
O filme de Hector Babenco mostra a sina de meninos de rua na década de 80, que não se diferencia muito de agora. Seus pequenos delitos, o sofrimento na FEBEM e a tentativa de encontrar seu lugar no mundo. Pixote é um desses garotos, quase uma criança, que vivencia o horror do reformatório e consegue fugir com alguns deles. Mas, a realidade das ruas também não é muito diferente, com pessoas que os engana e dificuldades de aceitação.

O simbolismo do gesto é extremamente forte. Na verdade, essa é a busca eterna de Pixote e muitos meninos de rua, a segurança do colo materno, o amor, o acolhimento, a segurança que isso traz para o bebê que chega a esse mundo. A proteção dos braços, o alimento do seio, o calor de seu corpo. Coisas que Pixote não teve.

Temos, então, um plano médio de Sueli, ela continua lamentando a morte de Dito. E retornamos ao plano inicial, com os dois enquadrados. Sueli se aproxima de Pixote e pede que ele vá com ela para Minas Gerais, que não vá embora porque ela não sabe viver sozinha. O contraste da fala e tensão da cena com a música frenética da televisão deixa tudo ainda mais angustiante. Pixote não fala nada e olha novamente para a televisão e, com o olhar dele, mais uma vez vemos as Chacretes.

A iluminação é baixa, e os demais objetos do quarto estão mais nítidos que os dois deitados no centro da cama quase em penumbra. E é assim que Pixote busca o seio de Sueli. A prostituta segura o bico do seio como uma mãe com os dois dedos apertando para sair o leite e Pixote começa a mamar, enquanto ela o nina. "Mama, meu filhinho, mamãe está aqui com você".

Devagar, Pixote se levanta, tudo com a câmera parada, apenas contemplando a cena. Os dois se olham e ela diz "vai". Enquanto isso na televisão, ouvimos o coro "olé, olá, o Chacrinha está botando pra quebrar", em mais um ponto de ironia. Pixote calça o tênis que é mostrado em plano detalhe. Levanta, encara Sueli, o vemos em close e depois em plano médio pegando sua arma, seu casaco, tudo com muita calma e sai. Só, então, entra uma trilha melancólica que acompanha seus passos finais, não apenas saindo do quarto de Sueli, mas na cena final, no trilho do trem.