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O Aviador
O Aviador
Em 2004, Martin Scorsese levou à tela parte da vida conturbada de Howard Hughes. Milionário excêntrico que foi de tudo um pouco, inclusive, um bom diretor cinematográfico. Mas, sua paixão era mesmo a aviação. Após falar de Vidas ao Vento, resolvi resgatar este belo filme aqui.
Howard Hughes herdou uma fortuna de seu pai, mas não se contentou com isso. Visionário e extremamente criativo, ele estava sempre disposto a quebrar limites. Construiu aviões diversos, caças rápidos, comerciais e até um gigante que deu o nome de Hércules. Foi também diretor e produtor cinematográfico, mexendo com os padrões de Hollywood na época, lançando o, até então, mais caro filme da história. Namorou estrelas como Katharine Hepburn e Ava Gardner. E comprou briga com corporações que o levaram até a uma CPI no senado.
O roteiro de John Logan faz um recorte na vida desse homem dos anos 20 aos anos 40, época mais produtiva de sua vida. Após um breve prólogo que mostra a origem de sua hipocondria, somos lançados no meio das gravações de Anjos do Inferno. A superprodução levou dois anos sendo feita e custou 4 milhões de dólares, um absurdo para a época. Principalmente, por ter sido completamente independente. Houve excessos, claro, como utilizar 26 câmeras para filmar uma sequência aérea, ou esperar meses para regravá-la, porque precisava de nuvens no céu. Mas, buscar pela perfeição também fazia parte da loucura do personagem.
Personagem este que é muito bem desenvolvido por Leonardo DiCaprio. Não por acaso, muitos apontam como sendo o papel que merecia ter lhe dado um Oscar. DiCaprio dá a Howard Hughes um tom perfeito, extremamente cuidadoso nos pequenos detalhes, principalmente em suas crises hipocondríacas. A cena em um banheiro, por exemplo, onde lava as mãos com seu próprio sabonete, usa uma tolha limpa e fica esperando que alguém abra a porta para sair sem tocar na maçaneta é incrível.
O único lugar em que Hughes parecia se sentir seguro era no ar. Não por acaso ele se auto-intitulava O Aviador. Era essa sua maior paixão, mesmo quando estava no auge do romance com Katharine Hepburn, esse era o código deles, seu refúgio, a forma que ela o acalmava após alguma crise ou problema. Uma espécie de pacto também, que ao mesmo tempo que os aproximava, acabou por afastá-los.
Um contraste interessante é quando ela o leva para um almoço na casa da família Hepburn. A caracterização da excentricidade própria, a forma como ele fica deslocado, a modificação da postura dela, as conversas truncadas, tudo cria um caricatura instigante que mostra um pouco do que ela tinha alertado a ele quando começou a ter fama. "Somos pessoas estranhas, não podemos deixar que revelem nossa intimidade ou assustamos o público." E essa foi uma das missões dos agentes mais próximos de Howard Hughes, guardar suas excentricidades e transtornos entre quatro paredes para preservar sua imagem e seus negócios.
E, para além da boa composição de personagem, retrato de uma época e de uma parte do mundo do cinema e do comércio aéreo, O Aviador é também um filme extremamente competente em sua construção de imagens. A composição da mise-en-scène, a fotografia, os efeitos especiais culminam em uma direção precisa de Martin Scorsese que não nos conta sobre um personagem, nos mostra em detalhes. Em nenhum momento é necessário falar por exemplo que ele é hipocondríaco. Vemos isso em cada cena. Da mesma forma que vemos sua paixão pela aeronáutica ou seu perfeccionismo nos filmes. Está tudo em tela de maneira sutil, sem ser didático.
O Aviador é um filme envolvente, tanto que sua longa duração não é sentida, passando de maneira rápida. Nos envolvemos com o personagem, sua energia, sua paixão, sua multifunção e embarcamos junto nessa jornada insólita em busca de ultrapassar limites. Uma obra que merece sempre uma revisita.
