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Passageiros
Passageiros
Protagonizado por dois astros em grande ascensão e destaque em Hollywood atualmente, Passageiros é daqueles blockbusters que tem tudo para arrastar mesmo multidões para o cinema. Sua premissa é interessante e tem bons momentos, ainda que nos deixe com a sensação estranha ao final.
A nave Avalon embarcou para sua jornada de 120 anos até um planeta distante. Seus cinco mil passageiros estão hibernando só devendo ser acordados quatro meses antes do pouso. Porém, algo aconteceu fazendo com que Jim Preston, interpretado por Chris Pratt, e Aurora Lane, vivida por Jennifer Lawrence despertem quando ainda falta 90 anos para chegar ao destino. E esse era apenas um dos problemas que eles descobririam à bordo da nave.
Filmes de ficção científica normalmente se utilizam de descobertas da ciência e previsões futuras para discutir a sociedade em que vivemos. Passageiros não foge à regra. Na verdade, ele pincela aquilo que parece ser o mal do século: o nosso propósito de vida. Tal qual Cazuza, parece que estamos buscando uma ideologia para viver após todas terem caído por terra.
O que fariam cinco mil pessoas aceitarem hibernar por cento e vinte anos até uma colônia desconhecida se não fosse a total descrença com o mundo em que vive e a vida que leva? Sede pelo desconhecido? Perspectiva de entrar para a história? Jim Preston fala em recomeço. Recomeçar é exatamente a possibilidade de fazer diferente, de dar um novo rumo à própria vida. E isso é praticamente tudo que sabemos do engenheiro.
Já Aurora Lane possui sua personalidade um pouco mais desenvolvida. Escritora, jornalista, ela sonha em escrever livros que possam ficar para a posteridade. E acredita que para criar histórias inesquecíveis precise vivenciar experiências igualmente incríveis. Faz sentido, mas ela poderia vivenciá-las de diversas maneiras. Na verdade, Aurora se sente só, como demonstra um vídeo de uma amiga. Falta sentido a sua vida.
Filosofias à parte. Passageiros é um filme também de suspense e romance. Claro que um homem e uma mulher sozinhos no espaço acabariam se envolvendo. E há prós e contras nessa relação que não dá para analisar sem apresentar spoilers, então, fico apenas na observação de que funciona e nos convence em alguns pontos e não em outros. E esses outros são bastante polêmicos, envolvendo questões éticas e machismo. Já o suspense, na verdade, é apenas para criar alguma tensão e trazer mais peripécias para essa história.
Se fosse um filme independente, talvez funcionasse apenas o estudo de personagens, questões filosóficas e éticas dos dois no espaço. Talvez a principal polêmica pudesse ser melhor desenvolvida discutindo melhor a atitude de Jim e abrindo um debate sobre isso. Mas como é um blockbuster norte-americano a fórmula aristotélica de conflito e resolução precisa seguir a cartilha dos manuais de roteiro. Então, temos uma curva dramática mais direcionada com um problema na nave que já vai nos sendo apresentado desde os instantes antes de Jim acordar com a chuva de meteoros atingindo a nave. Caberá a ele e a Aurora salvar a Avalon e seus cinco mil passageiros adormecidos, quase nos fazendo esquecer e relativizar os problemas graves que ele levanta na primeira parte da obra.
A câmera de Morten Tyldum passeia bem pela nave e pelo espaço. A montagem é dinâmica e vamos sendo conduzidos pela narrativa sem sentir muito a passagem do tempo. Há alguns efeitos sensoriais bem construídos também como quando Jim vai para fora da nave pela primeira vez, ou quando ele tem uma atitude intempestiva pouco antes de Aurora acordar. Mas, no geral, a obra busca mesmo é a emoção e adrenalina.
No final, Passageiros é um entretenimento leve, sem maiores compromissos que poderia ser mais profundo. Mas não se propõe mesmo a isso.
Passageiros (Passengers, 2016 / EUA)
Direção: Morten Tyldum
Roteiro: Jon Spaihts
Com: Jennifer Lawrence, Chris Pratt, Michael Sheen, Laurence Fishburne, Andy Garcia
Duração: 116 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Passageiros
2017-01-03T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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