Me faça uma garapa
Não sou do tipo que diz "não vi e não gostei", por isso não vou entrar no mérito, porém passeando pelos sites e blogs é impossível deixar de perceber o assunto do momento: Garapa, novo documentário de José Padilha. O nome do diretor parece que virou símbolo de polêmica. Podemos dizer que seja o nosso Michael Moore tupiniquim. Polêmico, controverso e com algo que os documentaristas mais puritanos condenam: a opinião própria conduzindo e induzindo o público.
Foi assim em Ônibus 174, quando Padilha reuniu todas as imagens que flagraram a dura sina dos passageiros sequestrados em pleno Jardim Botânico por cinco horas no Rio de Janeiro. A forma como ele contou a história, quase que para comprovar a sua tese, foi alvo de crítica de muitos cineastas. Mas, era um documentário e este gênero não tinha a amplitude no Brasil para tanta polêmica na imprensa.
A exposição maior veio quando ele resolveu fazer seu segundo documentário que acabou virando ficção. Com uma ajuda substancial da censura, que gerou curiosidade. E da pirataria que criou um fenômeno de distribuição no país, Tropa de Elite ganhou mundo. Todos viram, ouviram e comentaram sobre o filme. Venceu em Berlim e ganhou críticas taxando-o de fascista. Uma bobagem, em minha modesta opinião. Ao contrário dos documentários de Padilha que induzem a uma conclusão de certo e errado. A saga do Capitão Nascimento apenas expõe uma realidade com detalhes cruéis, desumanos, mas não entra no mérito do que é ou não válido. Dando apenas subsídios para pensar.
O fato é que, após todo o burburinho, qualquer coisa que Padilha fizesse viraria notícia fácil. E ele chega as telas com Garapa, um documentário quase encomendado sobre a fome no Brasil. Um tema nobre, preocupante e totalmente válido de ser discutido. O documentário é um meio de comunicação, denúncia, protesto. A polêmica está em como fazê-lo. Algumas críticas que li apelam para o fato de que não existem pessoas morrendo de fome no Brasil. Porém, comer algo não significa se alimentar. Subnutridos, a maiorida da população enche a barriga de jabá com farinha, ou com uma bebida adocicada que engana a fome: a chamada Garapa. E isso é deprimente até para os menos sensíveis.
Pelo visto, Padilha quer chamar a atenção para o problema e comover a todo custo. O filme é todo em preto e branco, com muita câmera na mão e sem nenhuma trilha sonora (tão criticada por alguns em O ônibus 174). O que se espera é que tanto burburinho leve a algo produtivo, senão, é apenas muito barulho por nada. E disso, já estamos cansados. Talvez por esse motivo não tive a motivação para ir ao cinema vê-lo. E dei como título a este post uma expressão baiana que usa o termo garapa para dizer algo como: "não me enrole não" ou... "por favor, eu não sou otário".
Foi assim em Ônibus 174, quando Padilha reuniu todas as imagens que flagraram a dura sina dos passageiros sequestrados em pleno Jardim Botânico por cinco horas no Rio de Janeiro. A forma como ele contou a história, quase que para comprovar a sua tese, foi alvo de crítica de muitos cineastas. Mas, era um documentário e este gênero não tinha a amplitude no Brasil para tanta polêmica na imprensa.
A exposição maior veio quando ele resolveu fazer seu segundo documentário que acabou virando ficção. Com uma ajuda substancial da censura, que gerou curiosidade. E da pirataria que criou um fenômeno de distribuição no país, Tropa de Elite ganhou mundo. Todos viram, ouviram e comentaram sobre o filme. Venceu em Berlim e ganhou críticas taxando-o de fascista. Uma bobagem, em minha modesta opinião. Ao contrário dos documentários de Padilha que induzem a uma conclusão de certo e errado. A saga do Capitão Nascimento apenas expõe uma realidade com detalhes cruéis, desumanos, mas não entra no mérito do que é ou não válido. Dando apenas subsídios para pensar.
O fato é que, após todo o burburinho, qualquer coisa que Padilha fizesse viraria notícia fácil. E ele chega as telas com Garapa, um documentário quase encomendado sobre a fome no Brasil. Um tema nobre, preocupante e totalmente válido de ser discutido. O documentário é um meio de comunicação, denúncia, protesto. A polêmica está em como fazê-lo. Algumas críticas que li apelam para o fato de que não existem pessoas morrendo de fome no Brasil. Porém, comer algo não significa se alimentar. Subnutridos, a maiorida da população enche a barriga de jabá com farinha, ou com uma bebida adocicada que engana a fome: a chamada Garapa. E isso é deprimente até para os menos sensíveis.
Pelo visto, Padilha quer chamar a atenção para o problema e comover a todo custo. O filme é todo em preto e branco, com muita câmera na mão e sem nenhuma trilha sonora (tão criticada por alguns em O ônibus 174). O que se espera é que tanto burburinho leve a algo produtivo, senão, é apenas muito barulho por nada. E disso, já estamos cansados. Talvez por esse motivo não tive a motivação para ir ao cinema vê-lo. E dei como título a este post uma expressão baiana que usa o termo garapa para dizer algo como: "não me enrole não" ou... "por favor, eu não sou otário".
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Me faça uma garapa
2009-06-01T11:36:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|critica|documentario|
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