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Disque M Para Matar em 3D
Disque M Para Matar em 3D
Mestre do suspense, com uma marca autoral inconfundível, Alfred Hitchcock se rendeu completamente a indústria em 1954 e fez um filme em 3D. Coisa que Nolan se recusou no seu terceiro Batman, por exemplo. Mas, mesmo com as limitações da época, percebe-se uma preocupação com a composição dessa imagem.
Na década de 50, os estúdios estavam em busca de novidades para atrair as pessoas aos cinemas, com medo da concorrência da televisão. Foi nesse período que as cores chegaram às grandes telas, que a razão de tela aumentou, tornando-se retangular, foi quando surgiu o CinemaScope com sua lente anamórfica. E, a tridimensionalidade. Na época, a tecnologia ainda engatinhava, de maneira quase experimental e havia o exagero de coisas saltando em nossa frente, se esquecendo da história.
Agora que pude conferir a versão em 3D de Hitchcock percebo o quanto o diretor se preocupou em não usar a tecnologia em vão. Ainda que exista o posicionamento cênico de maneira estratégica para que percebamos a profundidade. Sempre é possível observar objetos em primeiro plano, deixando os atores em segundo e o cenário em terceiro, nos dando a sensação exata da profundidade.
Na cena em que a personagem de Grace Kelly procura a tesoura para se livrar do agressor, sua mão vai até a câmera, saltando um pouco em nossa frente. Isso só acontece novamente em outra cena importante, quando o personagem de Ray Milland pega a chave e a coloca na porta. Mas, no geral, o 3D é apenas uma alegoria, sem grandes funções estéticas. Não por acaso, foi a única experiência de Hitchcock no formato e estreou em poucos cinemas assim. A cópia mais difundida foi mesmo a 2D. O próprio Truffaut quando entrevista o diretor confessa que nunca pode conferir a versão em 3D por não ter chegado à França.
Mas, independente da tecnologia, Disque M Para Matar tem seus próprios atrativos. A começar pela imagem. Foi o segundo filme em cores do diretor e ele soube usar muito bem sua paleta para nos dar símbolos. Como o vestido vermelho que Margot, personagem de Grace Kelly, usa quando aparece em cena com o seu amante Mark Halliday (Robert Cummings). Com o marido, ela está sempre com tons claros. E quando há uma virada no destino de sua personagem, ela usa tons mais fechados, como o cinza.
O texto, um dos grandes chamarizes do filme, não é do mestre e sim do dramaturgo Frederick Knott. Disque M Para Matar era uma peça de sucesso na Broadway, que Hitchcock filmou sem mudar quase nada do texto. Os diálogos são muito bem construídos, com uma dose de ironia incrível, principalmente por já sabermos a verdade por trás daquele jogo cênico. A história nos envolve exatamente nessa angústia de ir vendo o desenrolar da trama onde os personagens sabem menos que o espectador.
Toda a trama se baseia na tentativa de Tony Wendice de matar sua esposa Margot para ficar com a herança. Para que ele tenha um álibi perfeito e não seja investigado, contrata um ex-colega de faculdade. O problema é que o plano não sai exatamente como ele pensou, de qualquer maneira, ele ainda pode seguir com o intuito principal de ver sua esposa morta e ele seu único herdeiro.
E tendo o texto como principal atrativo em praticamente um único cenário: o apartamento de Tony e Margot Wendice, o filme acaba sendo um espaço para os atores. Não por acaso, Hitchcock ficou tão chateado com a "traição" de Grace Kelly ao largar a carreira para ser princesa. A atriz demonstra aqui uma grande capacidade de passar emoções diversas. É doce com o marido, sedutora com o amante. Se desespera com a tentativa de assassinato e constrói a dor em seu rosto com as consequências. Tudo na medida correta. Outro grande destaque é o ator John Williams como o inspetor de polícia. Sua investigação do crime, principalmente no terceiro ato, é incrível.
Agora, claro que nem por isso Disque M Para Matar é um teatro filmado. Hitchcock sabe utilizar sua câmera naquele espaço nos dando os ângulos e enquadramentos necessários para contar sua história. Vemos, inclusive, o uso de plongée e contra-plongée em momentos bastante funcionais. A já citada cena do ataque também é muito bem conduzida, nos dando uma sensação claustrofóbica mesmo já esperando a tentativa de assassinato. É interessante também como ele conduz nosso olhar para as pistas, como a meia, a chave ou a maleta no quarto.
Disque M Para Matar não é dos filmes mais festejados de Hitchcock, muito até por causa dele que o considera menor. Mas, consegue nos envolver de uma maneira bastante eficiente em uma história de um crime quase perfeito.
P.S. Para os soteropolitanos que ainda não tiveram a oportunidade de ver em 3D, o filme será exibido mais uma vez no Panorama Internacional Coisa de Cinema no dia 06/11/13, às 16:50, no Espaço Gláuber Rocha.
