Cargo
Em 2013, um curta-metragem chamou a atenção por ser extremamente simples e, ao mesmo tempo, de um impacto emocional profundo. A Netflix agora lança um longa-metragem baseado nesse acontecimento e, até certo ponto, é feliz na missão de ampliar sua história.
Cargo é daquelas obras que, se você não viu, melhor não saber nada para não estragar a experiência. Logo, é melhor procurar o curta apenas após ver o longa para entender o porquê de tanto sucesso.
A trama é ambientada em um mundo pós apocalipse zumbi onde a personagem de Martin Freeman tenta sobreviver com sua esposa e filhinha ainda bebê. A situação da família vai se complicando à medida que a narrativa avança, o que é esperado, criando o clima desolador de quase nenhuma esperança.
A construção desse efeito de angústia e desespero é bem feita, em um ritmo lento, muitas vezes contemplativo onde a presença de grupos de zumbis não é o recurso mais utilizado. Tal qual a série The Walking Dead, o roteiro parece trabalhar com a ideia de que os vivos acabam sendo a maior ameaça, mas, ao concentrar em um vilão maniqueísta, acaba caindo em clichês tolos.
Por outro lado, em vez de aprofundar as personagens principais para fazer a trama render um longa-metragem, a roteirista escolheu explorar a cultura aborígine, já que a história acontece na Austrália. Algo que não é exatamente ruim, mas tira um pouco do foco do arco principal, enfraquecendo o impacto da resolução. O filme acaba tendo uma sensação de mais do mesmo.
De qualquer maneira, Martin Freeman consegue convencer em seu desespero de pai zeloso, nos dando ótimos momentos durante a projeção. Assim como a bebê, que é extremamente fofa e ajuda no efeito de compaixão e envolvimento na trama.
Ainda que o resultado esteja longe do impacto do curta-metragem, Cargo acaba sendo uma obra que instiga, principalmente se você ainda não conhece a história. Há uma experiência curiosa em um universo já tão explorado, que é o dos zumbis, e uma tentativa de ligação com a cultura aborígene, além da eterna estrutura de busca por sobrevivência e proteção dos familiares. Uma jornada bonita, ainda que, aqui, de pouco impacto.
Cargo (Cargo, 2017 / EUA)
Direção: Ben Howling, Yolanda Ramke
Roteiro: Yolanda Ramke
Com: Martin Freeman, Anthony Hayes, Susie Porter
Duração: 105 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Cargo
2018-05-28T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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