Grandes Cenas: Watchmen
Por incrível que pareça a "novela das onze" da Rede Globo me inspirou esse tópico. Não é de hoje que diretores de telenovelas utilizam grandes cenas do cinema como referência para suas obras. Em 1999, o final da personagem de Letícia Spiller na telenovela Suave Veneno foi uma cópia do final do filme Telma e Louise, com direito a helicóptero aparecendo no barranco e tudo mais. Na telenovela O Profeta, a situação do filme O Ilusionista foi copiada. O clássico de Hitchcock, Janela Indiscreta também já serviu de inspiração para algumas tramas. Agora foi a vez de Watchmen dirigido por Zack Snyder, que por sua vez já tinha copiado os enquadramentos dos quadrinhos originais de Alan Moore e Dave Gibbons. No dia 04 de agosto, vimos uma versão pobre da morte do Comediante ser reproduzida na morte do personagem Salomão Hayalla. O empresário estava em seu escritório, um ser misterioso chegou, teve uma luta, ele caiu por uma janela de vidro e em primeiro plano um botão aparece na tela enquanto o corpo é jogado no chão. Vejam a cena de O Astro.
Muito melhor trabalhada, a morte do comediante marca o início do filme Watchmen. Não falo nem apenas dos efeitos gráficos como o chroma key que na telenovela foi bastante falho, mas no cuidado dos enquadramentos, movimentos de câmera, e claro, a trilha sonora. Em vez de utilizar a óbvia trilha de terror ou suspense, Zack Snyder nos brinda com Unforgettable. A música vem da televisão que o personagem estaria assistindo, mas constrói um efeito de contraste e ironia incrível, tornando a cena rica em diversos significados simbólicos. Denifitivamente inesquecível. Ele, o Comediante, esquecido pela cidade, um vigilante aposentado com seu chinelo e roupão, mas, ao mesmo tempo inesquecível em uma conjuntura maior. Em um mundo onde os heróis são questionados.
A cena começa com o personagem sentando em sua poltrona com o charuto e uísque nas mãos para assistir televisão. Passa por programas, por canais como a MTV, até chegar nesse clipe. Quando a música Unforgettable começa a tocar e o Comediante relaxa feliz em sua poltrona. Corta para o corredor em um ponto de vista de uma pessoa misteriosa, aproximando-se da porta. É o alerta para o público que de virá algo. Volta para um zoom no rosto do Comediante e em detalhe a sombra na porta se aproximando. Agora o personagem também conhece o perigo.
O som do estrondo da porta sendo arrombada quase emudece a música, que logo retorna. Mas, o bandido está sempre na penumbra. O comediante sabe o que o aguarda, olha a arma que é mostrada, em detalhe, assim como o oponente se preparando. A tensão é grande, mas Unforgettable continua tanto o tom romântico ao fundo, em um contraste incrível. A câmera lenta acompanha a xícara de café sendo derramada e arremessada no oponente. Tudo fica desfocado, só a xícara voando interessa. Detalhe para o número do apartamento onde ela se quebra, era 3001, mas após a xícara fica apenas 300, outro filme de Zack Snyder vindo dos quadrinhos.
A xícara, apenas para distrair o oponente, proporciona ao Comediante poder pegar a arma que já havia sido mostrada no plano anterior. Ele atira na televisão que é mostrada em detalhe com a cartela Nostalgia, em mais uma referência ao significado do filme que vive uma nostalgia de uma época onde os heróis eram importantes. A luta entre os dois, sempre na penumbra com a música de BG dá o tom da cena. Socos e pontapés enquanto Nat King Cole em sua voz melosa reforça que "é incrível que alguém tão inesquecível pense que eu também seja inesquecível". Os cortes são ágeis, em planos curtos, contrastanto ainda mais com a música lenta. O recurso da câmera lenta é utilizado em alguns momentos, para estender o sofrimento do Comediante que mais apanha que bate.
Em determinado momento, o Comediante cai no chão e a câmera baixa mostra a sombra do oponente ainda maior devido ao enquadramento. Outro plano de fora do prédio, mostra o Comediante sendo arremessado no chão, a parede de vidro refletindo os prédios, tendo a cena de dentro da sala como quase uma sombra aumenta a insignificância do Comediante diante da metrópole iluminada que não se abala com sua sina. Além de ser graficamente muito bonito, assim como a lua cheia ao fundo, em outros planos.
Quando não aguenta mais apanhar, o Comediante sangrando diz que aquilo é uma piada, e pede perdão. A câmera foca no broche, um smile que traz no roupão, uma gota de sangue toca a superfície do botão, que se torna para nós mais um símbolo dos Watchmen. Um contraste perfeito entre o sorriso e o sangue. O Comediante cai novamente no chão, a câmera de cima para baixo, demonstrando toda a sua fragilidade. O oponente o carrega e arremessa na janela que se quebra em pedaços jogando-o para fora do prédio. O enquadramento do corpo do Comediante partindo o vidro é o mesmo que está desenhado nos quadrinhos e tem um impacto visual incrível, com a cidade e a lua ao fundo.
