
Na década de 50, os estúdios estavam em busca de novidades para atrair as pessoas aos cinemas, com medo da concorrência da televisão. Foi nesse período que as cores chegaram às grandes telas, que a razão de tela aumentou, tornando-se retangular, foi quando surgiu o CinemaScope com sua lente anamórfica. E, a tridimensionalidade. Na época, a tecnologia ainda engatinhava, de maneira quase experimental e havia o exagero de coisas saltando em nossa frente, se esquecendo da história.
Agora que pude conferir a versão em 3D de Hitchcock percebo o quanto o diretor se preocupou em não usar a tecnologia em vão. Ainda que exista o posicionamento cênico de maneira estratégica para que percebamos a profundidade. Sempre é possível observar objetos em primeiro plano, deixando os atores em segundo e o cenário em terceiro, nos dando a sensação exata da profundidade.

Mas, independente da tecnologia, Disque M Para Matar tem seus próprios atrativos. A começar pela imagem. Foi o segundo filme em cores do diretor e ele soube usar muito bem sua paleta para nos dar símbolos. Como o vestido vermelho que Margot, personagem de Grace Kelly, usa quando aparece em cena com o seu amante Mark Halliday (Robert Cummings). Com o marido, ela está sempre com tons claros. E quando há uma virada no destino de sua personagem, ela usa tons mais fechados, como o cinza.

Toda a trama se baseia na tentativa de Tony Wendice de matar sua esposa Margot para ficar com a herança. Para que ele tenha um álibi perfeito e não seja investigado, contrata um ex-colega de faculdade. O problema é que o plano não sai exatamente como ele pensou, de qualquer maneira, ele ainda pode seguir com o intuito principal de ver sua esposa morta e ele seu único herdeiro.

Agora, claro que nem por isso Disque M Para Matar é um teatro filmado. Hitchcock sabe utilizar sua câmera naquele espaço nos dando os ângulos e enquadramentos necessários para contar sua história. Vemos, inclusive, o uso de plongée e contra-plongée em momentos bastante funcionais. A já citada cena do ataque também é muito bem conduzida, nos dando uma sensação claustrofóbica mesmo já esperando a tentativa de assassinato. É interessante também como ele conduz nosso olhar para as pistas, como a meia, a chave ou a maleta no quarto.
Disque M Para Matar não é dos filmes mais festejados de Hitchcock, muito até por causa dele que o considera menor. Mas, consegue nos envolver de uma maneira bastante eficiente em uma história de um crime quase perfeito.
P.S. Para os soteropolitanos que ainda não tiveram a oportunidade de ver em 3D, o filme será exibido mais uma vez no Panorama Internacional Coisa de Cinema no dia 06/11/13, às 16:50, no Espaço Gláuber Rocha.
Disque M Para Matar (Dial M for Murder, 1954 / EUA)
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Frederick Knott
Com: Ray Milland, Grace Kelly, Robert Cummings, John Williams
Duração: 105 min.