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Quando Eu Era Vivo
Quando Eu Era Vivo
Antes que o ano termine, deixa eu falar aqui sobre este filme nacional que teve uma distribuição tão tímida, mas que conquistou por onde passou. Baseado no livro "A Arte de Produzir Efeito Sem Causa", de Lourenço Mutarelli, o Quando Eu Era Vivo instiga pelo terror bem desenvolvido de maneira tão simples.
Tudo começa quando Júnior volta para a casa de seu pai. Recém-separado e desempregado, ele passa os dias no sofá da casa, até que começa a encontrar objetos que foram de sua mãe. A obsessão pelo passado começa a consumir Júnior que vai modificando a rotina da residência, assustando seu pai e envolvendo a jovem inquilina Bruna, que passa a ajudá-lo. Entre presente e passado, natural e sobrenatural, coisas estranhas vão acontecendo.
As primeiras coisas que chamam a atenção no filme são a fotografia e a direção de arte. É interessante a forma como luz e objetos vão modificando completamente o cenário da casa, tornando-a assustadora sem nenhum efeito especial. Vamos vendo a transformação do local, mais denso, escuro, sinistro até, que vai acompanhando o estado mental de Júnior a medida que a obsessão vai tomando conta dele. A presença da mãe se torna quase palpável.
As imagens do passado em uma VHS antiga também ajudam a criar o clima, seja nos sonhos de Júnior ou na tela da televisão. É possível perceber o peso daqueles rituais estranhos, principalmente do gesso da cabeça. A forma como a mãe é quase uma sombra nas lembranças dele também é bastante significativa. Vemos sempre um vulto, um detalhe, sem nunca encará-la de frente, de maneira natural.
A construção do efeito de suspense é bastante competente na obra. Seja pela direção de Marco Dutra ou pelo roteiro assinado por ele junto a Gabriela Amaral Almeida. Em seus curtas, a roteirista e diretora já demonstra o flerte com o tom sombrio e estranho proposto por essa obra, o que deve ter ajudado na composição. Tudo soa esquisito ali, anti-natural, criando o desconforto e ao mesmo tempo curiosidade da plateia.
Marat Descartes como o protagonista Júnior, também demonstra extrema habilidade em nos convencer do drama do seu personagem. A sua transformação é visível nas pequenas expressões, no olhar perdido, nos gestos estranhos. Da mesma forma que Antonio Fagundes defende bem o pai preocupado e assustado por já ter vivido isso antes com o outro filho. Já Sandy, cumpre o papel apesar de continuar sendo Sandy atuando e não uma personagem completa. Principalmente, quando a colocam para cantar.
Mas, uma das cenas mais impressionantes do filme é quando o pai chama uma médium para examinar o filho. Apesar de alguns exageros, é interessante a forma com que tudo vai sendo conduzido sem cair na caricatura, nos dando verdade. Cada detalhe, desde a folha colocada na nunca, o vento, as reações do personagem, impressiona.
Quando Eu Era Vivo é daqueles filmes que nos deixa feliz de ver. Não que seja perfeito ou uma verdadeira obra-prima. Mas, é uma obra competente de gênero, que cumpre o seu papel de maneira simples, sem efeitos especiais, com uma boa história, bons atores e uma boa forma de contar. Demonstra que o Brasil tem competência para se arriscar mais em projetos diferentes.
Quando Eu Era Vivo (Quando Eu Era Vivo, 2014 / Brasil)
Direção: Marco Dutra
Roteiro: Gabriela Amaral Almeida e Marco Dutra
Com: Antônio Fagundes, Marat Descartes, Sandy Leah
Duração: 108 min.
Tudo começa quando Júnior volta para a casa de seu pai. Recém-separado e desempregado, ele passa os dias no sofá da casa, até que começa a encontrar objetos que foram de sua mãe. A obsessão pelo passado começa a consumir Júnior que vai modificando a rotina da residência, assustando seu pai e envolvendo a jovem inquilina Bruna, que passa a ajudá-lo. Entre presente e passado, natural e sobrenatural, coisas estranhas vão acontecendo.
As primeiras coisas que chamam a atenção no filme são a fotografia e a direção de arte. É interessante a forma como luz e objetos vão modificando completamente o cenário da casa, tornando-a assustadora sem nenhum efeito especial. Vamos vendo a transformação do local, mais denso, escuro, sinistro até, que vai acompanhando o estado mental de Júnior a medida que a obsessão vai tomando conta dele. A presença da mãe se torna quase palpável.
As imagens do passado em uma VHS antiga também ajudam a criar o clima, seja nos sonhos de Júnior ou na tela da televisão. É possível perceber o peso daqueles rituais estranhos, principalmente do gesso da cabeça. A forma como a mãe é quase uma sombra nas lembranças dele também é bastante significativa. Vemos sempre um vulto, um detalhe, sem nunca encará-la de frente, de maneira natural.
A construção do efeito de suspense é bastante competente na obra. Seja pela direção de Marco Dutra ou pelo roteiro assinado por ele junto a Gabriela Amaral Almeida. Em seus curtas, a roteirista e diretora já demonstra o flerte com o tom sombrio e estranho proposto por essa obra, o que deve ter ajudado na composição. Tudo soa esquisito ali, anti-natural, criando o desconforto e ao mesmo tempo curiosidade da plateia.
Marat Descartes como o protagonista Júnior, também demonstra extrema habilidade em nos convencer do drama do seu personagem. A sua transformação é visível nas pequenas expressões, no olhar perdido, nos gestos estranhos. Da mesma forma que Antonio Fagundes defende bem o pai preocupado e assustado por já ter vivido isso antes com o outro filho. Já Sandy, cumpre o papel apesar de continuar sendo Sandy atuando e não uma personagem completa. Principalmente, quando a colocam para cantar.
Mas, uma das cenas mais impressionantes do filme é quando o pai chama uma médium para examinar o filho. Apesar de alguns exageros, é interessante a forma com que tudo vai sendo conduzido sem cair na caricatura, nos dando verdade. Cada detalhe, desde a folha colocada na nunca, o vento, as reações do personagem, impressiona.
Quando Eu Era Vivo é daqueles filmes que nos deixa feliz de ver. Não que seja perfeito ou uma verdadeira obra-prima. Mas, é uma obra competente de gênero, que cumpre o seu papel de maneira simples, sem efeitos especiais, com uma boa história, bons atores e uma boa forma de contar. Demonstra que o Brasil tem competência para se arriscar mais em projetos diferentes.
Quando Eu Era Vivo (Quando Eu Era Vivo, 2014 / Brasil)
Direção: Marco Dutra
Roteiro: Gabriela Amaral Almeida e Marco Dutra
Com: Antônio Fagundes, Marat Descartes, Sandy Leah
Duração: 108 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Quando Eu Era Vivo
2014-12-23T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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