sua extensa duração. 115 minutos pode não parecer tão longo, mas faz a jornada de Cheryl Strayed perder fôlego até pela ausência de tensão em boa parte dela. A imersão na estrada não é completa e fica sempre uma sensação de que nada demais vai acontecer. Mesmo quando são construídas situações de perigo. Nos prende mais o interesse em saber o porquê dela está ali, do que a viagem em si. E como ficamos sabendo isso muito antes do fim, o resto se torna quase desinteressante.
De qualquer maneira, Livre é bem filmado, tem um elenco afinado e nos faz embarcar em uma jornada de auto-descoberta que acaba respingando em nós mesmos, nossas escolhas, nossas vidas. Não que cada um precise encarar uma trilha de 4.200 Km para isso. Mas, é sempre um convite à reflexão.
Livre (Wild, 2014 / EUA)
Direção: Jean-Marc Vallée
Roteiro: Nick Hornby
Com: Reese Witherspoon, Laura Dern, Gaby Hoffmann
Duração: 115 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
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2014-12-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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