Disque M Para Matar (Dial M for Murder, 1954 / EUA)
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Frederick Knott
Com: Ray Milland, Grace Kelly, Robert Cummings, John Williams
Duração: 105 min.
Na década de 50, os estúdios estavam em busca de novidades para atrair as pessoas aos cinemas, com medo da concorrência da televisão. Foi nesse período que as cores chegaram às grandes telas, que a razão de tela aumentou, tornando-se retangular, foi quando surgiu o CinemaScope com sua lente anamórfica. E, a tridimensionalidade. Na época, a tecnologia ainda engatinhava, de maneira quase experimental e havia o exagero de coisas saltando em nossa frente, se esquecendo da história.
Agora que pude conferir a versão em 3D de Hitchcock percebo o quanto o diretor se preocupou em não usar a tecnologia em vão. Ainda que exista o posicionamento cênico de maneira estratégica para que percebamos a profundidade. Sempre é possível observar objetos em primeiro plano, deixando os atores em segundo e o cenário em terceiro, nos dando a sensação exata da profundidade.
Na cena em que a personagem de Grace Kelly procura a tesoura para se livrar do agressor, sua mão vai até a câmera, saltando um pouco em nossa frente. Isso só acontece novamente em outra cena importante, quando o personagem de Ray Milland pega a chave e a coloca na porta. Mas, no geral, o 3D é apenas uma alegoria, sem grandes funções estéticas. Não por acaso, foi a única experiência de Hitchcock no formato e estreou em poucos cinemas assim. A cópia mais difundida foi mesmo a 2D. O próprio Truffaut quando entrevista o diretor confessa que nunca pode conferir a versão em 3D por não ter chegado à França.
Mas, independente da tecnologia, Disque M Para Matar tem seus próprios atrativos. A começar pela imagem. Foi o segundo filme em cores do diretor e ele soube usar muito bem sua paleta para nos dar símbolos. Como o vestido vermelho que Margot, personagem de Grace Kelly, usa quando aparece em cena com o seu amante Mark Halliday (Robert Cummings). Com o marido, ela está sempre com tons claros. E quando há uma virada no destino de sua personagem, ela usa tons mais fechados, como o cinza.
O texto, um dos grandes chamarizes do filme, não é do mestre e sim do dramaturgo Frederick Knott. Disque M Para Matar era uma peça de sucesso na Broadway, que Hitchcock filmou sem mudar quase nada do texto. Os diálogos são muito bem construídos, com uma dose de ironia incrível, principalmente por já sabermos a verdade por trás daquele jogo cênico. A história nos envolve exatamente nessa angústia de ir vendo o desenrolar da trama onde os personagens sabem menos que o espectador.
Toda a trama se baseia na tentativa de Tony Wendice de matar sua esposa Margot para ficar com a herança. Para que ele tenha um álibi perfeito e não seja investigado, contrata um ex-colega de faculdade. O problema é que o plano não sai exatamente como ele pensou, de qualquer maneira, ele ainda pode seguir com o intuito principal de ver sua esposa morta e ele seu único herdeiro.
E tendo o texto como principal atrativo em praticamente um único cenário: o apartamento de Tony e Margot Wendice, o filme acaba sendo um espaço para os atores. Não por acaso, Hitchcock ficou tão chateado com a "traição" de Grace Kelly ao largar a carreira para ser princesa. A atriz demonstra aqui uma grande capacidade de passar emoções diversas. É doce com o marido, sedutora com o amante. Se desespera com a tentativa de assassinato e constrói a dor em seu rosto com as consequências. Tudo na medida correta. Outro grande destaque é o ator John Williams como o inspetor de polícia. Sua investigação do crime, principalmente no terceiro ato, é incrível.
Agora, claro que nem por isso Disque M Para Matar é um teatro filmado. Hitchcock sabe utilizar sua câmera naquele espaço nos dando os ângulos e enquadramentos necessários para contar sua história. Vemos, inclusive, o uso de plongée e contra-plongée em momentos bastante funcionais. A já citada cena do ataque também é muito bem conduzida, nos dando uma sensação claustrofóbica mesmo já esperando a tentativa de assassinato. É interessante também como ele conduz nosso olhar para as pistas, como a meia, a chave ou a maleta no quarto.
Disque M Para Matar não é dos filmes mais festejados de Hitchcock, muito até por causa dele que o considera menor. Mas, consegue nos envolver de uma maneira bastante eficiente em uma história de um crime quase perfeito.
P.S. Para os soteropolitanos que ainda não tiveram a oportunidade de ver em 3D, o filme será exibido mais uma vez no Panorama Internacional Coisa de Cinema no dia 06/11/13, às 16:50, no Espaço Gláuber Rocha.
Disque M Para Matar (Dial M for Murder, 1954 / EUA)
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Frederick Knott
Com: Ray Milland, Grace Kelly, Robert Cummings, John Williams
Duração: 105 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Disque M Para Matar em 3D
2013-11-05T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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