A delicadeza de um documentário
A jornalista Luciana Burlamaqui acaba de lançar seu primeiro longametragem Entre a luz e a sombra, um documentário que retrata a história da atriz Sophia Bisilliat como voluntária social em presídios e a relação que se formou entre ela e dois detentos que se tornaram uma famosa dupla de rappers - a 509-E, formada por Dexter e Afro-X, aquele mesmo que casou com Simony. O filme estreou em SP e BH no dia 27/11, já no RJ a estreia será hoje, 04/12. Nas demais capitais ainda não tem previsão, o que me deixou com uma curiosidade imensa. Por tudo que já li e vi achei bastante interessante, tanto o argumento quanto a abordagem. Segundo a produção, ele "investiga a violência e a natureza humana a partir da história de três personagens que tiveram seus destinos cruzados no complexo Carandiru, considerado até então o maior presídio da América Latina". E as temáticas da prisão, crime, violência, reintegração social extrapolam para o encontro de classes sociais distintas e as mais difusas contradições do ser humano na busca de seus ideais".
Agora, pesquisando sobre o assunto, descobri que nem todos estão satisfeitos. Dexter, um dos músicos retratados, conta em seu blog o porquê de estar chateado com o documentário. Uma situação extremamente delicada. Um documentário feito com pessoas que se dispõem a expor suas vidas às câmeras em favor de uma história tem sempre dois lados. Primeiro, é importante frisar que é um filme e o diretor tem a palavra final sobre a obra e sua abordagem. Ele não tem obrigação de exibir o produto para aprovação das pessoas entrevistadas, o corte final é dele, pois o trabalho é dele. Por outro lado, há a questão de lidar com a vida daquelas pessoas que estamos expondo e é sempre educado ter o cuidado de levar o retorno. Agora, como eu disse, não posso julgar, afinal, não conheço os bastidores e Luciana pode ainda ter a intenção de levar o filme até Dexter.
Em seu filme, O Fim e o Princípio, Eduardo Coutinho dá uma verdadeira aula sobre como se fazer um documentário. Ele vai até uma pequena vila no Nordeste, entrevista as pessoas, depois volta com o filme pronto que é exibido em praça pública e ele coloca isso no corte final a ser comercializado. É uma demonstração extrema de respeito àquelas pessoas que cederam suas imagens. Agora, tudo se resolve com acertos anteriores. No caso de "Entre a luz e a sombra" não sei o que ficou acertado, nem o que foi explicado aos entrevistados para gerar essa revolta. Lamento apenas, que os documentários brasileiros ainda tenham esse tipo de polêmica em voga, vide o caso do filme Alô, Alô, Terezinha!
Está em toda a imprensa atualmente o processo que algumas chacretes estão movendo contra o diretor Nelson Hoineff por considerar que houve manipulação de imagem para reforçar o estigma de que as moças eram uma espécie de prostitutas de luxo. Mais uma vez, não posso saber o que aconteceu nos bastidores, como foi o acerto entre diretor e entrevistadas, ou mesmo se houve alguma manipulação. Vi o resultado do filme e não achei que tenha tido algo tão forte. Em vários momentos elas afirmam que não eram prostitutas, apenas a índia Potira fala que saía com os homens. Agora, o filme realmente foca muito mais na trajetória de apogeu à decadência das chacretes do que no próprio Chacrinha. Talvez, fosse educado explicitar a intenção aos entrevistados.
Em toda essa polêmica, bem fez Henrique Dantas, recém premiado no Festival de Brasília. Após uma longa e bela entrevista com Baby do Brasil, a cantora se arrependeu ou sei lá o quê, e disse que não autorizava a inclusão no filme. Ele tentou várias negociações, mas todas em vão. Resultado, Filhos de João ficou sem as imagens da única representante feminina do grupo Novos Baianos e ainda veio a explicação nos créditos. Ficou feio para ela, que perdeu uma ótima oportunidade de participar da festa. Por isso, lembrem, ao fazer um documentário conversem muito com seus entrevistados, deixem tudo muito claro, inclusive que a versão final do filme é sua, não deles. Afinal, eles são seus protagonistas e também merecem consideração e respeito.
Agora, pesquisando sobre o assunto, descobri que nem todos estão satisfeitos. Dexter, um dos músicos retratados, conta em seu blog o porquê de estar chateado com o documentário. Uma situação extremamente delicada. Um documentário feito com pessoas que se dispõem a expor suas vidas às câmeras em favor de uma história tem sempre dois lados. Primeiro, é importante frisar que é um filme e o diretor tem a palavra final sobre a obra e sua abordagem. Ele não tem obrigação de exibir o produto para aprovação das pessoas entrevistadas, o corte final é dele, pois o trabalho é dele. Por outro lado, há a questão de lidar com a vida daquelas pessoas que estamos expondo e é sempre educado ter o cuidado de levar o retorno. Agora, como eu disse, não posso julgar, afinal, não conheço os bastidores e Luciana pode ainda ter a intenção de levar o filme até Dexter.
Em seu filme, O Fim e o Princípio, Eduardo Coutinho dá uma verdadeira aula sobre como se fazer um documentário. Ele vai até uma pequena vila no Nordeste, entrevista as pessoas, depois volta com o filme pronto que é exibido em praça pública e ele coloca isso no corte final a ser comercializado. É uma demonstração extrema de respeito àquelas pessoas que cederam suas imagens. Agora, tudo se resolve com acertos anteriores. No caso de "Entre a luz e a sombra" não sei o que ficou acertado, nem o que foi explicado aos entrevistados para gerar essa revolta. Lamento apenas, que os documentários brasileiros ainda tenham esse tipo de polêmica em voga, vide o caso do filme Alô, Alô, Terezinha!
Está em toda a imprensa atualmente o processo que algumas chacretes estão movendo contra o diretor Nelson Hoineff por considerar que houve manipulação de imagem para reforçar o estigma de que as moças eram uma espécie de prostitutas de luxo. Mais uma vez, não posso saber o que aconteceu nos bastidores, como foi o acerto entre diretor e entrevistadas, ou mesmo se houve alguma manipulação. Vi o resultado do filme e não achei que tenha tido algo tão forte. Em vários momentos elas afirmam que não eram prostitutas, apenas a índia Potira fala que saía com os homens. Agora, o filme realmente foca muito mais na trajetória de apogeu à decadência das chacretes do que no próprio Chacrinha. Talvez, fosse educado explicitar a intenção aos entrevistados.
Em toda essa polêmica, bem fez Henrique Dantas, recém premiado no Festival de Brasília. Após uma longa e bela entrevista com Baby do Brasil, a cantora se arrependeu ou sei lá o quê, e disse que não autorizava a inclusão no filme. Ele tentou várias negociações, mas todas em vão. Resultado, Filhos de João ficou sem as imagens da única representante feminina do grupo Novos Baianos e ainda veio a explicação nos créditos. Ficou feio para ela, que perdeu uma ótima oportunidade de participar da festa. Por isso, lembrem, ao fazer um documentário conversem muito com seus entrevistados, deixem tudo muito claro, inclusive que a versão final do filme é sua, não deles. Afinal, eles são seus protagonistas e também merecem consideração e respeito.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A delicadeza de um documentário
2009-12-04T14:51:00-03:00
Amanda Aouad
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