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Selma: Uma Luta Pela Igualdade
Selma: Uma Luta Pela Igualdade
"Eu tenho um sonho" disse Martin Luther King Jr. no início do seu mais famoso discurso após a “Marcha sobre Washington” que fez o presidente Lyndon B. Johnson sancionar a Lei de Direitos Civis de 1964 que proibiu a segregação e discriminação racial. O problema é que não bastava ter lei. Era preciso fazer cumpri-las.
Selma: Uma Luta Pela Igualdade é sobre isso. A luta de Martin Luther King Jr. e o movimento negro norte-americano para conseguir o seu direito constitucional de voto. Voto que, como ele mesmo explica ao presidente, não é apenas um direito, mas uma proteção contra as atrocidades que continuavam a acontecer, principalmente, no sul do país. Sem representação nos setores públicos, sem direito a participar de um júri popular, sem o direito de voz, de nada adiantaria uma lei no papel, ainda mais para um país como os Estados Unidos, onde cada estado tem sua própria autonomia legal.
O maior intuito da obra dirigida por Ava DuVernay é conseguido. Impactar a plateia em favor da causa com cenas fortes, discursos emocionados e apelo ao nosso senso de humanidade. A estratégia do grupo liderado por Luther King é exatamente essa. De maneira pacífica, ir impondo suas presenças, acampando em frente ao tribunal, marchando pelas ruas ou organizando uma marcha histórica da cidade de Selma até a capital do estado, Montgomery. E se a polícia intervém com violência, bom, impacta os que assistem pela TV.
É assim que vemos manifestações absurdas de violência como as quatro meninas na igreja, ou o rapaz em um bar escorado em uma parede repleta de fotos de negros de destaque no esporte. Ou os dois homens em um beco escuro à noite. E claro, a cena da ponte. Chamar a atenção da América, inclusive alertando para os soldados que estão sendo enviados para morrer no Vietnã em nome da paz, enquanto que ela não é conquistada em seu próprio solo.
David Oyelowo encarna um Martin Luther King muito mais humano do que estamos acostumados a ver. Um homem que realmente tem um sonho, mas também tem medo, se preocupa com a segurança da família e se cansa de ver tantos morrendo por uma causa que ele não tem mais certeza de que vai ser vitoriosa. Vê-lo fraquejar acaba tornando-o mais forte, pois é um mártir humano, próximo de nós. Sendo assim, suas atitudes se tornam ainda mais admiráveis.
A apresentadora Oprah Winfrey, que é uma também das produtoras do filme, faz uma participação como Annie Lee Cooper, uma mulher que tenta conseguir sua autorização de voto, sem sucesso e se junta à causa, apanhando, batendo e resistindo como todos em uma interpretação correta, ainda que sem grandes destaques. Outros atores também fazem participações como Cuba Gooding Jr., Lorraine Toussaint e Carmen Ejogo como a esposa do líder. Destacam-se ainda os atores Tom Wilkinson e Tim Roth que interpretam respectivamente o presidente Lyndon B. Johnson e o governador do Alabama George Wallace que possuem uma cena de um diálogo extremamente irônico.
O filme mantém o clima de tensão e negociação por toda a projeção, principalmente na preparação e expectativa da marcha de Selma. O tempo é dilatado em um ritmo de espera, mas que em nenhum momento dá a sensação de estática. Vamos junto àquela construção envolvente e emocionante que tem em sua trilha sonora um grande aliado, não exagerando na dose do melodrama. O que quebra um pouco o ritmo são uns letterings com registros do FBI, demonstrando que eles vigiavam o movimento de perto.
Selma: Uma Luta Pela Igualdade é bastante feliz em cumprir o seu intento: fisgar a população para a reflexão sobre as atrocidades cometidas em nome de um preconceito absurdo. E que nos deixa ainda mais assustados em pensar que, mesmo hoje, com um presidente re-eleito negro, os norte-americanos, e o mundo inteiro, ainda tenham que lutar e discutir questões raciais sem realizar completamente o sonho que Martin Luther King Jr. compartilhou.
