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Thor
Chega às telas mais um dos Vingadores e com um viés diferente de todos os outros. Thor, o Deus do trovão, não tem sua origem na ficção científica como a maioria dos heróis da Marvel que sofreram alguma mutação genética, foram expostos a radioatividade ou a experiências estranhas. Seu poder vem do trovão, é divino, mágico, e está concentrado na figura mítica de Mjölnir, seu machado. Então, aquele movimento de trazer o universo dos quadrinhos cada vez mais para o mundo real fica um pouco comprometido, principalmente quando estamos em Asgard. Muita coisa fica artificial e estranha.
Thor é o primogênito de Odin, o Pai de Todos, que no dia de sua coroação como novo rei de Asgard acaba tomando uma atitude impulsiva e é expulso do reino. Sendo enviado para a Terra, onde deve aprender o valor da humildade, Thor se envolve com alguns humanos, entre eles a bela Jane Foster por quem se apaixona. Os roteiristas Ashley Miller e Don Payne não quiseram comprar briga com fãs e resolveram pegar elementos de todas as versões do herói construindo uma nova história para sua origem. Vários pontos são diferentes aqui, não apenas que Jane virou astrofísica em vez de enfermeira, ou que ele não perdeu a memória ao ser jogado na Terra. Mas, é uma nova roupagem para a mesma essência. Thor precisa aprender a ser humilde para merecer o poder do trovão e se tornar o rei de Asgard.
Kenneth Branagh começa bem o filme. Estamos na Terra no momento exato em que Thor chega e é atropelado pelo carro de Jane. Tirada a ansiedade de vermos esse primeiro encontro e já explorar o sucesso e talento de Natalie Portman nas telas, voltamos no tempo. O Pai de Todos, Odin, explica para os filhos ainda pequenos e consequentemente para nós, a origem dos nove reinos. Uma solução sempre eficiente apesar de já manjada. Asgard é mesmo um mundo fantasioso, construído em computação gráfica e distante de referências, por isso, quando o filme está ali, temos um certo estranhamento. Nele conhecemos o temperamento impulsivo de Thor, a inveja do irmão Loki, o inimigo de Asgard, a terra dos gigantes de gelo e os 3 guerreiros (Volstagg, Frandall e Hogum), junto com Lady Sif.
Na Terra, o filme ganha um ar mais realista, tudo é bastante conhecido, ficamos com a sensação de um filme de ficção científica, exceto quando alguns integrantes de Asgard chegam ao planeta nos lembrando de que, afinal, é um filme de fantasia. Há referências claras dos quadrinhos, mas tudo dentro de uma lógica fílmica. Uma certa tensão é construída em torno de quem é aquele homem, o que é aquele martelo na pedra que ninguém consegue tirar, o que o Governo sabe daquilo e por que o cercou. A ciência, então, entra no filme através da trama de investigação do espaço, busca por OVNIs e estudo das constelações. Talvez por isso, Jane tenha deixado de ser enfermeira. Ainda assim, aqui também temos um filme de ação. Muitas lutas de Thor, efeitos especiais e correria. Há ainda a junção exata da cena depois dos créditos de Homem de Ferro 2, quando o martelo é encontrado, o que se torna uma boa recompensa para os fãs dos Vingadores. Aliás, referências aos outros vingadores não faltam, como o "cientista" especialista em raios gama (Bruce Banner), piada entre os funcionários da S.H.I.E.L.D. na chegada do Destruidor à Terra sobre (Tony) Stark e a presença do "Gavião Arqueiro" Jeremy Renner entre eles.
A direção tem bons momentos, principalmente na coreografia das lutas e na utilização dos cenários e fotografia para auxiliar nas cenas. Por exemplo, na terra gelada, os gigantes se misturam ao cenário de gelo, sendo mais ameaçadores ao grupo de Asgard, enquanto que Thor é alvo fácil com sua capa vermelha. Há também uma construção interessante da ida de Thor até onde está o martelo, com todos aqueles túneis de plástico que confundem e aumentam a tensão da chegada dele ao centro. Claro que aí entram alguns clichês como começar a chover para deixar a cena mais dramática. Alguns podem dizer que é por ele ser o deus do trovão. Serve como referência, mas ali, ele tinha perdido seus poderes. O que chama a atenção pelo exagero é a quase muleta de Kenneth Branagh utilizando plongées para cenas-chave de sofrimento. Nesta cena da busca pelo martelo, quando Thor chega onde está Mjölnir a câmera está lá olhando-o de cima para baixo. Está assim também, na cena em que Thor acorda amarrado no hospital, na cena de Odin na escada após discutir com Loki e focando o mesmo em seu sono profundo.
