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Milhem Cortaz
Paolla Oliveira
Paulo Machline
Trinta
Trinta
Trinta é um filme estranho. Não que seja ruim ou equivocado, mas a sensação ao final é de que falta algo.
O filme não chega a ser uma cinebiografia completa. O argumento se concentra na preparação do Carnaval de 1974, quando Joãosinho Trinta colocou a Salgueiro na rua pela primeira vez como Carnavalesco da Escola. É uma escolha feliz, já que falar da vida de uma pessoa é sempre algo complicado. Até por isso, soa excesso o retorno à década de 60 para mostrar quando o artista chegou ao Rio tentando ser bailarino do Municipal.
Entendo a necessidade de estabelecer as relações dele com Zeni, personagem de Paolla Oliveira e seu marido Fernando Pamplona, o carnavalesco interpretado por Paulo Tiefenthaler. Mas, na harmonia da curva dramática da trama não se torna uma escolha feliz. Fica uma sensação de tema pouco desenvolvido, quase um vislumbre da trajetória do personagem. A única coisa realmente interessante ali, é a passagem de tempo mostrando o nome e cargo de João mudando a cada novo programa de peça.
De qualquer maneira, a forma como o roteiro foca na preparação do Carnaval de 74 é interessante. O preconceito sofrido pelo artista, o descrédito dos integrantes da escola, as dificuldades no barracão, o seu processo de criação. Mergulhando nisso, vamos junto com o personagem, entendendo seu mundo, seu estilo, sua história. E nesse ponto, precisamos destacar a entrega de Matheus Nachtergaele, ator que consegue nos apresentar um Joãosinho Trinta próprio, mas que traduz o verdadeiro artista.
O restante do elenco também está bem, principalmente Milhem Cortaz que faz o principal adversário de Joãosinho. Tião era o chefe do barracão e sonhava em assumir a escola com a saída de Pamplona. A cena em que o personagem de Fabrício Boliveira conta para ele que João foi contratado demonstra todo o talento do ator, que consegue nos passar emoções diversas apenas com o olhar e um gesto.
Além do elenco, o maior mérito do filme de Paulo Machline é mesmo conseguir nos fazer mergulhar no processo criativo do personagem. A forma como ele mistura lembranças do artista com a avó, pensamentos e imagens sendo criadas com as peças finais no barracão é bastante feliz. Tudo é passado sem excesso de didatismo, com uma criatividade pontual. E mesmo os que não conhecem os pormenores do Carnaval do Rio de Janeiro conseguem entender.
Apesar de uma boa resolução para cena final, no entanto, fica a sensação de que falta algo para completar aquela história. A trama parece interrompida no momento-chave, nos dando uma quase angústia incômoda que não é do final aberto bem realizado, mas de uma interrupção mesmo.
De qualquer maneira, Trinta é um filme bem realizado. Em suas escolhas, consegue nos passar o essencial daquele artista e a forma como ele revolucionou o Carnaval do Rio de Janeiro. Cheio de luxo e criatividade, afinal, "quem gosta de pobreza é intelectual".
Trinta (Trinta, 2014 / Brasil)
Direção: Paulo Machline
Roteiro: Paulo Machline, Claudio Galperin, Felipe Sholl, Mauricio Zacharias
Com: Matheus Nachtergaele, Paolla Oliveira, Milhem Cortaz, Fabrício Boliveira, Ernani Moraes, Marco Ricca, Mariana Nunes
Duração: 92 min.
O filme não chega a ser uma cinebiografia completa. O argumento se concentra na preparação do Carnaval de 1974, quando Joãosinho Trinta colocou a Salgueiro na rua pela primeira vez como Carnavalesco da Escola. É uma escolha feliz, já que falar da vida de uma pessoa é sempre algo complicado. Até por isso, soa excesso o retorno à década de 60 para mostrar quando o artista chegou ao Rio tentando ser bailarino do Municipal.
Entendo a necessidade de estabelecer as relações dele com Zeni, personagem de Paolla Oliveira e seu marido Fernando Pamplona, o carnavalesco interpretado por Paulo Tiefenthaler. Mas, na harmonia da curva dramática da trama não se torna uma escolha feliz. Fica uma sensação de tema pouco desenvolvido, quase um vislumbre da trajetória do personagem. A única coisa realmente interessante ali, é a passagem de tempo mostrando o nome e cargo de João mudando a cada novo programa de peça.
De qualquer maneira, a forma como o roteiro foca na preparação do Carnaval de 74 é interessante. O preconceito sofrido pelo artista, o descrédito dos integrantes da escola, as dificuldades no barracão, o seu processo de criação. Mergulhando nisso, vamos junto com o personagem, entendendo seu mundo, seu estilo, sua história. E nesse ponto, precisamos destacar a entrega de Matheus Nachtergaele, ator que consegue nos apresentar um Joãosinho Trinta próprio, mas que traduz o verdadeiro artista.
O restante do elenco também está bem, principalmente Milhem Cortaz que faz o principal adversário de Joãosinho. Tião era o chefe do barracão e sonhava em assumir a escola com a saída de Pamplona. A cena em que o personagem de Fabrício Boliveira conta para ele que João foi contratado demonstra todo o talento do ator, que consegue nos passar emoções diversas apenas com o olhar e um gesto.
Além do elenco, o maior mérito do filme de Paulo Machline é mesmo conseguir nos fazer mergulhar no processo criativo do personagem. A forma como ele mistura lembranças do artista com a avó, pensamentos e imagens sendo criadas com as peças finais no barracão é bastante feliz. Tudo é passado sem excesso de didatismo, com uma criatividade pontual. E mesmo os que não conhecem os pormenores do Carnaval do Rio de Janeiro conseguem entender.
Apesar de uma boa resolução para cena final, no entanto, fica a sensação de que falta algo para completar aquela história. A trama parece interrompida no momento-chave, nos dando uma quase angústia incômoda que não é do final aberto bem realizado, mas de uma interrupção mesmo.
De qualquer maneira, Trinta é um filme bem realizado. Em suas escolhas, consegue nos passar o essencial daquele artista e a forma como ele revolucionou o Carnaval do Rio de Janeiro. Cheio de luxo e criatividade, afinal, "quem gosta de pobreza é intelectual".
Trinta (Trinta, 2014 / Brasil)
Direção: Paulo Machline
Roteiro: Paulo Machline, Claudio Galperin, Felipe Sholl, Mauricio Zacharias
Com: Matheus Nachtergaele, Paolla Oliveira, Milhem Cortaz, Fabrício Boliveira, Ernani Moraes, Marco Ricca, Mariana Nunes
Duração: 92 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Trinta
2014-12-07T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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