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A Loucura Entre Nós
A Loucura Entre Nós
As doenças mentais assustam e intrigam o homem e a ciência há séculos. Por mais remédios e teorias que tenhamos, é difícil compreender tudo que passa na inconstante mente humana. Com muita sensibilidade, Fernanda Fontes Varielle aponta sua câmera para os internos do Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, em Salvador, e constrói um filme intenso.
A Loucura Entre Nós não quer construir teses, nem mesmo dar respostas a quaisquer questões, tanto que não entrevista médicos, nem assistentes sociais. O documentário quer apenas dar voz a esses pacientes e mostrar que por trás do estigma de "loucos", existem pessoas ali que não são necessariamente perigosas, mas trabalhadores, artistas, mães, seres humanos que são tudo isso ao mesmo tempo e algo mais.
Entrevistando majoritariamente mulheres, o filme vai intercalando depoimentos diretos para a tela com flagras diversos nos corredores do hospital. E é impressionante o fascínio que a câmera provoca nos internos. Há uma sequência, por exemplo, onde a equipe entrevista uma paciente e outros começam a andar ao lado, brigando pelo espaço no enquadramento do objeto, chegando a se empurrar e a se abaixar. Em outros, a câmera está parada enquadrada no portão e sempre tem alguém falando, perguntando, cantando ou simplesmente olhando, como se fosse uma forma de expressar que existe e está viva, apesar de atrás daquelas grades.
Isso acaba sendo um alerta importante para o descaso e mesmo o receio da maioria da população com esses pacientes. Quantas pessoas tem a coragem de visitar um hospital psiquiátrico? E quantas preferem simplesmente depositar um parente, esperando se livrar do problema e que os médicos cuidem deles como se fossem mercadorias com defeito? É algo extremamente delicado e o novo sistema de saúde tenta recolocar essas pessoas no convívio social, mas muitas vezes são os próprios familiares que não colaboram com isso.
Destaca-se também as trajetórias opostas de duas das pacientes, que acabam se tornando foco principal do roteiro do documentário e nossas guias naquele mundo. Elizangela e Leonor começam brigando por um pequeno jardim e aos poucos vamos vendo a melhora de uma e a piora de outra, reforçando a questão cíclica da doença e os diversos aspectos incluindo família e medicações.
Mas, mais do que isso, vemos suas almas por trás do estigma da doença e nos dói, sofrendo junto com elas aqueles desencontros de vida que ficam em aberto. E quando o mar se abre em tela em revelações chocantes, não podemos deixar de lembrar daquelas espadas arrancadas e replantadas no pequeno jardim do hospital. Como disse, um filme intenso.
A Loucura Entre Nós (A Loucura Entre Nós, 2016 / Brasil
Direção: Fernanda Fontes Vareille
Roteiro: Fernanda Fontes Vareille
Duração: 76 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Loucura Entre Nós
2016-08-12T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema baiano|cinema brasileiro|critica|documentario|Fernanda Fontes Vareille|filme brasileiro|
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