Jim & Andy
Em 1999, Jim Carrey já era um astro de Hollywood. Mesmo assim, aceitou se submeter a um teste para um papel em um filme. Tratava-se de "O Mundo de Andy", cinebiografia do controverso comediante Andy Kaufman. O diretor Milos Forman, a princípio, não o queria para o papel, mas Carrey não apenas foi bem no teste como encarnou Kaufman durante as filmagens, impressionando a todos. Jim & Andy é sobre esse processo.
Com imagens gravadas da época, o documentário nos mostra para além do filme. Como eles mesmos declaram durante as gravações, Jim Carrey estava em algum planeta paralelo enquanto Andy Kaufman utilizava seu corpo. Mesmo nos bastidores, durante as sessões de maquiagem ou prova de roupa, ensaios, pausas. O ator simplesmente não saia do papel, vivenciava o ídolo em todos os aspectos, inclusive no seu alter-ego Tony Clifton.
Paralelo as imagens da época, Chris Smith nos apresenta um formato muito simples de entrevista com o próprio Jim Carrey falando sobre a época. E aí, talvez, resida o melhor do documentário. Através da experiência vivida, acabamos conhecendo muito do ator, seus sonhos, suas reflexões, sua capacidade de repensar fama e dinheiro. Sem máscaras em relatos que nos parecem extremamente sinceros, o astro vai se desnudando em nossa frente.
E, ao mesmo tempo em que humaniza Carrey com seu relato, o filme constrói sua aura de gênio com as imagens dos bastidores. A maneira como ele incorpora Kaufman e os encontros que proporciona com pessoas do convívio do mesmo e familiares é impressionante. Muitas vezes, até emocionante. Nos fazendo vivenciar um pouco da loucura que deve ter sido as gravações da obra. Muito dessa sensação pode ser traduzida nas expressões do ator Danny DeVito, que parece estar o tempo todo assombrado com o que presencia.
A relação de Jim Carrey, ou melhor, de Andy Kaufman e Tony Clifton com o diretor Milos Forman é outro ponto alto do documentário. Ver um cineasta consagrado, que dirigiu clássicos como Amadeus e Um Estranho no Ninho, ter que implorar para Tony Clifton repetir uma tomada não é fácil. Se pensarmos que Forman não queria o ator para o papel, obrigando-o a fazer um teste para o mesmo, não deixa de ser extremamente irônico.
Jim & Andy, que no título original tem o adendo "The Great Beyond - Featuring a Very Special, Contractually Obligated Mention of Tony Clifton" traduz exatamente a magia do cinema de nos transportar para outros mundos e nos fazer crer que aquelas pessoas da tela existam de fato. Pelo que vimos, Jim Carrey trouxe de volta a vida Andy Kaufman e mais uma vez fez existir Tony Clifton, que parece mais real que todos eles em seus gostos e trejeitos.
E o mais impressionante é ver o homem que conseguiu com seu talento transformar tudo aquilo, ali, sentado, de maneira simples, falando daquilo como se não fosse nada. Definitivamente, esta é a magia do cinema.
Jim & Andy (Jim & Andy, 2017 / EUA)
Direção: Chris Smith
Duração: 94 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Jim & Andy
2017-12-02T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Chris Smith|critica|documentario|Jim Carrey|
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