Home
Amanda Devulsky
cinema brasileiro
critica
curtas
festbrasilia2017
Festival de Brasília
filme brasileiro
Marcus Curvelo
Mamata
Mamata
“Brasil, 2017, eu desisto”. Essa é a sinopse do novo filme de Marcus Curvelo do Coletivo Urgente de Audiovisual - Cual, que fez o público do Cine Brasília rir muito na quarta noite de Festival.
Mamata ri de si mesmo, ironizando o estado caótico em que se encontra o Brasil financeira e politicamente. Através do inusitado personagem Joder, vivido pelo próprio Curvelo, que já apareceu em outros filmes do grupo, a obra acompanha a angústia de um artista estagnado entre a crise política, sem trabalho e com uma namorada que estuda no exterior.
Com o estilo próprio, anárquico, Marcus Curvelo mistura linguagens, construindo a trajetória de Joder entre conversas na frente do computador e imagens diversas de Salvador e Brasília que trazem referências do país recente de maneira criativa e pulsante. É uma grande catarse que questiona e tensiona todos os temas, inclusive o grito vazio em que se transformou o “Fora Temer”.
Há dois pontos-chaves que o cineasta parece buscar para representar a sensação de impotência que tomou conta da população brasileira. E é curioso como, de maneira inteligente, ele utiliza o esporte, que sempre foi objeto para manipular as massas em momentos de crise política para exemplificar isso.
É simbólico que Joder recorra ao sentimento de nação com a morte do último grande “herói” brasileiro em 1994. E que isso pareça um passado distante diante de símbolos de um país desconstruído que surgem a partir de uma viagem psicodélica sob o efeito da droga “pedalada”. Não detalho para não perder o frescor da surpresa, claro, já que o melhor da progressão dramática dessa sequência é a surpresa de sempre vir algo a mais que nos faz ir escalando a gargalhada.
Com o sonho de fugir para o exterior ou “se dar bem” com um trabalho arranjado pelo amigo filho de político, Joder não suporta a decepção de viver uma realidade tão sufocante desse país desajustado. Talvez por isso a música de Taiguara seja tão perfeita para abrir e fechar o curta.
Ao contrário de Joder, no entanto, Marcus Curvelo e o Cual não parecem desistir. Usam a arte como catarse e arma para rir da própria miséria e, como isso, refletir sobre tudo. Sobre ausências, presenças e atitudes diversas. Reflexão que ecoou e continua ecoando em Brasília, tal qual o grito no vazio do “Fora Temer”.
Filme visto no 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Mamata (Mamata, 2017 / Brasil)
Direção: Marcus Curvelo
Roteiro: Marcus Curvelo
Com: Marcus Curvelo, Débora Ingrid, Carlos Baumgarten, Antônio Pereira Filó
Duração: 30 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Mamata
2017-09-22T07:59:00-03:00
Amanda Aouad
Amanda Devulsky|cinema brasileiro|critica|curtas|festbrasilia2017|Festival de Brasília|filme brasileiro|Marcus Curvelo|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
Tem uma propaganda em que a Dove demonstra como o padrão de beleza feminino é construído pelo mercado publicitário . Uma jovem com um rost...
-
O desejo de todo ser humano é ser amado e se sentir pertencente a algo. Em um mundo heteronormativo, ser homossexual é um desafio a esse des...
-
Muitos filmes eróticos já foram realizados. Fantasias sexuais, jogo entre dominação e dominado, assédios ou simplesmente a descoberta do pr...
-
Brazil , dirigido por Terry Gilliam em 1985, é uma obra que supera todos os rótulos que a enquadrariam como apenas uma distopia . Seu mundo...
-
Em determinada cena no início da obra, Maria Callas está em pé na cozinha, cantando enquanto sua governanta faz um omelete para o café da m...
-
Poucas obras na literatura evocam sentimentos tão contraditórios quanto O Morro dos Ventos Uivantes , o clássico gótico de Emily Brontë . A...
-
O dia de hoje marca 133 anos do nascimento de John Ronald Reuel Tolkien e resolvi fazer uma pequena homenagem, me debruçando sobre sua vid...
-
Encarar o seu primeiro longa-metragem não é fácil, ainda mais quando esse projeto carrega tamanha carga emocional de uma obra sobre sua mãe....
-
Agora Seremos Felizes (1944), ou Meet Me in St. Louis , de Vincente Minnelli , é um dos marcos do cinema americano da década de 1940 e exe...