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O Beijo da Mulher Aranha
O Beijo da Mulher Aranha
Uma cela de uma prisão, dois homens. Um preso político e um homossexual preso por relações com um menor. Esse é o material principal de O Beijo da Mulher Aranha, filme baseado no romance de Manuel Puig que Hector Babenco levou ao mundo, concorrendo a diversos prêmios e marcando sua filmografia.
Através dos diálogos entre Luis Molina, interpretado magistralmente por William Hurt, e Valentin Arregui, vivido por Raul Julia, vamos acompanhando um delicado processo de aproximação e compreensão do outro. O que antes era hostil, aos poucos, vai se tornando uma espécie de cumplicidade e respeito tocante que modifica ambos profundamente.
E o mais belo da narrativa é que, apesar de presos em uma cela, o que os salva e aproxima é a imaginação livre. Através das histórias que Luis Molina conta, vamos dando asas à imaginação em filmes propositadamente construídos com uma linguagem de filmes B, que divertem pelas situações inusitadas como uma França tomada pelo nazismo, ou por uma ilha onde uma mulher aranha espera suas presas.
E é nesses filmes imaginários que brilha a terceira estrela do elenco: Sônia Braga. A heroína Leni Lamaison consegue passar charme e sutileza em seu drama pessoal de se apaixonar por um nazista, interpretado por Herson Capri. Já a mulher-aranha passa mistério e horror em seus pequenos gestos. Ainda que também consiga transmitir certo pesar. Por fim, nas lembranças de Valentin, temos Marta. Uma mulher de classe média alta que não quer se envolver com movimentos radicais.
Entre imaginação, diálogos na cela e lembranças do passado, O Beijo da Mulher Aranha consegue construir um ritmo ágil e envolvente durante toda a narrativa. Nos sentimos ali, junto com eles, presos e ao mesmo tempo livres, acompanhando o desenrolar do inusitado encontro, as reviravoltas, revelações e redescobertas.
Com sutileza, Babenco e o roteirista Leonard Schrader conseguem quebrar estereótipos e tabus. Um pedófilo homossexual como Molina pode se revelar um homem íntegro e bondoso. Fiel até. Já o revolucionário Valentin também pode quebrar sua couraça política e demonstrar respeito e sensibilidade diante de questões íntimas.
Talvez o que mais encante no filme, fora a qualidade técnica e interpretações, seja a capacidade de falar de tanto de maneira tão simples. A obra aborda o preconceito contra homossexuais, a questão da mulher e seu papel na sociedade, a situação nas cadeias brasileiras, o regime militar. E ainda pode refletir sobre a história, o nazismo e as escolhas que fazemos durante a vida.
O Beijo da Mulher Aranha é daqueles filmes clássicos. Marcou o cinema brasileiro, marcou a fimografia de Hector Babenco, abriu novas portas para Sônia Braga e ainda conseguiu reconhecimento internacional. Um filme que ainda hoje funciona e nos faz refletir.
Filme revisto no XII Panorama Internacional Coisa de Cinema. Mostra Especial Babenco.
O Beijo da Mulher Aranha (Kiss of the Spider Woman, 1985 / Brasil / EUA)
Direção: Hector Babenco
Roteiro: Leonard Schrader
Com: William Hurt, Raul Julia, Sônia Braga, José Lewgoy, Milton Gonçalves, Míriam Pires, Herson Capri, Fernando Torres, Nuno Leal Maia
Duração: 120 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Beijo da Mulher Aranha
2016-11-30T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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