Selma: Uma Luta Pela Igualdade (Selma, 2014 / EUA)
Direção: Ava DuVernay
Roteiro: Paul Webb
Com: David Oyelowo, Carmen Ejogo, Tim Roth, Tom Wilkinson, Oprah Winfrey
Duração: 128 min.
Selma: Uma Luta Pela Igualdade é sobre isso. A luta de Martin Luther King Jr. e o movimento negro norte-americano para conseguir o seu direito constitucional de voto. Voto que, como ele mesmo explica ao presidente, não é apenas um direito, mas uma proteção contra as atrocidades que continuavam a acontecer, principalmente, no sul do país. Sem representação nos setores públicos, sem direito a participar de um júri popular, sem o direito de voz, de nada adiantaria uma lei no papel, ainda mais para um país como os Estados Unidos, onde cada estado tem sua própria autonomia legal.
O maior intuito da obra dirigida por Ava DuVernay é conseguido. Impactar a plateia em favor da causa com cenas fortes, discursos emocionados e apelo ao nosso senso de humanidade. A estratégia do grupo liderado por Luther King é exatamente essa. De maneira pacífica, ir impondo suas presenças, acampando em frente ao tribunal, marchando pelas ruas ou organizando uma marcha histórica da cidade de Selma até a capital do estado, Montgomery. E se a polícia intervém com violência, bom, impacta os que assistem pela TV.
É assim que vemos manifestações absurdas de violência como as quatro meninas na igreja, ou o rapaz em um bar escorado em uma parede repleta de fotos de negros de destaque no esporte. Ou os dois homens em um beco escuro à noite. E claro, a cena da ponte. Chamar a atenção da América, inclusive alertando para os soldados que estão sendo enviados para morrer no Vietnã em nome da paz, enquanto que ela não é conquistada em seu próprio solo.
David Oyelowo encarna um Martin Luther King muito mais humano do que estamos acostumados a ver. Um homem que realmente tem um sonho, mas também tem medo, se preocupa com a segurança da família e se cansa de ver tantos morrendo por uma causa que ele não tem mais certeza de que vai ser vitoriosa. Vê-lo fraquejar acaba tornando-o mais forte, pois é um mártir humano, próximo de nós. Sendo assim, suas atitudes se tornam ainda mais admiráveis.
A apresentadora Oprah Winfrey, que é uma também das produtoras do filme, faz uma participação como Annie Lee Cooper, uma mulher que tenta conseguir sua autorização de voto, sem sucesso e se junta à causa, apanhando, batendo e resistindo como todos em uma interpretação correta, ainda que sem grandes destaques. Outros atores também fazem participações como Cuba Gooding Jr., Lorraine Toussaint e Carmen Ejogo como a esposa do líder. Destacam-se ainda os atores Tom Wilkinson e Tim Roth que interpretam respectivamente o presidente Lyndon B. Johnson e o governador do Alabama George Wallace que possuem uma cena de um diálogo extremamente irônico.
O filme mantém o clima de tensão e negociação por toda a projeção, principalmente na preparação e expectativa da marcha de Selma. O tempo é dilatado em um ritmo de espera, mas que em nenhum momento dá a sensação de estática. Vamos junto àquela construção envolvente e emocionante que tem em sua trilha sonora um grande aliado, não exagerando na dose do melodrama. O que quebra um pouco o ritmo são uns letterings com registros do FBI, demonstrando que eles vigiavam o movimento de perto.
Selma: Uma Luta Pela Igualdade é bastante feliz em cumprir o seu intento: fisgar a população para a reflexão sobre as atrocidades cometidas em nome de um preconceito absurdo. E que nos deixa ainda mais assustados em pensar que, mesmo hoje, com um presidente re-eleito negro, os norte-americanos, e o mundo inteiro, ainda tenham que lutar e discutir questões raciais sem realizar completamente o sonho que Martin Luther King Jr. compartilhou.
Selma: Uma Luta Pela Igualdade (Selma, 2014 / EUA)
Direção: Ava DuVernay
Roteiro: Paul Webb
Com: David Oyelowo, Carmen Ejogo, Tim Roth, Tom Wilkinson, Oprah Winfrey
Duração: 128 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Selma: Uma Luta Pela Igualdade
2015-02-06T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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