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Lino: Uma Aventura de Sete Vidas
Lino: Uma Aventura de Sete Vidas
Ao contrário do que muitos pensam, o Brasil sempre teve tradição no cinema de animação, principalmente no formato dos curta-metragens. Nos últimos anos, então, esta linguagem tem crescido bastante por aqui, não por acaso animações brasileiras venceram e se destacaram nos principais festivais como o Annecy. Comercialmente é um mercado que cresce muito também, principalmente com séries animadas. Lino: Uma Aventura de Sete Vidas não chega, então, como uma surpresa.
Tecnicamente, a obra não deve à maioria dos estúdios de animação do mundo. É bem feito, rico em detalhes e com uma boa variação de moldes tantos de personagens quanto de cenários. Há uma boa dinâmica também nas cenas de perseguição e nos efeitos mágicos com que a trama flerta, tendo um ritmo ágil e envolvente, principalmente nas piadas visuais com suas inúmeras referências. Porém, o roteiro acaba trazendo diversos problemas.
A premissa é boa. A ideia de um rapaz azarado que ao tentar mudar de vida se torna um gato gigante é criativa e divertida. A ideia de tentar fugir de algo e se aproximar dele também. Assim como a dinâmica estabelecida pelo trio formado por ele, o mágico atrapalhado e a garotinha fofinha que lembra em muitos aspectos Boo de Monstros S/A, até o bordão "gatinho", ela traz. Porém, a trama não se desenvolve.
A progressão dramática é mal dosada. Começamos com uma estrutura bem adulta, com um rapaz cheio de problemas financeiros, em um mundo hostil e com um tom quase depressivo. Com o elemento mágico e a virada da personagem, entramos em uma espécie de gincana, com eles correndo da polícia e tentando conseguir os elementos necessários para desfazer o feitiço.
As piadas também se tornam repetitivas e bobas como flatulências ou estereótipos de personagens burros, com direito até de trocadilho em seus nomes. Isso sem falar na dinâmica paralela entre a garota e o bad boy que cruzam a história de Lino. E também o clichê do amor de infância que vem na figura da antagonista quase involuntária da policial que o persegue.
Lino tem a partir daí pouco a nos oferecer, mesmo as camadas, que poderiam ser desenvolvidas para lidar com públicos diversos, se tornam rasas, não indo além de sugestões iniciais e referências. Algumas óbvias como Harry Potter e outras nem tanto, como o já citado Monstros S/A.
A solução também parece ter diversos artifícios "mágicos" no sentido ruim da palavra e não na utilização da magia dentro da narrativa. Como quando uma personagem simplesmente desiste de uma perseguição sem motivo aparente ou quando objetos literalmente surgem na frente do trio.
De qualquer maneira, Lino: Uma Aventura de Sete Vidas é uma experiência válida que ajuda a reforçar o mercado da animação brasileira, abrindo novas janelas para essa arte tão rica e fértil.
Filme visto no 15º Festival Internacional de Cinema Infantil - FICI.
Lino: Uma Aventura de Sete Vidas (Lino: Uma Aventura de Sete Vidas, 2017 / Brasil)
Direção: Rafael Ribas
Roteiro: Rafael Ribas
Com (voz): Selton Mello, Dira Paes, Paolla Oliveira, Luiz Carlos de Moraes
Duração: 93 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Lino: Uma Aventura de Sete Vidas
2017-11-04T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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