
Ainda que boa parte dele seja construída em uma linguagem tradicional de um documentário com narração em voz over e imagens, essa voz que ouvimos não é qualquer voz, já que emula a voz de Roger, que nos últimos anos de sua vida necessitou de uma voz mecânica para falar, após fazer uma operação no maxilar. E o texto é do seu diário que também leva o nome life itself, onde fala um pouco de sua trajetória. Ou seja, é um filme bastante pessoal.

Há uma estrutura quase linear no roteiro do documentário, interrompida apenas pelas cenas no hospital. Começamos, então, conhecendo melhor Roger Ebert jornalista e sua vocação para a escrita. Não por acaso ganhou um Pulitzer, prêmio máximo do jornalismo e literatura norte-americano. Ele foi editor de jornal quando era ainda muito jovem e todos os depoentes reforçam sua maturidade ali.

Esta sua outra atividade acaba puxando uma questão que será desenvolvida mais a frente no documentário. Críticos amigos de cineastas. Um dos depoentes diz que deu três estrelas a um dos filmes porque Roger era seu amigo, depois consertou dizendo que era três estrelas de dez. Roger Ebert era amigo de cineastas, o que nunca o impediu de ser justo com suas avaliações, mas muito criticavam isso no meio. O que é um bobagem.

É impressionante os depoimentos dos cineastas falando da generosidade e incentivo que o crítico deu às suas carreiras. Principalmente em um mundo em que crítico é visto como pessoa frustrada, mal amada que critica por não saber fazer. Roger Ebert conseguia ser igual a bronca de mãe, apontava os erros, mas com amor pela arte que tanto o empolgava. Isso, por si só, já nos serve de inspiração. E, além do mais, ele era conhecido por dar voz a cineastas iniciantes, como um verdadeiro desbravador de pérolas desconhecidas.
O filme ainda dedica boa parte de sua projeção para falar da parceria e rixa com o crítico Gene Siskel. A rivalidade começou no jornal impresso. Roger era crítico do Chicago Sun Times e Gene do Tribute. A situação piorou quando os dois foram convidados para apresentar um programa de televisão juntos. Era um duelo eterno que, no fundo, escondia uma admiração mútua.
No final, Life itself é um presente para todos que admiravam o trabalho de Roger Ebert e para todos que amam o ofício da crítica. Um exemplo que se reconstrói na tela com uma força impressionante e nos faz pensar.
Life itself (2014 / EUA)
Direção: Steve James
Roteiro: Steve James e Roger Ebert
Duração: 120 min.