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Trama Fantasma
Trama Fantasma
Reynolds Woodcock é um gênio peculiar, capaz de criar os vestidos mais belos e perfeitos para cada corpo, mas é incapaz de amar uma mulher. São apenas musas passageiras de quem ele logo enjoa. Talvez pelo forte complexo de Édipo a ponto de carregar mechas do cabelo da mãe dentro do forro de seu paletó. Ou pela personalidade tão egocêntrica com toques e manias que beiram o autismo. Ou ainda por ser tratado como um rei por sua irmã. Porém, essa rotina vai ser modificada com a chegada da bela Alma Elson.
Paul Thomas Anderson nos apresenta em Trama Fantasma um estudo de personagem completamente peculiar. Adentramos a mansão Woodcock junto com Alma para nos instalarmos naquele cenário estranhamente fascinante. Reynolds e Alma se tornam nosso olhar e experiência. Não apenas pelo recurso dela narrar a trama, mas pela maneira como a câmera dirige o nosso olhar para o universo deles de uma maneira como se o mundo não existisse sem suas presenças.
Há um clima nostálgico no ar. A concepção da era clássica está nas vestimentas, na fotografia em 35 mm com um tom envelhecido, na direção de arte e reconstituição de época. Além, claro, da trilha sonora, sempre instrumental, ditando o ritmo das cenas e nos fazendo embarcar nesse mundo entre o hostil e o acolhedor.
A própria personalidade bipolar de Reynolds e a maneira como Alma encontra de se relacionar com ele nos dão a eterna sensação de instabilidade em cena. Amamos odiá-los, odiamos amá-los. O roteiro nos guia sem a intenção de criar empatia necessariamente, mas buscando a admiração das atitudes sejam positivas ou negativas.
Daniel Day‑Lewis, como sempre, encarna a personagem com uma habilidade ímpar que nos faz crer em sua verdade. Seu desprezo é construído em pequenos gestos, assim como a admiração. A postura corporal em busca dos sentimentos contraditórios e o tom de voz. Vicky Krieps acompanha o tom do autor, entregando uma Alma capaz de um embate à altura. Assim como Lesley Manville como a irmã Cyril.
E, a partir dessas peculiares personagens, Paul Thomas Anderson aprofunda as próprias relações humanas. Há uma relação de poder e opressão implícita em cada cena e situação apresentada na obra. Até mesmo em pequenos detalhes como a chegada da princesa e quem ela cumprimenta. Ou a maneira como o médico se dirige a Alma e não a Cyril. Mas o centro das ações é mesmo Reynolds, seja com elas, com as costureiras ou as pessoas que os cercam nessa Londres de 1950. Nos dão assim uma dimensão ainda maior desse jogo eterno.
Trama Fantasma nos traz uma aura cinematográfica que vai além do entretenimento puro. Há um cuidado com cada elemento que podem ser estudados e encantam em diversos níveis. Ao mesmo tempo, parece que falta-lhe alma. Paul Thomas Anderson nos deu um melodrama onde a emoção parece ficar em segundo plano. Isso causa estranhamento e nos impede de um deleite ainda maior. Ainda assim, é sem dúvidas, um excelente filme.
Trama Fantasma (Phantom Thread, 2018 / EUA)
Direção: Paul Thomas Anderson
Roteiro: Paul Thomas Anderson
Com: Vicky Krieps, Daniel Day-Lewis, Lesley Manville
Duração: 130 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Trama Fantasma
2018-02-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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