O Aviador (The Aviator, 2004 / EUA)
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: John Logan
Com: Leonardo DiCaprio, Cate Blanchett, Kate Beckinsale, John C. Reilly, Alec Baldwin, Alan Alda, Ian Holm
Duração: 170 min.
Howard Hughes herdou uma fortuna de seu pai, mas não se contentou com isso. Visionário e extremamente criativo, ele estava sempre disposto a quebrar limites. Construiu aviões diversos, caças rápidos, comerciais e até um gigante que deu o nome de Hércules. Foi também diretor e produtor cinematográfico, mexendo com os padrões de Hollywood na época, lançando o, até então, mais caro filme da história. Namorou estrelas como Katharine Hepburn e Ava Gardner. E comprou briga com corporações que o levaram até a uma CPI no senado.
O roteiro de John Logan faz um recorte na vida desse homem dos anos 20 aos anos 40, época mais produtiva de sua vida. Após um breve prólogo que mostra a origem de sua hipocondria, somos lançados no meio das gravações de Anjos do Inferno. A superprodução levou dois anos sendo feita e custou 4 milhões de dólares, um absurdo para a época. Principalmente, por ter sido completamente independente. Houve excessos, claro, como utilizar 26 câmeras para filmar uma sequência aérea, ou esperar meses para regravá-la, porque precisava de nuvens no céu. Mas, buscar pela perfeição também fazia parte da loucura do personagem.
Personagem este que é muito bem desenvolvido por Leonardo DiCaprio. Não por acaso, muitos apontam como sendo o papel que merecia ter lhe dado um Oscar. DiCaprio dá a Howard Hughes um tom perfeito, extremamente cuidadoso nos pequenos detalhes, principalmente em suas crises hipocondríacas. A cena em um banheiro, por exemplo, onde lava as mãos com seu próprio sabonete, usa uma tolha limpa e fica esperando que alguém abra a porta para sair sem tocar na maçaneta é incrível.
O único lugar em que Hughes parecia se sentir seguro era no ar. Não por acaso ele se auto-intitulava O Aviador. Era essa sua maior paixão, mesmo quando estava no auge do romance com Katharine Hepburn, esse era o código deles, seu refúgio, a forma que ela o acalmava após alguma crise ou problema. Uma espécie de pacto também, que ao mesmo tempo que os aproximava, acabou por afastá-los.
Um contraste interessante é quando ela o leva para um almoço na casa da família Hepburn. A caracterização da excentricidade própria, a forma como ele fica deslocado, a modificação da postura dela, as conversas truncadas, tudo cria um caricatura instigante que mostra um pouco do que ela tinha alertado a ele quando começou a ter fama. "Somos pessoas estranhas, não podemos deixar que revelem nossa intimidade ou assustamos o público." E essa foi uma das missões dos agentes mais próximos de Howard Hughes, guardar suas excentricidades e transtornos entre quatro paredes para preservar sua imagem e seus negócios.
E, para além da boa composição de personagem, retrato de uma época e de uma parte do mundo do cinema e do comércio aéreo, O Aviador é também um filme extremamente competente em sua construção de imagens. A composição da mise-en-scène, a fotografia, os efeitos especiais culminam em uma direção precisa de Martin Scorsese que não nos conta sobre um personagem, nos mostra em detalhes. Em nenhum momento é necessário falar por exemplo que ele é hipocondríaco. Vemos isso em cada cena. Da mesma forma que vemos sua paixão pela aeronáutica ou seu perfeccionismo nos filmes. Está tudo em tela de maneira sutil, sem ser didático.
O Aviador é um filme envolvente, tanto que sua longa duração não é sentida, passando de maneira rápida. Nos envolvemos com o personagem, sua energia, sua paixão, sua multifunção e embarcamos junto nessa jornada insólita em busca de ultrapassar limites. Uma obra que merece sempre uma revisita.
O Aviador (The Aviator, 2004 / EUA)
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: John Logan
Com: Leonardo DiCaprio, Cate Blanchett, Kate Beckinsale, John C. Reilly, Alec Baldwin, Alan Alda, Ian Holm
Duração: 170 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Aviador
2015-01-03T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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