
O filme começa em preto e branco, planos rápidos, angústia do mar, processo de viagem, montagem do circo e mesmo os bastidores do espetáculo em andamento funcionam como prólogo. É quando Zolah salta de seu canhão em direção à lona que a cor chega a tela, como se abrisse aquele mundo ali, no retorno do filho pródigo, com muitas expectativas, encantos, mas também todos os medos e riscos do passado.

Isso não deixa de ser estranho, mas é como se Zolah, em uma metáfora do homem-bala que é no circo, fosse uma ebulição sensual e sexual. Não por acaso, passa boa parte de projeção tendo relações sexuais diversas com mulheres também diversas. A facilidade com que leva nativas, circenses ou turistas para a cama é impressionante. E também impressiona o fato de, diante de tanto prazer, ele continuar insatisfeito porque aquela que realmente queria lhe é proibida.


Na construção daquele dia a dia na ilha e da gradual transformação dos integrantes do circo nela, temos ainda um recurso interessante para nos mostrar as atrações do espetáculo, como se uma noite completa estivesse fragmentada em várias, e, à cada visita, vamos assistindo uma das apresentações, sem repetição, construindo aos poucos o todo em nossa mente.
Sangue Azul é um filme onde tudo e nada acontece. E, como sentencia Kaleb, não nos deve dar a certeza de nada. Poderia se estruturar melhor em sua fábula e não se embevecer tanto com a magia das paisagens da ilha e a alegria do circo. De qualquer maneira, é um espetáculo visual e sensorial bastante instigante.
Sangue Azul (Sangue Azul, 2015 / Brasil)
Direção: Lírio Ferreira
Roteiro: Fellipe Barbosa, Lírio Ferreira, Sérgio Oliveira
Com: Daniel de Oliveira, Caroline Abras, Sandra Corveloni, Matheus Nachtergaele, Laura Ramos, Milhem Cortaz
Duração: 120 min.