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A Vigilante do Amanhã
A Vigilante do Amanhã
Inspirado no anime de 1996, que por sua vez vem da série de mangás, A Vigilante do Amanhã acaba sendo uma adaptação estadunidense para tudo que veio antes e depois de Ghost in the Shell. Ao comparar, os fãs terão diversos problemas, mas é um filme de aventura bem produzido, com efeitos que impressionam.
A história é mal construída, foge um pouco da essência japonesa. Não apenas pela utilização de atores caucasianos, que de certa maneira é até explicada na narrativa. Mas pelo próprio foco da trama que deixa de ser esse mundo cyber que tanto inspirou Matrix e a luta dos homens versus máquinas, para se tornar uma espécie de RoboCop repaginado.
A Major Motoko Kusanagi traz outras nuanças, ainda é um fantasma de si mesma, porém, outras motivações lhe são introduzidas, algumas pouco explicadas. O fato é que a trama não funciona tão bem. A própria construção dramática é frágil, assim como as relações entre as personagens. Algumas questões são jogadas em cena sem aprofundamento, principalmente em relação a natureza e motivação do verdadeiro vilão. A própria reviravolta não fica orgânica.
Scarlett Johansson não é japonesa, claro. E apesar da explicação na narrativa, fica um estranhamento diante do cenário, não resta dúvidas. Ainda assim, a atriz cumpre bem o seu papel, construindo uma Major condizente, com a leveza ao se jogar no ar e lutar, mas uma certa dureza ao andar ou se movimentar nas missões. A postura truncada, a curvatura no tronco, tudo nos dá essa sensação de uma mulher robô.
Os cenários virtuais ou reais também impressionam. Há uma riqueza de detalhes e uma composição estética que nos tornam mais próximos daquela realidade utópica. Tudo parece pulsante, desde o laboratório ou espaços da empresa, passando pelas ruas, pela boate ou mesmo pelo prédio residencial de uma certa família.
Porém, o que chama a atenção mesmo são os efeitos e composição estética das cenas de ação. A imersão nesse mundo real / virtual que constrói tantas camadas tecnológicas é impressionante. É bonito de ver, constrói sensações que instigam a plateia deixando-a fazer parte daquele universo.
Ainda que o nome A Vigilante do Amanhã pareça estranho e sem muito sentido, o filme acaba construindo essa sensação mesmo de um futuro distante. Não por acaso o nome do mangá aqui no Brasil já era O Fantasma do Futuro. Nenhum dos dois parece captar tão bem essa sensação de um fantasma enclausurado que Ghost in the Shell nos dá. É mais do que uma questão futurista, é uma discussão atual, da própria natureza humana.
De qualquer maneira, o filme cumpre o seu papel de uma obra bem arquitetada esteticamente, com boas cenas de ação e adrenalina. Uma pena que a reflexão sobre a nossa condição e relação com a tecnologia fica tanto na superficialidade. Mas não deixa de ser uma obra divertida.
A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell (Ghost in the Shell, 2017 / EUA)
Direção: Rupert Sanders
Roteiro: Jamie Moss, William Wheeler e Ehren Kruger
Com: Scarlett Johansson, Pilou Asbæk, Takeshi Kitano
Duração: 107 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Vigilante do Amanhã
2017-04-10T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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