O elenco não tem grandes destaques, mas pelo menos também nenhum grande problema. Natalie Portman está encantadora, mas nada além disso, Chris Hemsworth convence como Thor, Anthony Hopkins dá uma certa postura austera a Odin e Tom Hiddleston convence como Loki, um dos vilões mais interessantes da Marvel, já que é complexo, com uma história de rejeição, identidade e vingança. Rene Russo pode ser considerada uma participação especial, já que tem pouquíssima aparição como a rainha Frigga, ou deusa Midgard. Apesar de escondido pela armadura, Idris Elba consegue também passar uma boa impressão de seu sentinela Heimdall, guardião da ponte arco-íris que torna possível a passagem entre os mundos.
O que acaba incomodando no roteiro de Thor é a má distribuição da curva dramática. Claro que é difícil explicar uma mitologia em duas horas e os filmes precisam de uma ação própria, não sendo apenas introdução. Thor precisava estar pronto ao final do filme para agir como herói. O problema é que o roteiro gasta um bom tempo para ele ser expulso. Outro tanto dele se ambientando na Terra. E deixa para os minutos finais todos os confrontos importantes e claro, a resolução do problema maior que é ser digno ou não de seu poder. A sensação é de que tudo acontece rápido demais nesse ponto, como se a resolução fosse fácil e quase tola. Isso dá uma frustração. Talvez, pudessem resumir melhor o início e nos levar diretamente para a trajetória da redenção do herói.
Outra coisa que frusta é o 3D, aqui sem muita utilidade. Constrói apenas a noção de profundidade do campo, mas isso, o 2D já conseguiu resolver com perspectiva e uso do foco. Por mais que uma cena ou outra nos dê uma noção exata dessa construção, acaba sendo pouco. Havia milhares de possibilidades da utilização da técnica, principalmente nas cenas de ação. O irônico é que o que acaba sendo a melhor utilização da tecnologia 3D é quando a maioria não está mais prestando atenção: nos créditos. Nele podemos viajar pela galáxia, vendo os nove reinos e a árvore que os liga. E claro, os que tiverem paciência de acompanhar até o final serão brindados com uma cena pós créditos.
Um filme divertido, repleto de magia e construções místicas, mas sem grandes empolgações. Não temos o ar de novidade do primeiro Homem-aranha com efeitos especiais inovadores e um excelente roteiro, ou um charme especial de um primeiro Homem de Ferro. Falta a Thor essa sensação de unanimidade. Ainda assim, é bem realizado e vai agradar boa parte do público. Aliás, já está agradando. Só no IMDB já está com nota 7,9. É um divertimento interessante que ajuda a aumentar a expectativa para Os Vingadores.
Thor (Thor: 2011 / EUA)
Direção: Kenneth Branagh
Roteiro: Ashley Miller e Don Payne
Com: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston, Anthony Hopkins.
Duração: 130 min
Thor é o primogênito de Odin, o Pai de Todos, que no dia de sua coroação como novo rei de Asgard acaba tomando uma atitude impulsiva e é expulso do reino. Sendo enviado para a Terra, onde deve aprender o valor da humildade, Thor se envolve com alguns humanos, entre eles a bela Jane Foster por quem se apaixona. Os roteiristas Ashley Miller e Don Payne não quiseram comprar briga com fãs e resolveram pegar elementos de todas as versões do herói construindo uma nova história para sua origem. Vários pontos são diferentes aqui, não apenas que Jane virou astrofísica em vez de enfermeira, ou que ele não perdeu a memória ao ser jogado na Terra. Mas, é uma nova roupagem para a mesma essência. Thor precisa aprender a ser humilde para merecer o poder do trovão e se tornar o rei de Asgard.
Kenneth Branagh começa bem o filme. Estamos na Terra no momento exato em que Thor chega e é atropelado pelo carro de Jane. Tirada a ansiedade de vermos esse primeiro encontro e já explorar o sucesso e talento de Natalie Portman nas telas, voltamos no tempo. O Pai de Todos, Odin, explica para os filhos ainda pequenos e consequentemente para nós, a origem dos nove reinos. Uma solução sempre eficiente apesar de já manjada. Asgard é mesmo um mundo fantasioso, construído em computação gráfica e distante de referências, por isso, quando o filme está ali, temos um certo estranhamento. Nele conhecemos o temperamento impulsivo de Thor, a inveja do irmão Loki, o inimigo de Asgard, a terra dos gigantes de gelo e os 3 guerreiros (Volstagg, Frandall e Hogum), junto com Lady Sif.
