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Loucamente Apaixonados
Loucamente Apaixonados
Loucamente Apaixonados (Like Crazy, 2011) é uma elegante dissecação do amor jovem. Não o amor idealizado, mas aquele repleto de fissuras, silêncios e pequenas traições emocionais. Drake Doremus, dirigindo com a mão leve e imersiva, convida Felicity Jones (Anna) e Anton Yelchin (Jacob) a viver cada cena com uma naturalidade quase documental: os olhares trocados, as pausas cheias de ausência, o peso das malas deixadas por uma imigração falha. A escolha de filmar com uma câmera DSLR não é apenas estética: abraça o imperfeito, circulando à volta dos personagens, envolvendo o espectador na respiração ofegante da relação.
A química entre o casal é palpável, talvez o maior triunfo do filme. Quando Anna improvisa pequenos textos e os deixa no carro de Jacob, reafirma a urgência de quem ama sem saber que isso basta. Nesse gesto simples se encontra o cerne do improviso que Doremus cultiva, abrindo espaço para os atores construírem seus próprios silêncios. Jennifer Lawrence surge coadjuvante, mas sua presença ecoa: ela personifica as escolhas alternativas de destino, o ponto de viragem no triângulo emocional de Jacob.
O roteiro, assinado por Doremus e Ben York Jones, evita tramas clássicas; não busca vilões nem ilusões. O verdadeiro antagonista é o tempo, o visto vencido, os sete mil quilômetros entre Londres e Los Angeles. Eis o mais pungente dos conflitos: amar e não poder. Uma chamada no Skype se torna epopeia, um atraso no telefone, tragédia. É aí que o filme encontra sua força: não em reencontros triunfantes, mas no desgaste que invade o cotidiano.
Não falta crítica no retrato que o filme faz da imaturidade emocional: ambos insistem em prolongar o que não há mais futuro garantido, talvez com esperança ingênua, talvez por medo da solidão. E o diretor filma isso sem condescendência: o espectador enxerga o momento em que o amor torna-se rotina fragilizada. Nesse sentido, o filme ecoa influências da nouvelle vague: fluido, sem julgamento, cifrado por espaços em aberto, como o final que comenta sem encerrar.
Um desses momentos é emblemático: quando, em meio a uma noite fria, Anna liga para Jacob. Ele atende, diz que a ama, mas foge da conversa sugerida. Surgem então ecos de tudo que ficou por dizer, e cada silêncio conecta passado e ausência. Essa cena concentra valor cinematográfico: atuações contidas, minimalismo, silêncio eloquente. Faz o espectador sentir a distância mais que compreendê-la.
Embora belo e honesto, o filme tem lá suas falhas. A edição acelerada pode diluir camadas, faltam momentos de catarse tácita entre os protagonistas e algumas sequências, como as dos interesses alternativos, soam deslocadas, roubando foco da relação central. Mas esse excesso também espelha a dispersão da juventude em crise, seu não saber onde apoiar o coração.
Loucamente Apaixonados mexe porque escuta a complexidade do amor: sua urgência, seus impasses, seus ruídos. Doremus não vende romance, oferece atrito. E isso faz a diferença. É um filme para quem já amou sem garantias, para quem descobriu que amar é, acima de tudo, resistir. Para quem valoriza atuação visceral, diretores que filmam a verdade do afeto e roteiros que sabem que o fim é, às vezes, o começo de outra história.
Loucamente Apaixonados (Like Crazy, 2011 / Estados Unidos)
Direção: Drake Doremus
Roteiro: Drake Doremus, Ben York Jones
Com: Felicity Jones, Anton Yelchin, Jennifer Lawrence
Duração: 89 min.

Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
Loucamente Apaixonados
2025-08-20T08:30:00-03:00
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