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Incêndios
Incêndios
Um soco no estômago. Essa expressão é a melhor definição do filme canadense Incêndios que concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2011. Denis Villeneuve nos brinda com uma história intensa de uma família despedaçada pela guerra em tom de suspense emocional bastante competente.
Tudo começa com um testamento, os gêmeos Simon e Jeanne recebem uma missão insólita: entregar uma carta ao pai e irmão que eles nem sabiam que existia. Jeanne aceita a situação e vai buscar pistas em algum país no Oriente Médio, onde sua mãe nasceu. Simon, com maior dificuldade parece não querer ouvir o pedido, tornando o caminho ainda mais difícil. Mas, as pistas vão surgindo aos poucos e vamos montando o quebra-cabeça em um roteiro não-linear bastante funcional. E, chocante.
Construído em capítulos onde vemos o título do filme apenas no final, o roteiro é construído a partir das pontas soltas entre passado, presente e futuro. A maior parte, no entanto, é bastante cartesiana em uma construção paralela entre Jeanne no presente e sua mãe no passado. A montagem desses dois tempos, por sinal, é muito bem realizada, muitas vezes uma parte completando a outra de forma orgânica como se conversassem. Essa organização não-linear, é a única possível nessa história para construir o impacto das descobertas. Tudo faz muito sentido naquela ordem. As pistas que vão sendo dadas, as informações que são explicadas aos poucos, os capítulos que nos apresentam. Tudo faz nos envolver e encantar pela trajetória da "mulher cantante".
O único pecado do roteiro, talvez tenha sido não conseguir sustentar a emoção com o conteúdo das tais cartas. Nem faço coro a boa parte da crítica que reclamou a forma explícita como Villeneuve entrega o final, mas faltou uma dose maior de emoção nas palavras. Virou quase um anti-clímax depois daquele bombardeio de conclusões intensas. Melhor teria sido imaginar o que tinha ali de fato. Ainda assim, é um final impactante o suficiente para nos deixar sem ar, envoltos naquela trama tão bem amarrada do destino. Calo-me em demais análises para não entregar spoilers desnecessários, mas esse é o tipo do roteiro propenso a análises detalhadas. Uma verdadeira aula.
A direção do filme é segura, realista, com uma câmera que se torna íntima dos personagens sem invadí-los. Villeneuve consegue se colocar dentro de um centro político para falar de relações familiares, de escolhas. Os hororres da guerra e os problemas de divisões religiosas se tornam pano de fundo de uma luta por sobrevivência e essência de um ser. O amor incondicional e a força de uma tradição caminham de mãos dadas em Incêndios, brigando e se reconciliando de uma maneira emocionante. Não por acaso, o título assina a obra.
As interpretações também são de uma sensibilidade ímpar, construindo momentos emocionalmente impactantes como o "2 e 2 são 1" e o "cante agora", só para escolher dois dos mais fortes. Incêndios é um filme à flor da pele, que não se esconde em ideologias, nem preconceitos. Apenas se expõe, desnudando parte de uma alma humana.
Incêndios (Incendies: 2010 / Canadá, França)
Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Denis Villeneuve
Com: Lubna Azabal, Melissa-Désormeaux-Poulin, Maxim Gaudette, Rémy Girard, Abdelghafour Elaaziz, Allen Altman, Mohamed Majd, Nabil Sawalha, Baya Belal
Duração: 130 min
Tudo começa com um testamento, os gêmeos Simon e Jeanne recebem uma missão insólita: entregar uma carta ao pai e irmão que eles nem sabiam que existia. Jeanne aceita a situação e vai buscar pistas em algum país no Oriente Médio, onde sua mãe nasceu. Simon, com maior dificuldade parece não querer ouvir o pedido, tornando o caminho ainda mais difícil. Mas, as pistas vão surgindo aos poucos e vamos montando o quebra-cabeça em um roteiro não-linear bastante funcional. E, chocante.
Construído em capítulos onde vemos o título do filme apenas no final, o roteiro é construído a partir das pontas soltas entre passado, presente e futuro. A maior parte, no entanto, é bastante cartesiana em uma construção paralela entre Jeanne no presente e sua mãe no passado. A montagem desses dois tempos, por sinal, é muito bem realizada, muitas vezes uma parte completando a outra de forma orgânica como se conversassem. Essa organização não-linear, é a única possível nessa história para construir o impacto das descobertas. Tudo faz muito sentido naquela ordem. As pistas que vão sendo dadas, as informações que são explicadas aos poucos, os capítulos que nos apresentam. Tudo faz nos envolver e encantar pela trajetória da "mulher cantante".
O único pecado do roteiro, talvez tenha sido não conseguir sustentar a emoção com o conteúdo das tais cartas. Nem faço coro a boa parte da crítica que reclamou a forma explícita como Villeneuve entrega o final, mas faltou uma dose maior de emoção nas palavras. Virou quase um anti-clímax depois daquele bombardeio de conclusões intensas. Melhor teria sido imaginar o que tinha ali de fato. Ainda assim, é um final impactante o suficiente para nos deixar sem ar, envoltos naquela trama tão bem amarrada do destino. Calo-me em demais análises para não entregar spoilers desnecessários, mas esse é o tipo do roteiro propenso a análises detalhadas. Uma verdadeira aula.
A direção do filme é segura, realista, com uma câmera que se torna íntima dos personagens sem invadí-los. Villeneuve consegue se colocar dentro de um centro político para falar de relações familiares, de escolhas. Os hororres da guerra e os problemas de divisões religiosas se tornam pano de fundo de uma luta por sobrevivência e essência de um ser. O amor incondicional e a força de uma tradição caminham de mãos dadas em Incêndios, brigando e se reconciliando de uma maneira emocionante. Não por acaso, o título assina a obra.
As interpretações também são de uma sensibilidade ímpar, construindo momentos emocionalmente impactantes como o "2 e 2 são 1" e o "cante agora", só para escolher dois dos mais fortes. Incêndios é um filme à flor da pele, que não se esconde em ideologias, nem preconceitos. Apenas se expõe, desnudando parte de uma alma humana.
Incêndios (Incendies: 2010 / Canadá, França)
Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Denis Villeneuve
Com: Lubna Azabal, Melissa-Désormeaux-Poulin, Maxim Gaudette, Rémy Girard, Abdelghafour Elaaziz, Allen Altman, Mohamed Majd, Nabil Sawalha, Baya Belal
Duração: 130 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Incêndios
2011-08-17T08:44:00-03:00
Amanda Aouad
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