O escritor fantasma
Finalmente assisti O Escritor Fantasma, estava devendo isso a mim mesma, afinal, apesar de todas as polêmicas envolvendo Roman Polanski, poucos sabem compor um suspense psicológico tão bem quanto o diretor. Com elementos que lembram seus filmes anteriores, a exemplo de O Bebê de Rosemary, Chinatown, ou mesmo O Pianista, Polanski nos traz um filme sobre os bastidores da política de uma forma instigante. Baseado no romance de Robert Harris, que assina o roteiro junto ao diretor, o filme é uma referência óbvia ao ex-ministro Tony Blair e seu envolvimento na guerra do Iraque. Apesar de tudo, falta algo para fechar este filme com maestria, que começa a desandar quando o protagonista entra no carro do seu antecessor e segue seus passos. Ainda assim, é um filme a ser visto e admirado.
Ewan McGregor interpreta, muito bem por sinal, um escritor sem nome que é contratado como "ghost writer" da autobiografia do ex-ministro britânico Adam Lang. Vivido por Pierce Brosnan em uma boa interpretação também, o político encontra-se em uma espécie de exílio nos Estados Unidos (como não lembrar da situação do próprio Polanski?) e enfrenta a fúria da opinião pública que o considera um assassino, pelas atitudes tomadas na guerra contra o terror. Envolvido sem querer nesse mundo de politicagem, McGregor começa a ler os manuscritos e entrevistar o ex-ministro para concluir seu trabalho que tem que ser feito em um mês.
Aos poucos, o "fantasma" percebe que ali não está em jogo apenas uma biografia, mas um segredo de estado que ele não tem idéia do que possa ser. Seu antecessor morrera de forma misteriosa e provavelmente descobrira algo comprometedor. A esposa de seu cliente parece uma mulher com problemas mentais, mas logo se mostra peça importante na vida do político, tendo sempre o aconselhado e influenciado em sua vida pública. Em contrapartida temos a secretária vivida por Kim Cattrall, que parece ter um caso com o ex-ministro e tem sempre um tom artificial, frio. Para completar, dois funcionários orientais trabalham dentro da casa com aparições sempre emblemáticas.
O cenário de mansão mal-assombrada, com essas peças transitando como em um tabuleiro de xadrez e o clima sombrio acentuado pelas fortes chuvas no exterior nos envolvem em um clima de suspense, onde parece que a vida do protagonista está sempre em perigo. Por mais que não entendamos o que aquelas linhas falando da vida de um homem possam ser tão reveladoras, compramos a idéia de que tudo tem que ter o maior sigilo e por isso ficamos nervosos quando ele passeia pela ilha, dorme sozinho no hotel ou troca palavras com um homem misterioso. Algumas passagens são geniais e brincam com nossa expectativa, como quando ele pega o pendrive onde encontra-se o manuscrito gravado e coloca em seu notebook. A sincronia no ato e do que acontece em seguida nos parece ter uma ligação e nos deixa apreensivos.
A direção ajuda nessa construção, assim como a fotografia sombria. Temos belas cenas de expectativas como um bilhete passando de mão em mão quase no final do filme. Ou na floresta quando o protagonista percebe um carro que o segue. O único problema dessa bela construção é o seu desfecho, não que o filme seja ruim ou se destrua, mas a partir do momento em que McGregor tem a certeza de algo errado, tudo começa a funcionar de uma forma muito esquemática, quase deus ex-machina, para que ele descubra a verdade. O carro e seu trajeto é um golpe, no mínimo, esquisito. E a revelação torna-se quase banal, apesar da bela construção de imagens.
A cena final, então, chega a ser ingênua. Após tudo aquilo, a atitude do nosso "fantasma" é absurdamente infantil, quase deixando que o óbvio aconteça. Até o brinde ele está perfeito, coerente. Depois disso, no entanto, é dar muita colher de chá para o destino. De qualquer forma, a narrativa nos envolve em um bom suspense psicológico e político, mostrando que Polanski continua a ser obrigatório para qualquer cinéfilo.
Ewan McGregor interpreta, muito bem por sinal, um escritor sem nome que é contratado como "ghost writer" da autobiografia do ex-ministro britânico Adam Lang. Vivido por Pierce Brosnan em uma boa interpretação também, o político encontra-se em uma espécie de exílio nos Estados Unidos (como não lembrar da situação do próprio Polanski?) e enfrenta a fúria da opinião pública que o considera um assassino, pelas atitudes tomadas na guerra contra o terror. Envolvido sem querer nesse mundo de politicagem, McGregor começa a ler os manuscritos e entrevistar o ex-ministro para concluir seu trabalho que tem que ser feito em um mês.
Aos poucos, o "fantasma" percebe que ali não está em jogo apenas uma biografia, mas um segredo de estado que ele não tem idéia do que possa ser. Seu antecessor morrera de forma misteriosa e provavelmente descobrira algo comprometedor. A esposa de seu cliente parece uma mulher com problemas mentais, mas logo se mostra peça importante na vida do político, tendo sempre o aconselhado e influenciado em sua vida pública. Em contrapartida temos a secretária vivida por Kim Cattrall, que parece ter um caso com o ex-ministro e tem sempre um tom artificial, frio. Para completar, dois funcionários orientais trabalham dentro da casa com aparições sempre emblemáticas.
O cenário de mansão mal-assombrada, com essas peças transitando como em um tabuleiro de xadrez e o clima sombrio acentuado pelas fortes chuvas no exterior nos envolvem em um clima de suspense, onde parece que a vida do protagonista está sempre em perigo. Por mais que não entendamos o que aquelas linhas falando da vida de um homem possam ser tão reveladoras, compramos a idéia de que tudo tem que ter o maior sigilo e por isso ficamos nervosos quando ele passeia pela ilha, dorme sozinho no hotel ou troca palavras com um homem misterioso. Algumas passagens são geniais e brincam com nossa expectativa, como quando ele pega o pendrive onde encontra-se o manuscrito gravado e coloca em seu notebook. A sincronia no ato e do que acontece em seguida nos parece ter uma ligação e nos deixa apreensivos.
A direção ajuda nessa construção, assim como a fotografia sombria. Temos belas cenas de expectativas como um bilhete passando de mão em mão quase no final do filme. Ou na floresta quando o protagonista percebe um carro que o segue. O único problema dessa bela construção é o seu desfecho, não que o filme seja ruim ou se destrua, mas a partir do momento em que McGregor tem a certeza de algo errado, tudo começa a funcionar de uma forma muito esquemática, quase deus ex-machina, para que ele descubra a verdade. O carro e seu trajeto é um golpe, no mínimo, esquisito. E a revelação torna-se quase banal, apesar da bela construção de imagens.
A cena final, então, chega a ser ingênua. Após tudo aquilo, a atitude do nosso "fantasma" é absurdamente infantil, quase deixando que o óbvio aconteça. Até o brinde ele está perfeito, coerente. Depois disso, no entanto, é dar muita colher de chá para o destino. De qualquer forma, a narrativa nos envolve em um bom suspense psicológico e político, mostrando que Polanski continua a ser obrigatório para qualquer cinéfilo.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O escritor fantasma
2010-08-25T08:50:00-03:00
Amanda Aouad
critica|drama|Ewan McGregor|Pierce Brosnan|Roman Polanski|suspense|
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