Duelo de Campeões
A Copa do Mundo continua e a junção cinema e futebol também, agora passando para as ficções. Hoje, há exatos 60 anos, a seleção dos Estados Unidos conseguia um feito histórico. Fato este que foi retratado no longa dirigido por David Anspaugh chamado The Game Of Their Lives que literalmente seria O jogo de suas vidas. O nome bem condizente com a história foi pouco para os tradutores brasileiros que colocaram: Duelo de Campeões. Gostaria de saber que duelo foi esse, já que o filme apesar de ser ambientado na Copa do Mundo de 1950, ocorrida no Brasil, centra-se em um recorte bem específico entre o que estaria mais para Davi vs Golias, do que campeões.
Os Estados Unidos nunca tiveram tradição no esporte criado pelos ingleses. Naquele ano, então, a Inglaterra chegou ao Brasil como a franca favorita, após vencer na Europa. Já o time de Tio Sam, foi formado às pressas com um grupo semi-amador, tendo pouco tempo de treino. No dia 29 de junho de 1950, as duas seleções se enfrentaram no estádio da Independência em Belo Horizonte e, para surpresa de todos, os norte-americanos venceram por 1x0.
Foi um feito incrível, conhecido até hoje como a maior zebra de todas as Copas. Merecia um filme, sim. E David Anspaugh conseguiu mostrar aos cineastas brasileiros que insistem em dizer que futebol não tem como ficcionar, que é possível construir uma história envolvente e bem feita com o soccer como pano de fundo. O clima é muito parecido com Uma Equipe Muito Especial. Mostra a criação da equipe, as particularidades de cada jogador. A construção progressiva da união entre eles. As dificuldades. Até que, enfim, chega o desafio-chave e já estamos envolvidos na história e torcendo por eles.
O problema é a eterna mania dos norte-americanos de vangloriar sua história ao extremo. Está bem que a Inglaterra era uma grande seleção, uma das favoritas ao mundial, criadora do esporte. Mas, para valorizar ainda mais o feito, eles transformam o time da rainha em um semi-deus do futebol. O time imbatível, a grande estrela. Detalhe: naquela Copa, a Inglaterra também perdeu para Espanha, foi uma decepção em todo o campeonato e saiu na primeira fase. Além disso, o filme resume a Copa do Brasil a esse jogo. Vendo-o, não temos nenhuma noção do resto. A começar pelo fato de que a estreia do time norte americano não foi naquela histórica partida e sim, quatro dias antes, onde perdeu por 3x1 para Espanha.
O jogo é bem construído, cheio de emoção, e acaba com os jogadores nos braços do povo. O que realmente aconteceu, afinal, ninguém esperava aquela zebra e o público sempre tende a torcer pelo mais fraco se sua seleção não está em campo. Mas, do jeito que fica, parece que eles acabaram de vencer a Copa do Mundo, quando depois dali ainda perderiam para o Chile por 5x2. Mais importante ainda, nenhum desses times chegou às finais, que terminou com o Uruguai campeão calando o Maracanã após fazer 2x1 no Brasil. A vitória foi histórica, foi. Ninguém jamais imaginaria que os Estados Unidos pudessem vencer algo naquela época. Nem os rapazes eram esses heróicos melhores jogadores do mundo que o filme tenta empurrar.
Ainda mais grave, vemos a caricatura em relação ao nosso país e em relação ao único jogador negro da equipe, que por sinal fez o gol da vitória. Joseph Gaetjens era um haitiano, naturalizado americano e, até onde se sabe católico, um homem comum. No filme, ele é a caricatura do que os americanos acham que seja um africano. O homem pratica vudu, pula e dança do nada como um macaco de auditório e, toda vez em que aparece, uma música de tambores entra na trilha sonora. É visivelmente ridículo. Como eles podem ironizar tanto o próprio ídolo? Para completar, ao chegar ao Rio de Janeiro, a trilha sonora vira samba. A reconstituição da época é bem interessante, com o Copacabana Palace, os bondes, e os barzinhos de rua. Mas, o povo sambando nas ruas, mesmo em dia que não tem jogo, só reforça a caricatura do nosso país.
