A vida dos outros
Existem assuntos que são datados, ideologias que caem por terra. Ao criar o socialismo científico, Karl Marx e Friedrich Engels certamente não imaginaram um fim tão melancólico. Tudo estava perfeitamente traçado, uma ditadura por um bem maior seguida de uma comunidade igualitária onde não existiriam dominantes nem dominados. Mas, ambos não contavam com duas coisas: primeiro, a ânsia por liberdade do homem oprimido, segundo, o gosto pelo poder do homem dominante. Assim, a história nos mostrou os resultados, mas interessante que vemos poucas histórias sob o ponto de vista de A vida dos Outros, longametragem alemão vencedor do oscar de filme estrangeiro em 2007.
De pronto, posso me lembrar de O Sol da meia noite, filme que retrata o drama do personagem Nikolai Rodchenko, de Mikhail Baryshnikov, tentando fugir da União Soviética para viver nos Estados Unidos, ou Adeus Lênin, que mostra como um filho tenta manter o sonho socialista para uma mãe recém saída de um coma, que não sabe que o muro de Berlim caiu. Um mostra o ser oprimido que não deseja aquele regime, outro mostra o ser idealista que acredita nele piamente. Mas, o filme de Florian Henckel von Donnersmarck vai além e mostra o ponto de vista do opressor. Centrado no personagem de Ulrich Mühe, um agente do serviço secreto chamado Wiesler, que tem a missão de vigiar o dramaturgo Georg Dreyman, vivido por Sebastian Koch.
Dreyman é o artista querido do regime, com suas peças idealistas e sua esposa apaixonada, a atriz Christa-Maria Sieland, interpretada por Martina Gedeck. Nada parece abalar aquele mundo, exceto a desconfiança de que pensadores capitalistas estão começando a confabular com o dramaturgo. É interessante assistir a ideais capitalistas serem tratados como estamos acostumados a ver os comunistas: marginais perigosos. Ambos, no entanto, prezam pela mesma bandeira da liberdade. Aquele que como dizia Cecília Meireles "não há ninguém que a explique, nem ninguém que não entenda". É disso que fala o filme. Da perda da liberdade em um governo totalitário.
E este governo é o protagonista, espionando seus adversários como um Big Brother. A casa de Dreyman é totalmente grampeada, escutas e câmeras espalham-se. Wiesler e um assistente se revezam dia e noite para relatar cada segundo daquele casal e suas visitas. Até mesmo os atos sexuais são fichados. O voyeurismo e o suspense tomam conta da narrativa na melhor forma do mestre Hitchcock. O filme nos envolve naquele emaranhado de pistas e jogos duplos. Afinal o que pensa cada personagem? E onde aquilo tudo irá nos conduzir?
Desde a cena inicial com Wiesler mostrando a seus alunos como se faz um interrogatório, vemos um personagem frio, distante, seguindo a sua cartilha de funcionário exemplar de um regime em que acredita. A nossa emoção é dúbia ao renegar o carrasco, mas ao mesmo tempo perceber que ele é a representação de ideais igualitários que aprendemos a admirar na década de 60. Aos poucos, no entanto, o cenário vai se alterando e o filme perde um pouco de sua força, pois não se sustenta naquilo que construiu. O jogo é desfeito quando começam a ser reveladas as peças do tabuleiro. Voltamos então, ao lugar comum de perseguição e perseguido.
O plus que não permite que o filme caia no medíocre é mesmo o personagem de Wiesler. Fascinados por seu trabalho e pelo que vai descobrindo e mexendo dentro de si, nos deixamos levar por alguns acontecimentos que poderiam ser clichê ou mesmo forçados. Tornando A vida dos outros um belo exemplar que mereceu seu prêmio, apesar de não poder ser chamado de obra prima do cinema mundial. Ainda assim, um belo filme que foi uma dica da leitora @adrideluca. Este post é dedicado a ela, indique um filme você também.
De pronto, posso me lembrar de O Sol da meia noite, filme que retrata o drama do personagem Nikolai Rodchenko, de Mikhail Baryshnikov, tentando fugir da União Soviética para viver nos Estados Unidos, ou Adeus Lênin, que mostra como um filho tenta manter o sonho socialista para uma mãe recém saída de um coma, que não sabe que o muro de Berlim caiu. Um mostra o ser oprimido que não deseja aquele regime, outro mostra o ser idealista que acredita nele piamente. Mas, o filme de Florian Henckel von Donnersmarck vai além e mostra o ponto de vista do opressor. Centrado no personagem de Ulrich Mühe, um agente do serviço secreto chamado Wiesler, que tem a missão de vigiar o dramaturgo Georg Dreyman, vivido por Sebastian Koch.
Dreyman é o artista querido do regime, com suas peças idealistas e sua esposa apaixonada, a atriz Christa-Maria Sieland, interpretada por Martina Gedeck. Nada parece abalar aquele mundo, exceto a desconfiança de que pensadores capitalistas estão começando a confabular com o dramaturgo. É interessante assistir a ideais capitalistas serem tratados como estamos acostumados a ver os comunistas: marginais perigosos. Ambos, no entanto, prezam pela mesma bandeira da liberdade. Aquele que como dizia Cecília Meireles "não há ninguém que a explique, nem ninguém que não entenda". É disso que fala o filme. Da perda da liberdade em um governo totalitário.
E este governo é o protagonista, espionando seus adversários como um Big Brother. A casa de Dreyman é totalmente grampeada, escutas e câmeras espalham-se. Wiesler e um assistente se revezam dia e noite para relatar cada segundo daquele casal e suas visitas. Até mesmo os atos sexuais são fichados. O voyeurismo e o suspense tomam conta da narrativa na melhor forma do mestre Hitchcock. O filme nos envolve naquele emaranhado de pistas e jogos duplos. Afinal o que pensa cada personagem? E onde aquilo tudo irá nos conduzir?
Desde a cena inicial com Wiesler mostrando a seus alunos como se faz um interrogatório, vemos um personagem frio, distante, seguindo a sua cartilha de funcionário exemplar de um regime em que acredita. A nossa emoção é dúbia ao renegar o carrasco, mas ao mesmo tempo perceber que ele é a representação de ideais igualitários que aprendemos a admirar na década de 60. Aos poucos, no entanto, o cenário vai se alterando e o filme perde um pouco de sua força, pois não se sustenta naquilo que construiu. O jogo é desfeito quando começam a ser reveladas as peças do tabuleiro. Voltamos então, ao lugar comum de perseguição e perseguido.
O plus que não permite que o filme caia no medíocre é mesmo o personagem de Wiesler. Fascinados por seu trabalho e pelo que vai descobrindo e mexendo dentro de si, nos deixamos levar por alguns acontecimentos que poderiam ser clichê ou mesmo forçados. Tornando A vida dos outros um belo exemplar que mereceu seu prêmio, apesar de não poder ser chamado de obra prima do cinema mundial. Ainda assim, um belo filme que foi uma dica da leitora @adrideluca. Este post é dedicado a ela, indique um filme você também.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A vida dos outros
2010-08-24T08:35:00-03:00
Amanda Aouad
cinema europeu|critica|drama|Martina Gedeck|
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