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Varilux2016
Um Homem, Uma Mulher
Um Homem, Uma Mulher
O cineasta é uma espécie de voyeur, muitos afirmam. E Claude Lelouch constrói essa prática de maneira magistral em Um Homem, Uma Mulher, filme que lhe deu a Palma de Ouro em Cannes, o Oscar de Filme Estrangeiro e muitos outros prêmios pelo mundo. E o Festival Varilux trouxe uma cópia restaurada para comemorar os 50 anos de seu lançamento.
A história é extremamente simples. A roteirista Anne Gauthier e o piloto de corridas Jean-Louis Duroc se conhecem enquanto visitam seus filhos em um colégio interno durante um fim de semana. Ambos viúvos, eles começam a se encontrar e aos poucos vai surgindo um sentimento mútuo de afeto. Literalmente, um homem e uma mulher em algo aparentemente banal. Mas, a forma como Claude Lelouch conta isso é que muda tudo.
A questão da película alternar entre o preto e branco e o colorido, foi por falta de verba. Mas, acaba construindo uma estética exótica que traz um charme a mais para a obra. Como se as cenas externas fossem mais vivas, cheias de luz e cores. Enquanto as internas fossem intimistas e até mesmo opacas.
Mas, o que encanta mesmo na câmera de Claude Lelouch é essa capacidade de se colocar ali em cena, observando os acontecimentos, muitas vezes sem diálogos. Vamos acompanhando mais os pensamentos dos personagens que suas falas, o que traz efeitos interessantes como quando ele pergunta se ela é casada e vamos vendo as cenas dela com o marido.
Claude Lelouch e o roteirista Pierre Uytterhoeven constroem muito dos personagens através dos seus pensamentos. A cena em que ele retorna a Paris após o rally pensando como seria sua conversa com ela, por exemplo, é de uma delicadeza incrível. Vamos nos aproximando deles, torcendo para que aquele sentimento brote de maneira delicada e bela. Sem pieguismo, sem exageros.
Mesmo quando o filme trabalha com as crianças, não apela para o sentimentalismo excessivo. A cena do jantar a quatro, por exemplo, é delicada, divertida. Vemos ali uma família feliz possível.
A trilha sonora é outro ponto alto do filme. A música tema escrita por Francis Lai fica em nossa mente. As cenas embaladas por ela ganham mais vida. E temos outros ótimos momentos como o marido de Anne cantando uma versão em francês de Samba da Benção de Baden Powell e Vinicius de Moraes.
Um Homem, Uma Mulher é daqueles clássicos que fica em nossa mente e funcionam ainda hoje. Encantando e envolvendo com suas imagens e sua bela história de amor. Talvez uma das mais belas que o cinema já narrou.
Visto no Festival Varilux de Cinema Francês 2016.
Um Homem, Uma Mulher (Un homme et une femme, 1966 / França)
Direção: Claude Lelouch
Roteiro: Pierre Uytterhoeven
Com: Anouk Aimée, Jean-Louis Trintignant, Pierre Barouh
Duração: 102 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Um Homem, Uma Mulher
2016-06-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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