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Panorama Internacional Coisa de Cinema - 1ª Parte

André SetaroPanorama Internacional Coisa de Cinema em pleno vapor. Diversos filmes, muitos bate-papos e atividades relacionadas à sétima arte. No domingo, por exemplo, na sessão de Disque M Para Matar em 3D, tivemos uma explanação do crítico de cinema André Setaro. Com sua experiência, Setaro falou sobre a época do lançamento do filme em 1954 e de todas as dificuldades do 3D, que o crítico considera apenas um acessório para buscar alternativas de atrair público. "Poucos são os filmes que unem essa técnica como a linguagem, construindo uma estética. Um dos poucos que posso citar é o de Wim Wenders, Pina", afirmou o crítico.

Setaro falou ainda sobre o fato de Hitchcock ter feito o filme contra a vontade, tanto que não fez questão de divulgar o formato, mas não entrou em maiores detalhes sobre a utilização do recurso no filme em específico. De qualquer maneira, é sempre um prazer ouvir Setaro e suas explanações, ainda mais depois de um filme de Hitchcock.

Como fica difícil falar de todos os filmes, faço aqui apenas comentários críticos sobre algumas das obras que pude conferir nessa edição.

Curtas


É Proibido Menino Calçado Entrar Na Escola
Edson Bastos e Henrique Filho (BA)

Baseado no conto de Euclides Neto, este curta traz um fato inusitado em uma escola do interior. A chegada de um garoto de tênis deixa constrangidos os demais colegas que estão descalços. O mais interessante da escolha dos diretores é a forma como a câmera baixa nos conta essa história. Vemos os rostos da professora e dos alunos antes e depois, mas durante o impasse, ficamos apenas com os pés de todos. É interessante ver a chegada do par de tênis, a forma como os pés vão se encolhendo com sua passagem, os pés em um chinelo enorme, provavelmente do pai, no dia seguinte, os próprios pés da professora e sua decisão. Uma obra simples, mas com um tema profundo sobre a questão social.

Procurando RitaProcurando Rita
Evandro Silva de Freitas (BA)

Documentário sobre o projecionista do cinema de Cachoeira e suas experiências. É divertido ouvi-lo falando sobre as curiosidades, a forma como receberam a notícia da reabertura do cinema na cidade, os "causos", a forma como ele utilizava os discos de vinil, e aí está a explicação do nome do curta. Como disse, uma história divertida.


Sanã
Marcos Pimentel (MG)

Filme poético sobre um garoto no interior do Maranhão. O mais interessante deste curta é mesmo a fruição estética da fotografia e as experiências do garoto em comunhão com as paisagens.


TremorTremor
Ricardo Alves Jr. (MG)

Um filme instigante que começa com a imagem simbólica de um cavalo branco andando pelas ruas à noite. A trama nos mostra um homem que procura por sua esposa e é chamado pelo médico. O timing da narrativa, a espera, a busca, as pistas vão sendo construídas de uma maneira bastante instigante.

Colostro
Cainan Baladez e Fernanda Chicolet (SP)

Um filme instigante e inquietante sobre uma mulher que acaba de adotar uma criança e tenta a todo custo lhe dar de mamar. Colostro, o título do filme, é o nome dado à primeira secreção da mama após o parto. Essa busca, no entanto, é construída com uma certa estranheza, principalmente pela visão de uma menininha ao lado de Rita, a mãe adotiva.

Todos Esses Dias Em Que Sou Estrangeiro
Eduardo Morotó (RJ)

Dois irmãos vivendo no Rio de Janeiro, em situação de extrema dificuldade. Trabalhando em um bar, ganhando pouco e ainda tendo que ouvir piadinhas de clientes preconceituosos com nordestinos. Antônio, o recém chegado, não é tão condescendente quanto seu irmão mais velho e isso gera problemas. Mas, o mais interessante do curta é a forma como ele vai construindo isso, nos apresentando a rotina dos dois, o papo sobre mulheres, o lavar da camisa em uma bacia na pia da cozinha, uma divertida cantoria no quarto, até apresentar o impasse. E o final, traz uma reviravolta surpreendente.

Longa-metragem


Aprender a ler pra ensinar meus camaradas
João Guerra (BA)

Dois Angolanos, uma viagem à Bahia e o resgate de uma cultura esquecida por sua geração. Assim é Aprender a ler pra ensinar meus camaradas, documentário de João Guerra que busca construir essa ponte Bahia / Angola através das raízes africanas.

A linguagem do documentário é bastante tradicional, mas sempre permeada por músicas, afinal, Wyza e Dodô são músicos. Não por acaso também, um dos principais entrevistados seja Roberto Mendes, que explica muito sobre a origem das músicas baianas e africanas. Temos também uma participação divertida de Riachão.

O que o filme tem de rico mesmo é essa reflexão sobre a cultura africana mantida aqui na Bahia graças à religião. Por toda a carga histórica dos escravos, da necessidade de se manter ligados à terra mãe, de reafirmar seu valor, sua origem, suas tradições, aqui acabou-se mantendo coisas que há muito foram esquecidas até na própria África, onde não houve uma necessidade tão grande dessa manutenção.

Aliás, o personagem Dodô, um dos africanos, é evangélico. E fica visível o seu desconforto desde o início com o candomblé. A conversa após o encontro com as ganhadeiras mesmo é bastante interessante. Ele reclama que elas estavam possuídas, posteriormente questiona o Pai de Santo Mutá sobre feitiçaria, mas quando ele canta no estúdio, diz: "não era eu cantando".

Exilados do Vulcão
Paula Gaitán (RJ)

Uma imersão em poesia e fotografia, assim é Exilados do Vulcão, filme de Paula Gaitán que conta a trajetória de uma mulher buscando recriar a história do homem que ama a partir das fotos que ele tirou e de seu diário, encontrados nos restos de um incêndio em cima de uma montanha.

A imersão fílmica a partir das lembranças recriadas é intensa. Temos diversos momentos poéticos com um jogo cênico bastante curioso. A fotografia do filme é extremamente bem cuidada, com paisagens belas, com destaque das cores, dos espaços, da imensidão do mundo em que ele gira. Talvez por isso, tenha ganhado o prêmio principal do Festival de Brasília deste ano.

Porém, na busca por mostrar toda a construção sentimental da dor da perda e recriação de um ser por suas lembranças, Paula Gaitán acaba se perdendo na economia narrativa. O filme fica cansativo por ser cíclico e ao mesmo tempo linear ao extremo. Muito longo, com mais de duas horas, temos a impressão de que acaba por diversas vezes.

Ainda assim, é uma experiência de grande impacto emocional que nos permite refletir sobre a vida, a morte, as lembranças e as emoções que carregamos conosco.

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