Na Terra, o filme ganha um ar mais realista, tudo é bastante conhecido, ficamos com a sensação de um filme de ficção científica, exceto quando alguns integrantes de Asgard chegam ao planeta nos lembrando de que, afinal, é um filme de fantasia. Há referências claras dos quadrinhos, mas tudo dentro de uma lógica fílmica. Uma certa tensão é construída em torno de quem é aquele homem, o que é aquele martelo na pedra que ninguém consegue tirar, o que o Governo sabe daquilo e por que o cercou. A ciência, então, entra no filme através da trama de investigação do espaço, busca por OVNIs e estudo das constelações. Talvez por isso, Jane tenha deixado de ser enfermeira. Ainda assim, aqui também temos um filme de ação. Muitas lutas de Thor, efeitos especiais e correria. Há ainda a junção exata da cena depois dos créditos de Homem de Ferro 2, quando o martelo é encontrado, o que se torna uma boa recompensa para os fãs dos Vingadores. Aliás, referências aos outros vingadores não faltam, como o "cientista" especialista em raios gama (Bruce Banner), piada entre os funcionários da S.H.I.E.L.D. na chegada do Destruidor à Terra sobre (Tony) Stark e a presença do "Gavião Arqueiro" Jeremy Renner entre eles.
A direção tem bons momentos, principalmente na coreografia das lutas e na utilização dos cenários e fotografia para auxiliar nas cenas. Por exemplo, na terra gelada, os gigantes se misturam ao cenário de gelo, sendo mais ameaçadores ao grupo de Asgard, enquanto que Thor é alvo fácil com sua capa vermelha. Há também uma construção interessante da ida de Thor até onde está o martelo, com todos aqueles túneis de plástico que confundem e aumentam a tensão da chegada dele ao centro. Claro que aí entram alguns clichês como começar a chover para deixar a cena mais dramática. Alguns podem dizer que é por ele ser o deus do trovão. Serve como referência, mas ali, ele tinha perdido seus poderes. O que chama a atenção pelo exagero é a quase muleta de Kenneth Branagh utilizando plongées para cenas-chave de sofrimento. Nesta cena da busca pelo martelo, quando Thor chega onde está Mjölnir a câmera está lá olhando-o de cima para baixo. Está assim também, na cena em que Thor acorda amarrado no hospital, na cena de Odin na escada após discutir com Loki e focando o mesmo em seu sono profundo.
O elenco não tem grandes destaques, mas pelo menos também nenhum grande problema. Natalie Portman está encantadora, mas nada além disso, Chris Hemsworth convence como Thor, Anthony Hopkins dá uma certa postura austera a Odin e Tom Hiddleston convence como Loki, um dos vilões mais interessantes da Marvel, já que é complexo, com uma história de rejeição, identidade e vingança. Rene Russo pode ser considerada uma participação especial, já que tem pouquíssima aparição como a rainha Frigga, ou deusa Midgard. Apesar de escondido pela armadura, Idris Elba consegue também passar uma boa impressão de seu sentinela Heimdall, guardião da ponte arco-íris que torna possível a passagem entre os mundos.
O que acaba incomodando no roteiro de Thor é a má distribuição da curva dramática. Claro que é difícil explicar uma mitologia em duas horas e os filmes precisam de uma ação própria, não sendo apenas introdução. Thor precisava estar pronto ao final do filme para agir como herói. O problema é que o roteiro gasta um bom tempo para ele ser expulso. Outro tanto dele se ambientando na Terra. E deixa para os minutos finais todos os confrontos importantes e claro, a resolução do problema maior que é ser digno ou não de seu poder. A sensação é de que tudo acontece rápido demais nesse ponto, como se a resolução fosse fácil e quase tola. Isso dá uma frustração. Talvez, pudessem resumir melhor o início e nos levar diretamente para a trajetória da redenção do herói.
Outra coisa que frusta é o 3D, aqui sem muita utilidade. Constrói apenas a noção de profundidade do campo, mas isso, o 2D já conseguiu resolver com perspectiva e uso do foco. Por mais que uma cena ou outra nos dê uma noção exata dessa construção, acaba sendo pouco. Havia milhares de possibilidades da utilização da técnica, principalmente nas cenas de ação. O irônico é que o que acaba sendo a melhor utilização da tecnologia 3D é quando a maioria não está mais prestando atenção: nos créditos. Nele podemos viajar pela galáxia, vendo os nove reinos e a árvore que os liga. E claro, os que tiverem paciência de acompanhar até o final serão brindados com uma cena pós créditos.
Um filme divertido, repleto de magia e construções místicas, mas sem grandes empolgações. Não temos o ar de novidade do primeiro Homem-aranha com efeitos especiais inovadores e um excelente roteiro, ou um charme especial de um primeiro Homem de Ferro. Falta a Thor essa sensação de unanimidade. Ainda assim, é bem realizado e vai agradar boa parte do público. Aliás, já está agradando. Só no IMDB já está com nota 7,9. É um divertimento interessante que ajuda a aumentar a expectativa para Os Vingadores.
Thor (Thor: 2011 / EUA)
Direção: Kenneth Branagh
Roteiro: Ashley Miller e Don Payne
Com: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston, Anthony Hopkins.
Duração: 130 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Thor
2011-04-29T15:00:00-03:00
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