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Uma Garrafa no Mar de Gaza
Uma Garrafa no Mar de Gaza
Em determinado momento do filme, a jovem Tal Levine diz ao seu correspondente Naïm: "Eu cresci na França, lá não tem bomba". Chega a ser irônico ouvir isso após os atentados recentes, mas o que Uma Garrafa no Mar de Gaza tenta nos mostrar é aquilo que qualquer pessoa sensata quer: a esperança de paz não apenas no Oriente Médio, na Faixa de Gaza, ou mesmo na França, mas no mundo inteiro.
Tal Levine é uma jovem francesa de origem judia que mora em Jerusalém com sua família. Já Naïm é um palestino que mora em Gaza. A história dos dois começa a se cruzar quando Naïm e seus amigos encontram uma garrafa boiando no mar, perto da praia que frequentam. Uma mensagem da garota de Jerusalém fala do terrorismo e de sua incompreensão daquela realidade, e faz um convite para uma conversa através de e-mails.
Há absurdos, romantismo em excesso e coincidências fílmicas que podem tirar o público dessa história, mas a forma como Thierry Binisti constrói a relação dos dois faz sentido e não deixa de ser uma boa metáfora dos sonhos e da inquietação de jovens que convivem com essa realidade. A começar pela forma como a garrafa é encontrada.
Os amigos jovens palestinos brincam e se divertem com a atitude maluca da moça, desdenham qualquer possibilidade de comunicação e por um tempo, nem mesmo sabemos quem respondeu ao e-mail. Um certo clima de curiosidade, uma recusa do chamado e até mesmo um desdém em relação a possibilidade do argumento.
As primeiras mensagens trocadas entre os jovens também são difíceis. Ele ironizando suas perguntas, ela excessivamente sonhadora. Tanto que os codinomes Gazaman e Miss Peace dão o dom das conversas. Aos poucos eles vão compreendendo que não são tão diferentes, que não querem algo tão distante e o próprio sentimento de cumplicidade vai surgindo apesar de estarem em lados opostos de uma guerra.
Não deixa de ser mais uma espécie de "Romeu e Julieta", é verdade. Por trás desse pano de fundo de um conflito milenar por terra, há a história de dois jovens que se conhecem, começam a conversar, se relacionar (ainda que virtualmente) e se envolvem cada vez mais emocionalmente. Um amor proibido, sem perspectivas que ainda passa por desconfianças de ambos os lados, como quando Naïm é torturado ou quando Tal tem que enfrentar a revolta dos pais.
No final das contas, Uma Garrafa no Mar de Gaza não discute o conflito, não toma partido, apesar de ter um olhar bem mais complacente para a causa palestina, nem aponta soluções. É apenas o olhar quase ingênuo de dois jovens que querem apenas viver suas vidas sem tanto peso em suas costas. E isso não deixa de ter sua beleza.
Uma Garrafa no Mar de Gaza (Une bouteille à la mer, 2011 / França)
Direção: Thierry Binisti
Roteiro: Thierry Binisti, Valérie Zenatti
Com: Agathe Bonitzer, Mahmud Shalaby, Hiam Abbass
Duração: 100 min.
Tal Levine é uma jovem francesa de origem judia que mora em Jerusalém com sua família. Já Naïm é um palestino que mora em Gaza. A história dos dois começa a se cruzar quando Naïm e seus amigos encontram uma garrafa boiando no mar, perto da praia que frequentam. Uma mensagem da garota de Jerusalém fala do terrorismo e de sua incompreensão daquela realidade, e faz um convite para uma conversa através de e-mails.
Há absurdos, romantismo em excesso e coincidências fílmicas que podem tirar o público dessa história, mas a forma como Thierry Binisti constrói a relação dos dois faz sentido e não deixa de ser uma boa metáfora dos sonhos e da inquietação de jovens que convivem com essa realidade. A começar pela forma como a garrafa é encontrada.
Os amigos jovens palestinos brincam e se divertem com a atitude maluca da moça, desdenham qualquer possibilidade de comunicação e por um tempo, nem mesmo sabemos quem respondeu ao e-mail. Um certo clima de curiosidade, uma recusa do chamado e até mesmo um desdém em relação a possibilidade do argumento.
As primeiras mensagens trocadas entre os jovens também são difíceis. Ele ironizando suas perguntas, ela excessivamente sonhadora. Tanto que os codinomes Gazaman e Miss Peace dão o dom das conversas. Aos poucos eles vão compreendendo que não são tão diferentes, que não querem algo tão distante e o próprio sentimento de cumplicidade vai surgindo apesar de estarem em lados opostos de uma guerra.
Não deixa de ser mais uma espécie de "Romeu e Julieta", é verdade. Por trás desse pano de fundo de um conflito milenar por terra, há a história de dois jovens que se conhecem, começam a conversar, se relacionar (ainda que virtualmente) e se envolvem cada vez mais emocionalmente. Um amor proibido, sem perspectivas que ainda passa por desconfianças de ambos os lados, como quando Naïm é torturado ou quando Tal tem que enfrentar a revolta dos pais.
No final das contas, Uma Garrafa no Mar de Gaza não discute o conflito, não toma partido, apesar de ter um olhar bem mais complacente para a causa palestina, nem aponta soluções. É apenas o olhar quase ingênuo de dois jovens que querem apenas viver suas vidas sem tanto peso em suas costas. E isso não deixa de ter sua beleza.
Uma Garrafa no Mar de Gaza (Une bouteille à la mer, 2011 / França)
Direção: Thierry Binisti
Roteiro: Thierry Binisti, Valérie Zenatti
Com: Agathe Bonitzer, Mahmud Shalaby, Hiam Abbass
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Uma Garrafa no Mar de Gaza
2015-02-27T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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