
Didi, Dedé, Mussum e Zacarias fazem parte da história do cinema brasileiro. O sucesso da trupe era tanto na década de 1980 que filmes americanos incluíam no título termo "trapalhão" como estratégia de marketing para atrair o público. Foram grandes bilheterias e obras divertidas, algumas inesquecíveis como Os Saltimbancos Trapalhões, de 1981. Resgatá-los era uma tarefa ousada. E felizmente bem sucedida, ainda que com alguns problemas.
Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood não é um remake do filme de J.B. Tanko. Tampouco é uma continuação. É uma espécie de mistura que homenageia o grupo e faz uma releitura da peça de Chico Buarque, adaptada para os tempos atuais. Aqui, em fez de ter um "Barão" ditador, o Grande Circo Sumatra está passando por problemas financeiros após a proibição de utilizar animais nos espetáculos. A alternativa para o dono do circo é alugar o local para eventos de um prefeito corrupto em época de eleição. Mas seus funcionários não se acomodarão a isso, preparando um espetáculo musical especial.

O foco aqui acaba não sendo a união das classes baixas por seus direitos, mas a busca por sonhos. E nisso, a figura de Didi continua central e essencial para o funcionamento da obra. A persona ingênua do "cearense" trapalhão é o motor para que os próprios artistas de circo continuem a sonhar. E o espetáculo criado tem essa alma, essa força da vitória da arte. Não por acaso a nova música composta por Chico homenageia o fazer cinematográfico. E traz uma homenagem tão explícita que recria uma cena estilo A Rosa Púrpura do Cairo.
As músicas antigas estão todas lá, em circunstâncias diferentes e com emoções também reformuladas, principalmente "A história de uma gata" que continua sendo carro-chefe da trilha. E "Hollywood", que troca de papel com "Todos Juntos", exatamente pela nova curva dramática, funcionando muito bem. Mas, claro, que ao ouvir "Piruetas" é impossível não ter o momento nostálgico da lembrava do grupo completo e da importância deles no cenário nacional. Até por isso, sinto e muito, a ausência de Lucinha Lins no elenco.

De qualquer maneira, o elenco novo funciona bem. Mesmo Alinne Moraes e Marcos Frota, que fazem vilões canastrões acima do tom. Acredito fazer parte da proposta aqui e o tom over acaba sendo divertido para o público. Da mesma forma Livian Aragão e Rafael Vitti cumprem seus papéis, ainda que a trama deles se torne tão secundária que se perca no geral. Assim como Maria Clara Gueiros, que também poderia ser retirada sem maiores problemas, mas funciona como esquete cômica a parte.
Emilio Dantas e Letícia Colin formam o casal romântico principal e funcionam. Possuem química e graça. Mas o filme vale mesmo é pelas eternas brincadeiras entre Dedé e Didi, além do "quinto" trapalhão Roberto Guilherme que faz o Barão. Além, claro, do tom sonhador de Didi, seja nos sonhos de fato, que são uma diversão à parte. Ou pelo combustível que gera a obra como um todo.
Resumindo, Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood é uma bela e emocionante homenagem ao grupo que marcou o cinema nacional e a infância de muitas pessoas no país.
Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood (2017 / Brasil)
Direção: João Daniel Tikhomiroff
Roteiro: Mauro Lima
Com: Renato Aragão (Didi), Dedé Santana, Alinne Moraes, Livian Aragão, Letícia Colin, Emilio Dantas, Marcos Frota, Rafael Vitti, Maria Clara Gueiros, Roberto Guilherme
Duração: 101 min.