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Lou
Lou
Filósofa, escritora, poetisa, psicanalista, Lou Andreas-Salomé fez de tudo um pouco. Conviveu e chamou a atenção de nomes como Friedrich Nietzsche , Sigmund Freud, Paul Rée e Rainer Maria Rilke, mas é pouco conhecida aqui no Brasil. O filme de Cordula Kablitz-Post é, então, antes de tudo, uma ótima oportunidade de conhecê-la.
O problema é que do trabalho dela em si, pouco existe em Lou. Temos o seu espírito libertário, sua recusa a se adequar ao que era destinado às mulheres no início do século XX, a decisão de não se casar e a forma como encantou todos os homens que a cercaram. A princípio, isso não chega a ser um problema. Porém, pode acabar reduzindo-a aos estereótipos que adoram colocar em mulheres.
De qualquer maneira, o roteiro consegue construir um interesse por sua trajetória. Ainda que termine de maneira quase ingênua com uma frase dita para a tela: "O mundo te dará poucos presentes, acredita. Se queres uma vida, é preciso que a roubes". Porém, fica uma semente instigante de conhecer uma mulher à frente do seu tempo, que parecia, realmente, apaixonante.
A narrativa não-linear ajuda a ir costurando seu pensamento, já que a própria Lou, interpretada por Nicole Heesters, aos 72, é que nos guia nessa jornada ao resolver contar suas memórias a um escritor que bate em sua porta no início da Alemanha Nazista, quando a psicanálise e muito dos pensamentos que a cercavam estava proibido por Hitler. Katharina Lorenz, que interpreta Lou na fase adulta, parece menos instigante que Heesters, ainda assim, consegue nos manter atentos àquela mulher admirável.
A direção é correta, mas o que chama a atenção mesmo é a escolha de construir parte das cenas com Lorenz andando por pinturas. Ainda que possa ser uma forma de baratear a reconstituição de época nas paisagens externas, cria um efeito estético que impressiona. Ela passeia por paisagens pintadas criando estranhamento e ressignificando a montagem, podendo, inclusive ser interpretado como o avanço no tempo que são suas atitudes ou mesmo sua recusa a se estagnar junto com sua época.
Por ser guiado pelas memórias, o filme também se vê livre para fazer um apanhado da época, falando sobre as teorias dos pensadores que passam pela vida de Lou e como ela os influenciou ou foi influenciada por eles. Isso acaba reforçando ainda mais a importância em conhecê-la, assim como suas obras.
No final, Lou poderia ousar mais, sair das convenções tal qual a sua retratada, explorando, inclusive o inconsciente. Ainda assim, é um filme correto que cumpre sua principal função de nos instigar a conhecer e admirar Lou Andreas-Salomé para que esta não seja esquecida pela História.
Lou (Lou Andreas-Salomé, 2017 / Alemanha / Áustria)
Direção: Cordula Kablitz-Post
Roteiro: Cordula Kablitz-Post, Susanne Hertel
Com: Nicole Heesters, Katharina Lorenz, Liv Lisa Fries
Duração: 113 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Lou
2018-01-12T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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