Todo Dia
Em 2012, a Intel e a Toshiba lançaram uma série de branded content chamada The Beauty Inside com uma premissa instigante. Alex, o protagonista acordava cada dia com um corpo diferente e não tinha problemas com isso, até que ele se apaixona por uma moça e passa a tentar provar que, apesar da aparência, ele continua sendo o mesmo por dentro.
Baseado no livro homônimo de David Levithan, Todo Dia traz a mesma premissa, porém, consegue ser mais superficial, tornando-se apenas mais um filme de romance adolescente. Lançado também em 2012, demonstrando ser apenas uma coincidência mesmo temática, a história de Levithan traz uma diferença básica da websérie, Alex literalmente acordava com outro corpo, já A, a alma do livro, possuía uma pessoa diferente a cada dia.
Sendo assim, ainda que se constitua como um ser individual, A acaba não existindo enquanto matéria. Pega emprestado o corpo, a casa, a vida, a rotina de alguma pessoa aleatória e, de alguma maneira, se mistura a ela. Isso torna a própria premissa mais complexa, mas o roteiro de Jesse Andrews não parece muito interessando em explorar essas questões, focando na garota Rhiannon, objeto da paixão de A, que terá que lidar com um amor tão impalpável.
Temos, então, em tela, esse romance adolescente quase tradicional. A garota que tem um namorado popular, mas que não lhe dá o verdadeiro valor e que vem de uma família que passa por problemas emoções também, principalmente com o seu pai. Essa questão familiar, no entanto, também é tratada de maneira superficial, sem aprofundar, nem amadurecer as relações, ainda que pincele algumas tentativas.
O que vemos em tela é uma estrutura diária de como A estará a cada dia e como eles poderão continuar a desenvolver a relação e sentimento que vão surgindo. Nesse ponto, a produção é, inclusive, extremamente conservadora, já que cenas de romance só acontecem quando A ocupa o corpo de um garoto com padrões de beleza tradicionais. Quando é um rapaz gordinho ou uma mulher, o máximo que temos é um único beijo que precisa pedir permissão antes de acontecer.
Mas o problema acontece mesmo quando há uma virada na trama, com um elemento novo que traz questões éticas ainda mais complexas e que é tratado quase de maneira leviana. Um egoísmo típico adolescente, mas que acaba por desconstruir qualquer reflexão sobre quebra de preconceitos em relação a aparência ou idealização amorosa por fatores fenotípicos.
Sem grandes atributos técnicos, Todo Dia acaba sendo um filme aquém do que poderia, pouco explorando da rica premissa que tem em mãos e quase banalizando o amor juvenil que parece mais preocupado com convenções sociais e aparências físicas do que com o verdadeiro encontro de almas. Quem diria que um conteúdo produzido por duas marcas, como a websérie The Beauty Inside, pudesse ser mais profundo e melhor resolvido que um longametragem.
Todo Dia (Every Day, 2018 / EUA)
Direção: Michael Sucsy
Roteiro: Jesse Andrews
Com: Angourie Rice, Justice Smith, Debby Ryan
Duração: 97 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Todo Dia
2018-08-07T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Angourie Rice|critica|Debby Ryan|drama|Justice Smith|livro|Michael Sucsy|romance|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
mais populares do blog
-
Em um cenário gótico banhado em melancolia, O Corvo (1994) emerge como uma obra singular no universo cinematográfico. Dirigido por Alex Pro...
-
Matador de Aluguel (1989), dirigido por Rowdy Herrington , é um filme de ação dos anos 80 . Uma explosão de adrenalina, pancadaria e tensão...
-
Em seu quarto longa-metragem, Damien Chazelle , conhecido por suas incursões musicais de sucesso, surpreende ao abandonar o território da me...
-
Pier Paolo Pasolini , um mestre da provocação e da subversão, apresenta em Teorema (1968) uma obra que desafia não apenas a moralidade burg...
-
Ruben Östlund , o provocador diretor sueco, nos guia por um cruzeiro inusitado em Triângulo da Tristeza (2022), uma obra cinematográfica qu...