O Segredo dos seus olhos
"Pare de pensar, senão você fica com vários passados e nenhum futuro."
O paradoxo é que, se uma pessoa lhe mandar parar de pensar, aí é que você pensa. E no caso de Segredo dos seus olhos têm-se muito a pensar, inclusive em relação a essa frase emblemática. Finalmente, o aclamado filme do diretor Juan José Campanella chegou a Salvador, ainda em pré-estreia com apenas uma sessão na Sala de Arte e outra no Glauber Rocha. Como é mais perto de minha casa, fiquei com o Cine Vivo mesmo e pude conferir por que este filme argentino desbancou o franco favorito A Fita Branca.
Há tempos, o cinema dos nossos hermanos vem conquistando respeito e admiração no meio. Seu segredo é construir histórias simples e cotidianas de forma envolvente e criativa. Uma nova forma de fazer cinema, sem se ater tanto ao seu passado e aos filmes panfletários defendidos por Fernando Solanas. Que bom que eles se libertaram, ao contrário de nós, brasileiros, que continuamos com a visão cinema novista de se contar uma história.
Em primeiro lugar, O Segredo dos seus olhos é uma aula cinematográfica. Cada plano, cada movimento de câmera é um balé envolvente que nos leva a apreciar melhor o ângulo daquela história. No meio do filme, temos um plano-sequência de tirar o fôlego, que apesar de saber que aparatos digitais foram utilizados para disfarçar os cortes não deixa de impressionar e ser eletrizante. Mas, nem só de técnica vive o filme. A narrativa é envolvente ao extremo. Um ex-funcionário do Tribunal Penal de Buenos Aires resolve escrever um romance sobre um caso que acompanhou no ano de 1974. Uma esposa de um bancário foi brutalmente violentada e assassinada. Coube a Benjamin Espósito a investigação do crime.
Dividido entre o sentido do viúvo por aquela bela moça e a paixão reprimida que sente pela juíza novata Irene Menendéz Hastings, Benjamin vivencia uma jornada fascinante de sentimentos, gestos e palavras não ditas em um jogo psicológico repleto de surpresas e sutilezas. Há um tom melodramático no protagonista, denunciado pelo seu objeto de paixão, que nos envolve e não deixa incomodar pelos desfechos. Interessante perceber que Campanella escolhe o ano de 1974 para contar sua história pregressa, mas o assunto diratura militar é tocado apenas sutilmente em momentos-chave, como um pano de fundo para situação da justiça naquela época.
O Segredo de seus olhos é um filme muito bem feito, com recursos narrativos, cinematográficos e tecnológicos utilizados da melhor maneira para fazer aquilo que o público quer ao entrar no cinema: conhecer uma boa história para ser entretido e também pensar um pouco na própria existência.
O paradoxo é que, se uma pessoa lhe mandar parar de pensar, aí é que você pensa. E no caso de Segredo dos seus olhos têm-se muito a pensar, inclusive em relação a essa frase emblemática. Finalmente, o aclamado filme do diretor Juan José Campanella chegou a Salvador, ainda em pré-estreia com apenas uma sessão na Sala de Arte e outra no Glauber Rocha. Como é mais perto de minha casa, fiquei com o Cine Vivo mesmo e pude conferir por que este filme argentino desbancou o franco favorito A Fita Branca.
Há tempos, o cinema dos nossos hermanos vem conquistando respeito e admiração no meio. Seu segredo é construir histórias simples e cotidianas de forma envolvente e criativa. Uma nova forma de fazer cinema, sem se ater tanto ao seu passado e aos filmes panfletários defendidos por Fernando Solanas. Que bom que eles se libertaram, ao contrário de nós, brasileiros, que continuamos com a visão cinema novista de se contar uma história.
Em primeiro lugar, O Segredo dos seus olhos é uma aula cinematográfica. Cada plano, cada movimento de câmera é um balé envolvente que nos leva a apreciar melhor o ângulo daquela história. No meio do filme, temos um plano-sequência de tirar o fôlego, que apesar de saber que aparatos digitais foram utilizados para disfarçar os cortes não deixa de impressionar e ser eletrizante. Mas, nem só de técnica vive o filme. A narrativa é envolvente ao extremo. Um ex-funcionário do Tribunal Penal de Buenos Aires resolve escrever um romance sobre um caso que acompanhou no ano de 1974. Uma esposa de um bancário foi brutalmente violentada e assassinada. Coube a Benjamin Espósito a investigação do crime.
Dividido entre o sentido do viúvo por aquela bela moça e a paixão reprimida que sente pela juíza novata Irene Menendéz Hastings, Benjamin vivencia uma jornada fascinante de sentimentos, gestos e palavras não ditas em um jogo psicológico repleto de surpresas e sutilezas. Há um tom melodramático no protagonista, denunciado pelo seu objeto de paixão, que nos envolve e não deixa incomodar pelos desfechos. Interessante perceber que Campanella escolhe o ano de 1974 para contar sua história pregressa, mas o assunto diratura militar é tocado apenas sutilmente em momentos-chave, como um pano de fundo para situação da justiça naquela época.
O Segredo de seus olhos é um filme muito bem feito, com recursos narrativos, cinematográficos e tecnológicos utilizados da melhor maneira para fazer aquilo que o público quer ao entrar no cinema: conhecer uma boa história para ser entretido e também pensar um pouco na própria existência.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Segredo dos seus olhos
2010-04-13T08:12:00-03:00
Amanda Aouad
Argentina|cinema latino|critica|Juan José Campanella|livro|Oscar 2010|
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