A câmera acompanha sua queda e o broche surge, passando pela câmera e ficando em primeiro plano, como se assinasse a cena. Ainda vamos encontrar o corpo do Comediante na calçada com o broche ao lado da poça de sangue que aumenta, enquanto a música finaliza. Uma cena realmente impactante.
Muito melhor trabalhada, a morte do comediante marca o início do filme Watchmen. Não falo nem apenas dos efeitos gráficos como o chroma key que na telenovela foi bastante falho, mas no cuidado dos enquadramentos, movimentos de câmera, e claro, a trilha sonora. Em vez de utilizar a óbvia trilha de terror ou suspense, Zack Snyder nos brinda com Unforgettable. A música vem da televisão que o personagem estaria assistindo, mas constrói um efeito de contraste e ironia incrível, tornando a cena rica em diversos significados simbólicos. Denifitivamente inesquecível. Ele, o Comediante, esquecido pela cidade, um vigilante aposentado com seu chinelo e roupão, mas, ao mesmo tempo inesquecível em uma conjuntura maior. Em um mundo onde os heróis são questionados.
A cena começa com o personagem sentando em sua poltrona com o charuto e uísque nas mãos para assistir televisão. Passa por programas, por canais como a MTV, até chegar nesse clipe. Quando a música Unforgettable começa a tocar e o Comediante relaxa feliz em sua poltrona. Corta para o corredor em um ponto de vista de uma pessoa misteriosa, aproximando-se da porta. É o alerta para o público que de virá algo. Volta para um zoom no rosto do Comediante e em detalhe a sombra na porta se aproximando. Agora o personagem também conhece o perigo.
O som do estrondo da porta sendo arrombada quase emudece a música, que logo retorna. Mas, o bandido está sempre na penumbra. O comediante sabe o que o aguarda, olha a arma que é mostrada, em detalhe, assim como o oponente se preparando. A tensão é grande, mas Unforgettable continua tanto o tom romântico ao fundo, em um contraste incrível. A câmera lenta acompanha a xícara de café sendo derramada e arremessada no oponente. Tudo fica desfocado, só a xícara voando interessa. Detalhe para o número do apartamento onde ela se quebra, era 3001, mas após a xícara fica apenas 300, outro filme de Zack Snyder vindo dos quadrinhos.
A xícara, apenas para distrair o oponente, proporciona ao Comediante poder pegar a arma que já havia sido mostrada no plano anterior. Ele atira na televisão que é mostrada em detalhe com a cartela Nostalgia, em mais uma referência ao significado do filme que vive uma nostalgia de uma época onde os heróis eram importantes. A luta entre os dois, sempre na penumbra com a música de BG dá o tom da cena. Socos e pontapés enquanto Nat King Cole em sua voz melosa reforça que "é incrível que alguém tão inesquecível pense que eu também seja inesquecível". Os cortes são ágeis, em planos curtos, contrastanto ainda mais com a música lenta. O recurso da câmera lenta é utilizado em alguns momentos, para estender o sofrimento do Comediante que mais apanha que bate.
Em determinado momento, o Comediante cai no chão e a câmera baixa mostra a sombra do oponente ainda maior devido ao enquadramento. Outro plano de fora do prédio, mostra o Comediante sendo arremessado no chão, a parede de vidro refletindo os prédios, tendo a cena de dentro da sala como quase uma sombra aumenta a insignificância do Comediante diante da metrópole iluminada que não se abala com sua sina. Além de ser graficamente muito bonito, assim como a lua cheia ao fundo, em outros planos.
Quando não aguenta mais apanhar, o Comediante sangrando diz que aquilo é uma piada, e pede perdão. A câmera foca no broche, um smile que traz no roupão, uma gota de sangue toca a superfície do botão, que se torna para nós mais um símbolo dos Watchmen. Um contraste perfeito entre o sorriso e o sangue. O Comediante cai novamente no chão, a câmera de cima para baixo, demonstrando toda a sua fragilidade. O oponente o carrega e arremessa na janela que se quebra em pedaços jogando-o para fora do prédio. O enquadramento do corpo do Comediante partindo o vidro é o mesmo que está desenhado nos quadrinhos e tem um impacto visual incrível, com a cidade e a lua ao fundo.
A câmera acompanha sua queda e o broche surge, passando pela câmera e ficando em primeiro plano, como se assinasse a cena. Ainda vamos encontrar o corpo do Comediante na calçada com o broche ao lado da poça de sangue que aumenta, enquanto a música finaliza. Uma cena realmente impactante.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: Watchmen
2011-08-16T08:27:00-03:00
Amanda Aouad
grandes cenas|quadrinhos|Zack Snyder|
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