Amanhã é doze de junho, dia dos namorados aqui no Brasil. Apesar de saber que esta é apenas uma data comercial, proposta pelos lojistas que tinham no mês de junho uma queda de vendas, não deixa de ser interessante falar de amor. Filmes românticos, cenas românticas existem várias. Desde o clássico Romeu e Julieta, passando por Casablanca, E o Vento Levou, A um passo da Eternidade, Um Lugar Chamado Notting Hill, Meu primeiro Amor, ou mesmo Titanic. É difícil escolher a cena mais romântica do cinema para analisar. Então, escolhi o reverso do amor. O filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. Porque no fundo, é o mais romântico de todos.O filme traz Jim Carrey
Esquecer literalmente, em uma ação fantasiosa, o filme traz uma clínica capaz de apagar da memória a lembrança de alguém. O questionamento principal do filme é: mesmo que você tenha sofrido, é válido apagar de sua memória um grande amor? Porque a vida é feita de momentos, uns bons e outros ruins. Passar por ela sem amar é como passar a vida em branco. Já que entramos em uma onda piegas, apelo para Roberto Carlos: "Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi".
Filosofias de banheiro a parte, Brilho Eterno é um daqueles filmes raros. Um drama romântico inteligente que usa uma montagem não-linear para nos envolver em uma trama amorosa frustrada e nos surpreender com as reviravoltas na mesma. Prestem atenção na cor do cabelo da protagonista para não se perder no tempo-espaço. O roteiro é primoroso e nos leva a questionar as relações em nossa vida. A interpretação dos dois atores também ajuda. É, sem dúvidas, um grande filme.
A cena que escolhi para resumir este momento, não vou dizer em que ponto do filme está, pois acabaria quebrando a surpresa dos que ainda não viram o filme. Mesmo assim, se você é daqueles que não quer saber nada antes do filme, vá vê-lo e volte aqui depois. Até porque, o filme é muito bom, vale a pena. Aos que continuarem, vejam apenas como a história de um casal que ao mesmo tempo em que quer esquecer os problemas que tiveram, não querem esquecer o amor que ainda sentem. O desespero, ponto crucial, de estar tudo sumindo, de querer mudar o destino, de querer estar ali. Tudo isso está resumido nesta cena.Eles estão na casa de praia, ela sobe as escadas, uma câmera subjetiva a segue. Logo atrás, está ele, confuso, quer ficar, mas tem que ir embora. A cena é escura, representando a mente confusa do personagem. É uma exposição de sentimentos. Detalhes do chão, primeiro seco, com os pés do personagem indeciso. Depois a água entrando. Já não é mais a lembrança, mas a reflexão dela.
A câmera na mão segue Jim Carrey, mostra sua angústia, sua frustração pela atitude no passado. O som da onda do mar batendo, levando as lembranças é uma bela metáfora. O constraste de luz e sombra, externam sua angústia. A água entrando na casa, invadindo sua memória que será apagada. Interessante que após ela subir a escada, ficamos apenas com a imagem dele, ali estão os seus questionamentos, não é mais a lembrança do primeiro encontro. Apenas a voz dela é ouvida. Ele olha pela janela, o mar forte lá fora, pronto para invadir. A música triste começa a subir em B.G. Ele expõe todo seu medo e insegurança no primeiro encontro. Mas, tudo bem, parece que acabou, não tem volta. Até que ele sai pela porta, não há mais lembranças e algo acontece: ela o chama. Aí está o plus do filme, que não vou explicar, senão perde a graça. Mas, ela sai da sombra, toma a atitude, e os dois se despedem. É tocante, é bela, é mais que romântica. É a certeza de que apesar de tudo, o amor vale sempre a pena ser vivido. Ou não?