Entre prós e contras, o filme é interessante, principalmente para conhecer melhor a história daquela Copa, pois nos instiga a pesquisar mais sobre ela. Além de ser uma narrativa envolvente e de fácil acesso, como os americanos sabem fazer muito bem, apesar do ufanismo extremo.
Os Estados Unidos nunca tiveram tradição no esporte criado pelos ingleses. Naquele ano, então, a Inglaterra chegou ao Brasil como a franca favorita, após vencer na Europa. Já o time de Tio Sam, foi formado às pressas com um grupo semi-amador, tendo pouco tempo de treino. No dia 29 de junho de 1950, as duas seleções se enfrentaram no estádio da Independência em Belo Horizonte e, para surpresa de todos, os norte-americanos venceram por 1x0.
Foi um feito incrível, conhecido até hoje como a maior zebra de todas as Copas. Merecia um filme, sim. E David Anspaugh conseguiu mostrar aos cineastas brasileiros que insistem em dizer que futebol não tem como ficcionar, que é possível construir uma história envolvente e bem feita com o soccer como pano de fundo. O clima é muito parecido com Uma Equipe Muito Especial. Mostra a criação da equipe, as particularidades de cada jogador. A construção progressiva da união entre eles. As dificuldades. Até que, enfim, chega o desafio-chave e já estamos envolvidos na história e torcendo por eles.
O problema é a eterna mania dos norte-americanos de vangloriar sua história ao extremo. Está bem que a Inglaterra era uma grande seleção, uma das favoritas ao mundial, criadora do esporte. Mas, para valorizar ainda mais o feito, eles transformam o time da rainha em um semi-deus do futebol. O time imbatível, a grande estrela. Detalhe: naquela Copa, a Inglaterra também perdeu para Espanha, foi uma decepção em todo o campeonato e saiu na primeira fase. Além disso, o filme resume a Copa do Brasil a esse jogo. Vendo-o, não temos nenhuma noção do resto. A começar pelo fato de que a estreia do time norte americano não foi naquela histórica partida e sim, quatro dias antes, onde perdeu por 3x1 para Espanha.
O jogo é bem construído, cheio de emoção, e acaba com os jogadores nos braços do povo. O que realmente aconteceu, afinal, ninguém esperava aquela zebra e o público sempre tende a torcer pelo mais fraco se sua seleção não está em campo. Mas, do jeito que fica, parece que eles acabaram de vencer a Copa do Mundo, quando depois dali ainda perderiam para o Chile por 5x2. Mais importante ainda, nenhum desses times chegou às finais, que terminou com o Uruguai campeão calando o Maracanã após fazer 2x1 no Brasil. A vitória foi histórica, foi. Ninguém jamais imaginaria que os Estados Unidos pudessem vencer algo naquela época. Nem os rapazes eram esses heróicos melhores jogadores do mundo que o filme tenta empurrar.
Ainda mais grave, vemos a caricatura em relação ao nosso país e em relação ao único jogador negro da equipe, que por sinal fez o gol da vitória. Joseph Gaetjens era um haitiano, naturalizado americano e, até onde se sabe católico, um homem comum. No filme, ele é a caricatura do que os americanos acham que seja um africano. O homem pratica vudu, pula e dança do nada como um macaco de auditório e, toda vez em que aparece, uma música de tambores entra na trilha sonora. É visivelmente ridículo. Como eles podem ironizar tanto o próprio ídolo? Para completar, ao chegar ao Rio de Janeiro, a trilha sonora vira samba. A reconstituição da época é bem interessante, com o Copacabana Palace, os bondes, e os barzinhos de rua. Mas, o povo sambando nas ruas, mesmo em dia que não tem jogo, só reforça a caricatura do nosso país.
Entre prós e contras, o filme é interessante, principalmente para conhecer melhor a história daquela Copa, pois nos instiga a pesquisar mais sobre ela. Além de ser uma narrativa envolvente e de fácil acesso, como os americanos sabem fazer muito bem, apesar do ufanismo extremo.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Duelo de Campeões
2010-06-29T08:45:00-03:00
Amanda Aouad
critica|drama|futebol|Gerard Butler|
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